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Palmeiras e Santos jogam para se eternizar em Libertadores extraordinária

Time alviverde busca o bi, e alvinegro, o tetra num Maracanã esvaziado pela pandemia

Bruno Rodrigues

Da FOLHA NO RIO DE JANEIRO

Diferente, singular, histórica. São todos adjetivos que cabem como definição para a Copa Libertadores de 2020, que terá o seu encerramento neste sábado (30), às 17h, no Maracanã (SBT e Fox Sports transmitem).

Palmeiras e Santos decidirão o título de campeão da América após terem disputado uma competição em circunstâncias muito particulares. A Covid-19, que paralisou momentaneamente a Libertadores e tirou torcedores dos estádios, será o fio condutor indissociável na hora de contar, para as gerações futuras, a história desta edição do torneio continental.

Não que as últimas finais de Libertadores tenham sido marcadas pela calmaria.

A final prévia ao Maracanã também não passou incólume. Marcada inicialmente para Santiago, foi retirada do Chile em razão da convulsão social e política vivida no país no fim de 2019. Da capital chilena, a partida foi para a capital peruana, Lima, e marcou a primeira Libertadores com final únicaconsagrando o Flamengo como bicampeão.

Desta vez, porém, praticamente toda a trajetória da Copa Libertadores foi escrita sob condições extraordinárias. Se “raça” é um dos termos frequentemente utilizados como narrativa para o campeonato, a partir de março de 2020 a palavra que dominou o protagonismo, e não só no futebol, foi “pandemia”.

A cobiçada taça da Libertadores, no Maracanã, palco da disputa deste sábado A cobiçada taça da Libertadores, no Maracanã, palco da disputa deste sábado – @conmebol no Instagram

As restrições sanitárias privaram palmeirenses e santistas de acompanharem de perto duas campanhas memoráveis e afetadas diretamente pelo coronavírus.

Os dois técnicos finalistas, Cuca e Abel Ferreira, foram acometidos pela doença e perderam partidas da competição pela necessidade de cuidados médicos e isolamento. O santista, inclusive, chegou a ficar internado em uma unidade semi-intensiva e teve lesões no pulmão e uma hepatite.

O goleiro John, do Santos, terminou o jogo de ida da semifinal sem ser vazado e ajudou a equipe a levar um bom resultado para o duelo na Vila. Mas antes de voltar ao Brasil, descobriu que estava com Covid-19. Para o segundo confronto da semi, diante do Boca Juniors, o arqueiro deu lugar a João Paulo, que também havia sido infectado em outro momento da temporada.

Capitão do Santos, Alison também contraiu o vírus há duas semanas e ficou afastado, mas se diz pronto para a decisão contra o Palmeiras.

Camisas de Santos e Palmeiras expostas atrás de um dos gols do Maracanã, palco da final da Libertadores entre as duas equipesCamisas de Santos e Palmeiras expostas atrás de um dos gols do Maracanã, palco da final da Libertadores entre as duas equipes – @conmebol no Instagram

“Eu estou bem, acabei testando positivo no dia 15, a gente cumpriu todo o protocolo corretamente com o apoio do clube. Fiz os exames que tinham que ser feitos e estou me sentindo bem. Venho treinando com o grupo e estou 100% para jogar”, afirmou o volante nesta sexta (29), em entrevista coletiva no Maracanã.

Com a confirmação de sua presença, nenhuma das equipes possui desfalques em relação aos times titulares que vêm começando as últimas partidas. Os técnicos deixaram em aberto suas escalações.

Com a distância que a pandemia criou entre o que aconteceu no campo e seus torcedores, se colocar na pele de um alviverde permite imaginar como teria sido viajar a Avellaneda e ver o Palmeiras golear o River Plate de Marcelo Gallardo por 3 a 0. Pensar no drama do jogo da volta, em São Paulo, no qual os argentinos estiveram bem próximos de uma remontada épica, mas pararam em Weverton e nos acertos do VAR.

Para os alvinegros, teria sido especial acompanhar de perto a vitória contundente da equipe sobre o Grêmio, nas quartas de final, quando o Santos abriu o placar com apenas 11 segundos de jogo e encaminhou a classificação.

Uma euforia que precisou ser extravasada de casa, assim como na goleada por 3 a 0 sobre o Boca, algoz da última final do clube, em 2003. Ambos triunfos numa Vila Belmiro de arquibancadas vazias.

Anos de espera para voltar a uma decisão, além da possibilidade de disputar um Mundial, e a enorme maioria desses torcedores não poderá estar no Maracanã para ver o tetracampeonato santista (após 1962, 1963 e 2011) ou o bicampeonato palmeirense (após 1999).

“Sempre ouvi falar do Maracanã como templo do futebol. É uma oportunidade única, um prazer, uma emoção estar aqui e disputar um título. O Maracanã significa isso, o templo do futebol. Mas o templo não estará cheio. Alguns torcendo para o Palmeiras, outros para o Santos, e cada um torcendo de sua casa”, disse um orgulhoso Abel Ferreira, em entrevista coletiva nesta sexta (29), no próprio estádio.

Para minimizar a frieza do espetáculo sem torcida, a Conmebol autorizou que, além de convidados da entidade, os clubes presenteassem alguns de seus sócios e funcionários com credenciais para acompanharem a partida de dentro do palco carioca.

Por isso a emoção dos 11 sócios-torcedores do Palmeiras quando o técnico Abel Ferreira ligou para avisá-los de que eles estariam no Rio este sábado, pertinho da equipe.

A mesma emoção –e também incredulidade— de alguns dos 25 sócios-torcedores do Santos que receberam a chamada do zagueiro Luan Peres, convidando-os para estarem com o clube no Maracanã.

“Nossas famílias estarão aí, liberaram alguns ingressos, mas quase nada. Vai ser uma final diferente, e estamos mentalizados e focados porque nosso sonho está logo aí, a 90 minutos”, declarou o capitão palmeirense Gustavo Gómez.

Nos dias que antecederam a final, torcedores dos dois times travaram no Twitter uma batalha de hashtags que ajudaria a definir a cor da iluminação da cobertura do Maracanã. Verde, conforme os palmeirenses se engajassem, e azul, de acordo com a participação santista.

O engajamento virtual não diminui a distância enfrentada pelos milhões de outros torcedores que não puderam ver seus times em campo, mas de alguma forma dá a eles uma pequena possibilidade de contribuir, ainda que em uma brincadeira, com a arrancada de seus times rumo ao título.

Em algumas décadas, quando a memória começar a trair as lembranças dos grandes times e dos grandes craques, a Copa Libertadores de 2020 será uma recordação ímpar e que certamente irá se destacar perante as outras.

Talvez não com os detalhes de quem fez os gols, ou de quais foram os adversários na caminhada até a conquista, mas por essa condição particular que permeou toda a disputa e pela privação de não poder estar junto, torcendo.

O título será eterno, porque mesmo que ambos já tenham conquistado a taça antes, a da edição de 2020 será única.​

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