Lula (PT) e Bolsonaro (PL) lideram as intenções de voto e o índice de rejeição na corrida presencial Foto: Arte / Agência O Globo
Levantamento do GLOBO a partir do banco de dados do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop/Unicamp), Datafolha, Ibope e Ipec revela que, pela primeira vez, um dos dois pré-candidatos mais bem colocados na preferência popular, o presidente Jair Bolsonaro (PL), ultrapassa a barreira dos 50% de rejeição em meados do ano eleitoral.
Apesar de níveis que, em outras eleições, seriam proibitivos, a rejeição a Bolsonaro não anula sua competitividade. Do mesmo modo, ainda que em patamares menos elevados, a reprovação a Lula também não significa alto risco de derrota.
Resultados diferentes
Um dos fatores mais relevantes para essa coincidência entre rejeição e intenção de voto é que ambos são extremamente conhecidos pela população e estabeleceram o cenário inédito, desde a redemocratização, de um presidente tentando a reeleição contra um ex-presidente. Apesar de os entrevistados responderem que não votariam “de jeito nenhum” em certo candidato, no dia a dia da opinião pública há possibilidades, sim, de votar no seu rejeitado.
— As rejeições não são estáticas e vão mudando ao longo da campanha para mais ou menos, em função das informações que eleitores recebem e dos fatos que ocorrem. O candidato terá o amor e o ódio, depende da eficácia da campanha — explica Márcia Cavallari, CEO do Ipec, empresa fundada por ex-executivos do Ibope, acrescentando. — Além disso, existe outra forma de medir rejeição, a que investiga o potencial de voto.
— Ao responder um por um, o entrevistado não está buscando ser coerente com ele mesmo, a avaliação é sobre cada político. Esses dados são importantes. Por exemplo, conseguimos cruzar os votos que chamamos de preferenciais, quando mais de um candidato é escolhido no “com certeza votaria”, e os exclusivos, dos respondentes que só escolheram um político para votar sem dúvidas — diz Márcia.
Diretor do Cesop/Unicamp, o cientista político Oswaldo do Amaral explica que rejeição e identificação são duas variáveis que caminham juntas e espelham tanto exposição quanto o próprio protagonismo de cada político na vida pública. Em um cenário de eleição com rejeição alta, portanto, a avaliação sobre o atual governo será de fundamental importância.
— A rejeição a Bolsonaro não é apenas sobre ele, mas embute a avaliação de seu governo. O resultado acima de 50%, que é muito alto, impediria eleição, mas isso pode mudar porque a avaliação do governo também pode ser diferente. Por outro lado, a rejeição a Lula deve aumentar também, com reativação de uma série de elementos como corrupção, antipetismo e agenda de costumes.
As pesquisas qualitativas, por outro lado, já mostram um fenômeno que pode embaralhar os dados sobre rejeição. Especializado nessa técnica, Renato Dorgan, do Instituto Travessia, tem notado um movimento pendular de eleitores que oscilam entre Lula e Bolsonaro:
— No Acre, entrevistei uma senhora evangélica, de 55 anos, apoiadora de Lula. Após ler declaração dele sobre “direito” ao aborto, mudou para Bolsonaro. Um eleitor bolsonarista de Manaus, de 35 anos, disse ter sido militante do presidente, mas, após perder a mãe, a tia e um irmão por Covid, afirmou não conseguir mais defendê-lo. Apesar de ter xingando Lula por dez anos, agora votará nele.
Ulysses ‘herdou’ Sarney
Na retomada do voto direto para presidente, em 1989, o ex-presidente da Câmara Ulysses Guimarães (PMDB) foi o recordista de rejeição em agosto daquele ano. O cientista político Carlos Melo, professor do Insper, afirma que Ulysses pagou um preço naquela disputa por ser associado ao governo do então presidente, José Sarney, também do PMDB. O país vivia, na época, um cenário de hiperinflação com recessão. Diferentemente de Bolsonaro hoje, Ulysses, apesar da rejeição, beirava 3% das intenções de voto.
Na campanha petista, a rejeição a Lula é atribuída ao cenário de polarização. A avaliação é que o eleitor do atual presidente, em razão do clima de radicalização, está contra Lula de forma automática. Os petistas reconhecem que Lula enfrenta um desgaste também por causa do noticiário relacionado à Lava-Jato e à sua prisão, mas acreditam que, com o tempo, o impacto das denúncias arrefeceu.
A resposta petista a ataques bolsonaristas será trazer a discussão para o campo econômico, principalmente o custo de vida. Caso o atual presidente opte por rememorar denúncias de corrupção, os petistas também pretendem mostrar casos que envolvem Bolsonaro e seus familiares.
No lado bolsonarista, há um entendimento de que o presidente precisa mesmo reduzir a sua rejeição, atribuída à má avaliação do governo. Os patamares são considerados altos, e há planos para revertê-los. A aposta é que o governo vai conseguir dar resposta para a crise econômica com pacotes de bondades e foco principal em mulheres e jovens.
Já Doria pretende apelar ao humor para reverter sua imagem de “almofadinha”. Aliados do tucano dizem que a sua rejeição é pessoal e não resultado de uma má avaliação de seu governo em São Paulo.
Apesar de ser sua quarta campanha ao Planalto, Ciro Gomes (PDT) tem nível considerável de desconhecimento. Pesquisa de potencial de voto do Ipec de fevereiro de 2021 mostrou 53% dizendo que nunca votariam nele, mas outros 20% afirmaram não conhecê-lo bem, o que acaba por mascarar sua real rejeição.