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Delator afirma que Witzel tinha cota de 20% da propina arrecadada na Saúde

Informações do ex-secretário de saúde Edmar Santos estão na base do pedido que levou ao afastamento do governador

O governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel concede coletiva de imprensa sobre o coronavírus. Atrás dele, o então secretário da saúde Edmar Santos – Foto de Eliane Carvalho do Governo do Rio

Marcelo Rocha

BRASÍLIA

O ex-secretário de Saúde do Rio de Janeiro Edmar Santos disse ao MPF (Ministério Público Federal) que os recursos desviados da pasta iam para um caixa único e um montante de 20% era destinado ao governador fluminense, Wilson Witzel (PSC).

Santos fechou acordo de delação premiada com a procuradoria e as informações por ele prestadas estão na base do pedido que culminou nesta sexta-feira (28) com o afastamento do governador do cargo, decretado pelo ministro Benedito Gonçalves, do STJ (Superior Tribunal de Justiça).

“Que os recursos auferidos ilicitamente iriam para um caixa único; Que tal caixa único seria distribuído da seguinte forma: 30% para o colaborador [Santos]; 20% para o governador Wilson Witzel”, diz um trecho da delação premiada.

O governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel concede coletiva de imprensa sobre o coronavírus. Atrás dele, o então secretário da saúde Edmar Santos – Eliane Carvalho/Governo do Rio

Ainda de acordo com o Santos, ao Pastor Everaldo (PSC-RJ), padrinho político de Witzel e preso nesta sexta-feira pela Polícia Federal, era destinado 20% do que fosse arrecadado.

O colaborador afirmou à procuradoria que os responsáveis pela operação do esquema criminoso, ambos ligados a Everaldo, decidiram que as vantagens ilícitas a serem captadas na Saúde seriam cobradas em duas áreas: nas organizações sociais e nos “restos a pagar”.

Essa escolha, segundo Santos, tinha o objetivo de despistar os ilícitos das autoridades porque seriam áreas na estrutura da Saúde menos visadas.

Santos afirmou que aos operadores, segundo ele Edson Torres e Victor Hugo Barroso, era reservada a casa uma cota de 15% do arrecadado.

Narrou ainda o delator ao MPF que Torres lhe teria confidenciado que o governador do Rio “recebia [propina] de todas as secretarias”.

De acordo com a colaboração, “um dos ‘argumentos’ utilizados para que a propina fosse cobrada era o fato de que Edson e Victor tinham dado dinheiro para ajudar a eleger o governador Wilson Witzel” e a cobrança seria uma forma de ressarcir os valores que haviam sido empregados.

O delator afirmou à procuradoria que Victor Barroso fez um aporte de R$ 8 milhões para a campanha do governador e que, em razão disso, foi concedido a ele “posição privilegiada” para arrecadar valores em contratos firmados pela administração estadual.

A defesa Witzel afirmou, em nota, que recebeu com “grande surpresa” a decisão de afastá-lo do cargo de governador do estado do Rio de Janeiro.

“A defesa recebe com grande surpresa a decisão de afastamento do cargo, tomada de forma monocrática e com tamanha gravidade. Os advogados aguardam o acesso ao conteúdo da decisão para tomar as medidas cabíveis”, disse a defesa em nota.

O delator disse que, durante o período eleitoral, em razão dos bons resultados de sua gestão à frente do Hospital Universitário Pedro Ernesto teve, do qual foi diretor, cinco candidatos ao governo do Rio fizeram visitas àquela unidade de saúde durante a campanha, incluindo Witzel.

Foi nesta ocasião, segundo ele, que conheceu o governador e sua mulher, Helena Witzel. “Que fez visita guiada do hospital a Wilson e Helena; Que os dois elogiaram bastante a qualidade do hospital e a gestão do colaborador”, narra um trecho da delação.

O colaborador afirmou que não houve convite ou oferecimento de vantagem indevida nesse momento, e que passada a eleição, ainda na transição, ele recebeu ligação via WhatsApp de Edson Torres para ser aviso que era um dos candidatos a secretário de Saúde.

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