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Taiwan acusa a China de cruzar limites marítimos com navios e aviões de guerra

Segundo dia de exercícios chineses envolve forças aéreas e navais no estreito que separa a ilha do continente

Em protesto pela visita da presidente da Câmara dos EUA a Taiwan, a China realizou o seu segundo dia consecutivo de exercícios militares de cerco à ilha. Enquanto, na véspera, mísseis balísticos sobrevoaram o território autogovernado pela primeira vez, nesta sexta-feira as Forças Armadas chinesas executaram manobras conjuntos, combinando caças e navios de guerra.

Nas primeiras horas da manhã, “vários grupos de aeronaves e navios de combate realizaram exercícios ao redor do Estreito de Taiwan e cruzaram a linha média do estreito”, disse o Ministério da Defesa de Taiwan em comunicado. “Este exercício militar chinês, seja lançando mísseis balísticos ou cruzando a linha média do estreito, é um ato altamente provocativo”, acrescentou.

O ministério taiwanês disse ter contabilizado 68 aeronaves militares e 13 navios de guerra chineses realizando atividades frequentes no Estreito de Taiwan — que separa a ilha do continente e tem 180 quilômetros em sua extensão máxima — e seu entorno. Segundo o órgão, alguns equipamentos, mas não todos, cruzaram a linha central do estreito e “prejudicaram seriamente a situação atual”.

O comunicado das autoridades em Taipé também diz que a situação está sob monitoramento, e o “Exército Nacional tomará medidas resolutas para salvaguardar a segurança nacional e garantir a democracia”.

Já era esperado que, após o lançamento de mísseis, a China buscasse efetuar exercícios combinando diferentes armas. Estas manobras são consideradas menos chamativas, porém mais complexas. Elas buscam testar a capacidade de impor um bloqueio sobre Taiwan.

A China ainda não se manifestou a respeito dos exercícios mais recentes.

Nesta sexta, a mídia estatal em Pequim destacou que, na véspera, mísseis balísticos chineses sobrevoaram Taiwan como parte de seus exercícios, confirmando uma informação do Ministério da Defesa do Japão reiterada por Taipé. A ação é inédita e considerada muito provocativa.

Trajetória dos mísseis lançados pela China — Foto: Ministério da Defesa do Japão

Pelosi foi a primeira pessoa em seu cargo a visitar Taiwan desde 1997. Em 1979, quando reataram relações com Pequim, os EUA reconheceram o princípio de “uma só China” e não mantêm relações diplomáticas formais com a ilha, embora forneçam armas ao território.

Os exercícios chineses vão até domingo. Em paralelo às atividades militares, a China impôs punições econômicas contra Taiwan, e, nesta sexta-feira, anunciou também retaliações políticas contra os Estados Unidos, suspendendo sua cooperação em diversos âmbitos.

Também nesta sexta, um porta-voz do Exército de Libertação Popular (ELP) disse que a China realizou “rastreamento e vigilância” da aeronave de transporte C-40 da Força Aérea dos EUA, que transportou Pelosi para Taiwan de Kuala Lumpur, na Malásia, forçando o piloto a desviar para o Leste das Filipinas em vez de atravessar o Mar do Sul da China.

— Nossas tropas destacadas em vários locais se tornaram um impedimento para [o avião]— disse o major-general Meng Xiangqing, professor da Universidade de Defesa Nacional, a principal academia do ELP.

Meng não detalhou quais medidas o ELP tomou para o “rastreamento e vigilância”. Ele também disse que o anúncio do ELP de exercícios na costa leste de Taiwan obrigou o grupo de ataque do porta-aviões americano USS Ronald Reagan, que estava perto da área para proteger Pelosi, a navegar para centenas de quilômetros a leste da ilha.

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“Reação exagerada”

Washington acusou Pequim de ter reagido “exageradamente” à visita de Pelosi e alertou que seu porta-aviões USS Reagan continuará “monitorando” os arredores de Taiwan. Os Estados Unidos também anunciaram que adiaram um teste de mísseis intercontinentais “para evitar uma maior escalada de tensões”, segundo o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby.

