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Enchentes em MG: comerciantes que perderam tudo tentam dar a volta por cima

Pequenos lojistas de cidades mineiras atingidas pelas chuvas contabilizam os prejuízos e dividem o drama de recomeçar sem ajuda, como em Sabará, na Grande BH

Os pés cansados de quem trabalha duro para conseguir o ganha-pão da família hoje estão cobertos de lama. São pequenos comerciantes das cidades atingidas pelas enchentes dos últimos dias em Minas Gerais que começam a fazer a limpeza dos estabelecimentos e passam a contabilizar os estragos.
Em Sabará, Região Metropolitana de Belo Horizonte, lojistas que trabalham próximo ao Rio das Velhas vivem o drama em ter que começar do zero, já que autoridades sequer oferecem recursos para que esses negócios consigam dar a volta por cima.

Um rua é interditada após na quarta-feira (29) após enchentes causadas por fortes chuvas em Belo Horizonte  — Foto: Cristiane Mattos/Reuters

comerciantes limpando o comércio na rua cheia de lama

“Reeguer? Só com trabalho, fé em Deus e vamos lá tocar a vida”, descreve Ezio Rosa de Jesus, de 35 anos. O metalúrgico é filho da proprietária de um bar no Bairro Santo Antônio das Roças Grandes, que chegou a ficar intransitável por conta da cheia do curso d’água entre domingo (9/1) e segunda-feira (10/1). “Nós tínhamos pensado que esse ano não ia encher e acabou enchendo de novo”, lembra da enchente de 2019.

Uma cratera é vista na avenida Tereza Cristina, em Belo Horizonte, após fortes chuvas na terça-feira (28) — Foto: Uarlen Valério/O Tempo via Estadão Conteúdo

No bar que também funciona como restaurante servindo almoço aos trabalhadores da região, a água chegou até o teto: foi prejuízo total. “Perdeu a geladeira, o freezer, fogão industrial, bebida e comida. Agora é recomeçar. Esse é o hobby e ganha-pão da minha mãe”, explica, empenhado em ajudar a lavar a sujeira deixada pelo aguaceiro que passou pela cidade.

Ezio lembra que esse drama não é novo na cidade que ainda teve que conviver – assim como o resto do mundo – com o impacto econômico devido à pandemia do novo coronavírus.
Ezio Rosa de Jesus, de 35 anos
‘Reeguer? Só com trabalho, fé em Deus e vamos lá tocar a vida’, descreve Ezio Rosa de Jesus, de 35 anos
Um carro danificado é visto na quarta-feira (29) após enchentes causadas por fortes chuvas em Belo Horizonte  — Foto: Cristiane Mattos/Reuters

“Chegou nem a completar dois anos que nós perdemos tudo. Quando começamos a reerguer, veio a enchente, depois veio a Covid, e agora que estava dando uma melhorada, veio a enchente novamente”, recorda. “E a gente nem pode contar com ajuda de governo nem prefeitura. É tudo farsa. Mas tudo bem, a gente aperta aqui, aperta ali e volta. Vamos conseguir de novo. Minha mãe é batalhadora”, finaliza.
Planos frustrados
Ao lado do bar está a casa de ração de Angélica Aparecida Baião, de 38 anos. A comerciante estava feliz e cheia de planos há um mês, quando ampliou seu negócio e conseguiu uma loja maior para trabalhar.

casa de ração de Angélica Aparecida Baião, de 38 anos
Angélica Aparecida Baião, de 38 anos, contabiliza os prejuízos na casa de ração

Um carro danificado é visto na quarta-feira (29) após enchentes causadas por fortes chuvas em Belo Horizonte  — Foto: Cristiane Mattos/Reuters
Trinta dias depois, ela assistiu do apartamento de cima sua loja ser inundada por completo. Só deu tempo de resgatar os bichos: patos, coelhos, pássaros e galinhas. Animais que ela comercializava com amor.

“Eu deixei os bichos na prateleira mais alta e tivemos que quebrar a janela para pegá-los”, conta. “Eu comecei meu comércio há um ano e meio e mudei pra cá em dezembro, com mais espaço para mais mercadorias. Veio a enchente e acabou com tudo”, lamenta Angélica. Ela acredita que pode ter tido danos avaliados em R$ 30 mil. “Agora não podemos pensar muito no prejuízo. Daqui pra frente é tudo eu. O prejuízo é todo meu. Sei que a gente não pode esperar nada de governo.”

