Segundo a edição de hoje do Diário Oficial da União (DOU), Bento foi exonerado a pedido do próprio. Entretanto, o ministro, que ano passado enfrentou o desafio de encarar a crise hídrica evitando o apagão energético no país, estava enfrentando críticas quase que diárias de Bolsonaro pela alta no preço dos combustíveis.
A questão da alta dos combustíveis é considerada crucial no governo. Além de ser um dos principais motivos para a disparada da inflação, que está no maior patamar desde 1996, os preços da gasolina, do diesel e do gás afetam diretamente a popularidade de Bolsonaro, que tenta a reeleição.
No governo o tema é considerado prioridade no núcleo político, que tenta formas de reduzir estas altas ou criar mecanismos para compensar os preços elevados, como alívio para os caminhoneiros.
Exoneração do ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, no DOU Foto: Reprodução
Reajuste do diesel e lucro bilionário
Na live do último dia 5, Bolsonaro criticou o lucro da Petrobras, chamando-o de absurdo e abusivo. “O lucro de vocês é um estupro, é um absurdo”, declarou o presidente.
A saída de Bento ocorre dois dias depois de a Petrobras anunciar um reajuste no preço do diesel nas refinarias em 8,87%. Este ano, o combustível já acumula alta de 47%. O preço da gasolina nas bombas também está em patamar recorde.
A Petrobras registrou lucro de R$ 44,561 bilhões no primeiro trimestre deste ano, uma alta de mais de 3.700% em relação ao mesmo período do ano passado, quando a empresa ainda sofria os impactos da pandemia. A disparada do preço do petróleo por causa da guerra na Ucrânia tem feito petrolíferas do mundo inteiro a registrarem lucros recordes. (CONTINUA DEPOIS DAS FOTOS).
Cristiano Rocha Heckert, que comandava a Secretaria de Gestão, deixou o cargo em janeiro de 2022 para assumir como diretor-presidente da Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal do Poder Executivo (Funpresp-Exe) Foto: Divulgação
Gustavo José Guimarães e Souza também pediu demissão do cargo de secretário de Avaliação, Planejamento, Energia e Loteria (Secap) em janeiro de 2022 para ocupar uma função no Legislativo Foto: Divulgação/Ministério da Economia
O secretário especial de Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal, pediu demissão em outubro de 2021 logo após o governo anunciar a criação do Auxílio Emergencial com parte dos pagamentos fora do teto de gastos, algo que ele sempre se disse contra Foto: Washington Costa / Ascom/ME
O secretário do Tesouro Nacional, Jeferson Bittencourt, pediu demissão em outubro de 2021 junto com o secretário especial Bruno Funchal, a quem sucedeu no cargo no mesmo ano Foto: Aílton de Freitas / 20-12-2013
Gildenora Batista Dantas Milhomem, secretária especial adjunta de Tesouro e Orçamento, também pediu exoneração de seu cargo junto com Funchal, em outubro de 2021, alegando razões pessoais, em meio à crise aberta pelo projeto do Auxílio Brasil com recursos fora do teto de gastos Foto: Ministério da Economia / Reprodução
O secretário-adjunto do Tesouro Nacional, Rafael Cavalcanti de Araujo, também pediu exoneração de seu cargo em outubro de 2021 após a debandada provocada pelo plano de financiar o programa social Auxílio Brasil fora do teto de gastos Foto: Hoana Gonçalves / Agência O Globo
Insatisfeito com o atraso no envio da reforma administrativa ao Congresso, Paulo Uebel deixou o cargo de Secretário especial de Desburocratização em agosto de 2020 Foto: Fátima Meira / Agência O Globo
Após a crise causada pela sanção do Orçamento de 2021, o ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciou a saída de Waldery Rodrigues do cargo de secretário especial da Fazenda, em 27 de abril, a pedido do secretário. O secretário informou que combinou a substituição em dezembro do ano anterior Foto: Ascom / Edu Andrade/ME
Na dança de cadeiras do Ministério da Economia, o secretário de Orçamento Federal, George Soares, também deixou o cargo. Foto: Agência Brasil
A advogada tributarista Vanessa Canado, assessora especial do Ministério da Economia voltada à reforma tributária, pediu demissão, mas não detalhou o motivo da saída Foto: Silvia Zamboni / Valor
Presidente do BB, André Brandão, entregou o cargo no dia 18 de março. Programa de reestruturação de Brandão desagradou ao presidente Bolsonaro Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil
O presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, deixa o cargo no dia 20 de março, após desagradar a Bolsonaro com reajustes de combustíveis. Ele foi indicado por Guedes Foto: AFP
Sem conseguir tirar do papel várias privatizações, Salim Mattar pediu demissão do cargo de secretário de Desestatização do Ministério da Economia em agosto de 2020 Foto: Amanda Perobelli / Reuters
Rubem Novaes pediu demissão da presidência do Banco do Brasil em julho de 2020, após queixas sobre pressão política sobre o banco, cuja privatização chegou a defender Foto: Claudio Belli / Valor/14-2-2019
Ex-ministro da Fazenda no governo Dilma, Joaquim Levy só ficou no cargo de presidente do BNDES até junho de 2019, após críticas públicas de Bolsonaro, que queria abrir a “caixa preta” do banco Foto: Marcos Corrêa / PR/13-06-2019
Nome forte das contas públicas e um dos criadores do teto de gastos, Mansueto Almeida deixou o comando do Tesouro Nacional e foi para o BTG Foto: Adriano Machado / Reuters
Marcos Cintra deixou a chefia da Receita Federal após insistir na defesa de um imposto sobre transações financeiras, nos moldes da antiga CPMF. Uma ideia fixa de Guedes Foto: Leo Pinheiro / Valor/2016
O economista Marcos Troyjo trocou o cargo de Secretário especial de Comércio Exterior pela presidência do New Development Bank, conhecido como o Banco dos Brics, por indicação do governo brasileiro Foto: Carlos Ivan / Agência O Globo 23-10-2012
Caio Megale deixou o cargo de diretor na Secretaria Especial de Fazenda em julho de 2020. Recentemente foi anunciado como novo economista-chefe da XP Investimentos Foto: Washington Costa / SEPEC/ME/15/01/2019
O secretário especial de Produtividade e Competitividade, Carlos da Costa, deixará o cargo para assumir o posto de adido de comércio em Washington Foto: Agência O Globo
O secretário da Receita Federal, José Tostes, deixará o país. Ele será adido do governo na OCDE, em Paris Foto: Edu Andrade / Ministério da Economia
Jair Bolsonaro decide demitir o presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna, segundo integrantes do governo, em meio à pressão por conta do aumento no preço dos combustíveis, e depois de críticas feitas pelo governo e pelo Congresso à estatal Foto: Antônio Cruz / Agência Brasil
O Ministério das Minas e Energia também tem desafios também no setor de energia elétrica. Se Bento Albuquerque conseguiu evitar o apagáo na crise hídrica do ano passado, hoje tem de enfrentar uma disparada nos custos do setor.
Muitas distribuidoras estão tendo reajustes na ordem de 20%, o que gera preocupação com impactos eleitorais. No Congresso, já há um movimento para tentar adiar estes reajustes, o que teria forte impacto econömico em 2023 e na imagem do país, que pode ser visto como uma economia que não respeita contratos.
Quem é o novo ministro
O novo ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, está no governo de Jair Bolsonaro desde o início e é servidor de carreira do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Nos últimos anos, Sachsida mantinha o discurso de consolidação fiscal dentro do Ministério da Economia e defendia reformas pró-mercado com foco em aumento de produtividade.
Adolfo Sachsida, ex-secretário de Guedes, vai assumir o Ministério de Minas e Energia Foto: Agência O Globo
Foi secretário de Política Econômica da pasta e, em fevereiro, assumiu a chefia da Assessoria Especial de Assuntos Estratégicos.
Doutor em economia pela Universidade de Brasília (UnB), ele tem pós-doutorado pela Universidade do Alabama, nos Estados Unidos, e também lecionou na Universidade do Texas. O novo ministro é advogado, com estudos na área de direito tributário.
Sachsida evitava tecer muitos comentários sobre assuntos que não eram ligados diretamente à sua área de atuação. Em evento da Frente Parlamentar de Empreendedorismo (FPE), na terça-feira, véspera de sua nomeação, não respondeu aos jornalistas sobre a alta mais recente do preço do diesel.
Mas, em 4 de março, quando participou de entrevista coletiva sobre o resultado do PIB, Sachsida foi questionado sobre a expansão do vale-gás e disse que algumas medidas podem ter boas intenções, mas gerar resultado negativo.