As manobras de Pequim incluíram “disparos de mísseis convencionais” nas águas da costa leste de Taiwan, disse Shi Yi, porta-voz das Forças Armadas chinesas.

O primeiro-ministro de Taiwan, Su Tseng-chang, pediu a seus aliados que pressionem pelo fim da tensão na região.

— Não esperávamos que o vizinho mostrasse seu poder em nossos portões e pusesse em perigo arbitrário as rotas marítimas mais movimentadas do mundo com seus exercícios militares — disse Su.

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Por sua vez, Pelosi afirmou em Tóquio, última parada de sua turnê asiática, que os Estados Unidos “não permitirão” que a China isole Taiwan.

Manifestantes pró-Pequim pisaram em cartazes com a foto de Nancy Pelosi, em um protesto em frente ao consulado dos EUA, em Hong Kong — Foto: Peter PARKS/AFP

Manifestantes pró-Pequim pisaram em cartazes com a foto de Nancy Pelosi, em um protesto em frente ao consulado dos EUA, em Hong Kong — Foto: AFP

— Eles podem tentar impedir que Taiwan visite outros lugares, mas não vão isolar Taiwan impedindo-nos de viajar para lá — disse Pelosi.

O Japão pediu uma “cessação imediata” das manobras chinesas, após indicar na véspera que cinco mísseis caíram em sua zona econômica exclusiva (ZEE). O primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, condenou o disparo de mísseis, chamando de “uma questão séria que afeta nossa segurança nacional e a segurança de nossos cidadãos”.

Desvio de voos

Os exercícios militares acontecem em algumas das rotas marítimas mais movimentadas do planeta, por onde são transportados, por exemplo, equipamentos eletrônicos vitais de fábricas no Sudeste Asiático para os mercados mundiais.

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O Escritório Marítimo e Portuário de Taiwan emitiu alertas para os navios que circulam nessa área, e várias companhias aéreas internacionais disseram que desviariam seus voos para evitar o espaço aéreo da ilha.

Turistas presenciam helicópteros militares chineses sobrevoam a Ilha de Pingtan, na província de Fujian, um dos pontos do litoral chinês mais próximos de Taiwan — Foto: HECTOR RETAMAL / AFP

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Turistas presenciam helicópteros militares chineses sobrevoam a Ilha de Pingtan, na província de Fujian, um dos pontos do litoral chinês mais próximos de Taiwan — Foto: AFP

Helicóptero militar chinês sobrevoa a ilha de Pingtan, um dos pontos mais próximos entre China e Taiwan, na província de Fujian — Foto: Hector RETAMAL/AFP

Helicóptero militar chinês sobrevoa a ilha de Pingtan, um dos pontos mais próximos entre China e Taiwan, na província de Fujian — Foto: AFP

Telão no centro de Taipé mostra míssil disparado durante exercício militar da China em Taiwan — Foto: AFP

— Fechar essas rotas marítimas, mesmo que temporariamente, tem consequências não apenas para Taiwan, mas também para os fluxos comerciais ligados ao Japão e à Coreia do Sul — disse Nick Marro, analista sênior de comércio global da Economist Intelligence Unit.

A hipótese de uma invasão de Taiwan, com 23 milhões de habitantes, é improvável. Mas desde a eleição, em 2016, da atual presidente, Tsai Ing-wen, as ameaças de realizá-la aumentaram. Tsai, que pertence a um partido pró-independência, se recusa a reconhecer que a ilha e o continente fazem parte de “uma só China”.

Nos últimos anos, multiplicaram-se as visitas a Taipé de autoridades e legisladores estrangeiros, o que aumentou a indignação de Pequim. Em resposta, a China tenta isolar Taiwan diplomaticamente e aumenta a pressão militar sobre a ilha. Apenas 14 países mantêm relações diplomáticas formais com Taipé.

 

Fonte G1.

Redação Gdsnews.

 

 

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