Região da Avenida Prudente de Morais, BH, tomada pela lama  — Foto: Globocop

Sujeira e bagunça na nova loja de Angélica em Sabara

Colaboração na limpeza
A poucos metros dali, atravessando a ponte sobre o Rio das Velhas, é possível encontrar uma força-tarefa para limpar o primeiro boteco da cidade, ainda na MG-262. Os donos do Bar das Mangueiras contam que o rio começou a subir de nível na sexta-feira (7/1), mas foi na noite de sábado (8/1) para domingo (9) que a água atingiu o estabelecimento.

A poucos metros dali, atravessando a ponte sobre o Rio das Velhas, é possível encontrar uma força-tarefa para limpar o primeiro boteco da cidade, ainda na MG-262. Os donos do Bar das Mangueiras contam que o rio começou a subir de nível na sexta-feira (7/1), mas foi na noite de sábado (8/1) para domingo (9) que a água atingiu o estabelecimento.
Comerciantes no Bairro Rosário fazem limpeza da sujeira

Cratera aberta na Avenida Tereza Cristina por causa do temporal 16h25 — Foto: Globocop
Como o comércio está na parte mais alta do leito do rio, já no bairro Rosário, a água alcançou aproximadamente um metro de altura – o suficiente para deixar estragos.

“Hoje estamos fazendo mutirão de limpeza para ver o que dá pra recuperar. Nossa sorte é que a gente colocou muita coisa pra cima, mas mesmo assim perdemos muita coisa, muitas cadeiras quebraram, a sinuca também, tem muita coisa pra gente avaliar daqui pra frente. Tomara que não tenha perdido muita coisa”, diz a comerciante Luciana Regina Lopes Moreira, de 51 anos.

Avenida Tereza Cristina tomada por lama e com asfalto totalmente destruído — Foto: Globocop
força-tarefa para limpar o primeiro boteco da cidade, ainda na MG-262, o Bar das Mangueiras
Comerciante Luciana Regina Lopes Moreira tem esperança de recomeçar

“Meu marido trabalha aqui há 40 anos, desde que era do pai dele. Agora a gente tá pensando que toda vez que começar a chover, vamos ter que tirar tudo daqui de dentro”, prevê, preocupada com a recuperação. “Agora é trabalhar, né? Começar tudo de novo.”
Chuvas em Sabará

Sabará ficou com diversos pontos alagados e algumas regiões com muita lama após as fortes chuvas do final de semana. Lama, prejuízos em casas e comércios, pista escorregadia e muita preocupação é o cenário que ainda se repete mesmo após a baixa do nível do rio. Pelas ruas é possível ver funcionários da prefeitura e voluntários fazendo aos poucos a limpeza da cidade.

Moradores ainda seguem com dificuldade para sair para trabalhar: a ponte de General Carneiro que liga o bairro à MG-262 e também dá acesso ao Centro Histórico de Sabará e a BH, está interditada devido a rachaduras na estrutura. Ainda não há previsão para liberação das estruturas pela Defesa Civil e Corpo de Bombeiros.

Barão Homem de Mello com Silva Lobo, em BH 16h28 — Foto: Globocop

Sujeira em Sabará e tratores fazendo limpeza
Acessos estão bloqueados e passando por limpeza em Sabará

O Centro Histórico e demais regiões da cidade seguem com muito barro e tratores tentam fazer o escoamento da sujeira, mas o trânsito segue complicado em diversas ruas. Na área central, algumas vias seguem em “pare e siga” com ajuda de agentes da Guarda Municipal. Na praça do Esporte, o nível da água do Rio Sabará permanece alto e a recomendação é que se evite a região.

Durante a madrugada de domingo para segunda, o Corpo de Bombeiros resgatou quatro pessoas que estavam ilhadas em seus veículos, um carro e um caminhão, na Avenida Beira Rio, próximo a BR-381. Segundo o sargento Alexandre Márcio Neves, as vítimas estavam bem e nenhuma corria risco de morte. Os militares utilizaram um barco a remo para retirar as vítimas.

Carro pendurado perto do Morro das Pedras, BH — Foto: Globocop

A reportagem entrou em contato com o Governo de Minas para saber se haverá alguma ajuda aos comerciantes que sofreram com as chuvas em Minas e não obteve retorno até a publicação desta reportagem.

Fonte G1.
Redação Gdsnews.

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