— Algumas vezes as medidas têm boas intenções, mas terminam com resultado negativo. Temos de tomar muito cuidado para que as medidas tomadas não agravarem a situação. Por isso a economia se posiciona contra determinadas medidas, pois apesar da intenção ser boa, o resultado pode ser ruim. Temos de trabalhar para que o resultado também seja bom — disse ele na ocasião. (Continua depois das fotos)
Petrobras vendeu a Refinaria Landulpho Alves (RLAM), localizada no Recôncavo Baiano, e mais sete unidades de refino, para para fundo árabe por US$ 1,6 bi. Foto: Geraldo Kosinski / Agência O Globo
Primeira refinaria do Brasil, a RLAM completou 70 anos prestes a ser vendida. A unidade tem capacidade de produção de 333 mil barris/dia. Foto: Saulo Cruz / MME
A estatal suspendeu o processo de venda da Refinaria Abreu e Lima (RNEST), e decidiu investir US$ 1 bi na unidade, que iniciou suas operações em 2014. Está localizada no Complexo Industrial Portuário de Suape, distante 45 km do Recife, em Pernambuco. Foto: Wilton Junior / Agência O Globo
A RNEST, que foi alvo da Lava-Jato, tem capacidade de processamento de 230 mil barris de petróleo por dia. Nesta unidade, são produzidos derivados de petróleo, como nafta, diesel e gás liquefeito de petróleo (GLP) Foto: Reprodução/Site da Petrobras
A Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), no Paraná, tem capacidade de processamento de 33 mil m³ de petróleo por dia. Segundo fontes, os grupos Ultra, dono dos postos Ipiranga, e Raízen, associação de Cosan e Shell, estão interessados na compra Foto: Silvio Aurichio / Agência O Globo
Localizada no município de Araucária, no Paraná, a Repar é responsável por aproximadamente 12% da produção nacional de derivados de petróleo, ente eles diesel, gasolina, GLP, coque, asfalto, e propeno Foto: Silvio Aurichio / Agência O Globo
Refinaria Alberto Pasqualini (Refap) está instalada em uma área de 580 hectares no município gaúcho de Canoas (RS). Foto: Divulgação
A Petrobras também já vendeu a Unidade de Industrialização do Xisto (SIX) para o grupo F&M por R$ 178 milhões. A SIX fica localizada em São Mateus do Sul (PR) sobre uma das maiores reservas mundiais de xisto Foto: Divulgação
A Refinaria Gabriel Passos (Regap), em Betim, região metropolina de Belo Horizonte (MG), foi inaugurada em 30 de março de 1968, com capacidade inicial de 7.200 m³/dia. Hoje, sua capacidade de processamento é de 24 mil m³/dia ou 150 mil bbl/dia Foto: Ramon Bitencourt / O Tempo
A Refinaria Isaac Sabbá (Reman) foi vendida em agosto para a Atem por US$ 189,5 milhões. A unidade foi inaugurada em 3 de janeiro de 1957 e está localizada à margem esquerda do Rio Negro, em Manaus, estado do Amazonas. Em 31 de maio de 1974, foi incorporada ao Sistema Petrobras Foto: Reprodução
Refinaria Lubrificantes e Derivados do Nordeste (Lubnor), no Ceará, é uma das líderes na produção de asfalto no Brasil, sendo responsável por cerca de 10% da produção do produto no pais. Foto: Divulgação
Na mesma entrevista, ele foi perguntado sobre a mudança na política de preço da Petrobras, que estabelece a paridade com a cotação do petróleo no mercado internacional, e a criação de um fundo estabilizador:
— Se eu criar medidas que gerem receio sobre a consolidação fiscal, risco país sobe, real se desvaloriza, combustíveis sobem. Começa com uma medida para reduzir o preço do combustível, mas é equivocada. Vai ter o resultado contrário. Entendo a demanda do Congresso e da sociedade, mas cabe a nós mostrar que elas não vão ter o resultado esperado.
Almirante estava no ministério desde o início do governo
Almirante de esquadra brasileiro — a mais alta patente de oficial general das forças navais, Bento Albuquerque assumiu o Ministério de Minas e Energia em janeiro de 2019. Sua gestão foi marcada pelo desafio de evitar um apagão no país, devido à crise hídrica, e a alta dos preços dos combustíveis.
Defensor da política de preços da Petrobras, um de seus últimos compromissos foi uma reunião, na segunda-feira, com o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, sobre o reajuste de 8,87% no valor do diesel. A alta foi anunciada no começo do dia pela Petrobras.
O novo aumento do diesel afeta diretamente os caminhoneiros, que fazem parte da base eleitoral do presidente Jair Bolsonaro. E, para piorar, contribui de forma significa para o crescimento da inflação no país. Esses dois fatores levaram Bolsonaro a fazer duras críticas à Petrobras nos últimos dias.
Em um seminário, o ex-ministro reforçou o papel da Aneel e disse que é preciso respeitar os contratos e prezar pela segurança jurídica.
Com a guerra na Ucrânia, o ministro anunciou que o Brasil aumentará em 10% sua produção de petróleo, o que gerou elogios dos Estados Unidos e da União Europeia.