Após queda de 3,85% em 2023, alimentos podem subir, sob influência do El Niño

No acumulado do ano passado, entre janeiro e novembro, a alimentação no domicílio teve deflação de 3,85% em Mato Grosso do Sul. Para este ano, a alimentação deve ficar mais cara no Estado, um aumento motivado pelo impacto do fenômeno climático El Niño.

O clima afeta a produção de culturas de ciclo mais curto, como hortifrúti, e a mudança na distribuição de chuvas, causada pelo fenômeno, pode mexer com as cotações de commodities como a soja e o milho no mercado internacional. Esses grãos são base para a fabricação de rações, o que traz risco de reflexos nos preços das carnes.

Os preços das commodities agrícolas, que experimentaram altas por mais de dois anos, com taxas de crescimento de dois dígitos, por conta dos impactos da pandemia e dos eventos relacionados à guerra na Ucrânia, estão agora desacelerando de maneira significativa.

O economista do Sindicato Rural de Campo Grande, Corguinho e Rochedo (SRCG) Staney Barbosa Melo explica que a atuação do fenômeno El Niño ainda é muito incerta em Mato Grosso do Sul. “Por aqui, apesar das perdas de produtividade já serem dadas como certas, teremos uma boa 1ª safra de soja no Brasil, o que pode contribuir para amortecer as altas dos grãos internamente”, destaca.

No caso do milho, o mercado aposta em uma produção mais reduzida. Seguindo essa linha mais conservadora, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima, em seu último levantamento, uma queda de 10,9% na produção do milho safrinha e de 10,2% na produção total de milho em 2024.

“Isso dá pouco mais de 13 milhões de toneladas que deixarão de entrar no mercado em 2024. Esses dados contribuem para uma visão mais pessimista em relação à safra. O mercado se antecipou e está precificando os possíveis e prováveis prejuízos advindos dos atrasos na janela de plantio”, detalha Melo.

O economista salienta que o El Niño está impactando os ânimos dos produtores rurais, que veem risco elevado na segunda safra, com janela mais curta, apesar dos efeitos diretos se arrefecerem em abril, segundo especialistas.

Ainda assim, apesar das altas mais fortes no mercado interno, os preços internacionais do milho se encontram abaixo dos praticados em janeiro de 2023. No ano passado, os contratos de milho eram negociados na faixa de US$ 6,70/bushel em Chicago. Este ano, as cotações beiram os US$ 4,70/bushel.

“Tivemos custos de produção menores e uma safrinha recorde em 2023, mas acredito, com a reversão de oferta, que seja possível uma continuidade dessas altas em função dos efeitos do El Niño. É preciso acompanhar variáveis como o andamento da colheita, a comercialização, as questões de logística e os próprios efeitos do clima. Essas e outras variáveis vão ditar a dimensão das altas que muito provavelmente veremos em 2024”, avalia Staney Melo.

Segundo economistas, a tendência é de que a alta não seja tão intensa quanto os aumentos registrados em 2020, 2021 e 2022, mas o avanço pode gerar desconforto para o bolso dos consumidores, principalmente dos mais pobres.

A projeção está associada ao fato de que as famílias de menor renda destinam uma fatia maior do orçamento, em termos proporcionais, para a compra de alimentos.

“O cenário deste ano tende a ser mais desafiador, porque pintou o El Niño. Ele já vem provocando alterações de clima, e isso é ruim para a agricultura”, afirmou o economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre), à Folha de S.Paulo.

“O receio é que o fenômeno possa afetar as safras, atrasando o plantio ou a colheita. O ano de 2024 não vai refletir o cenário de 2023, e isso vai pesar mais para as famílias de baixa renda. Os alimentos voltam para a cena”, acrescentou.

Com os resultados fechados do ano a serem divulgados no dia 11 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Braz projetou que a queda da alimentação no domicílio será de 0,93% nos 12 meses até dezembro de 2023. Para o acumulado de 2024, a estimativa dele é de alta de 3,9%.

EL NIÑO

O pesquisador em Agrometeorologia da Embrapa Agropecuária Oeste, Éder Comunello, explica que o El Niño é considerado um fenômeno de aquecimento das águas superficiais do Pacífico e tem uma condição menos previsível para MS. A tendência geral é de padrões de temperaturas mais elevados.

O agrometeorologista especifica que o El Niño é um fator importante que contribui para as ondas de calor. “À medida que o El Niño se tornar mais frequente e intenso, por conta do aquecimento global, as ondas de calor também se tornarão mais frequentes e intensas”.

Estudos científicos têm demonstrado que o El Niño está associado a um aumento da probabilidade e da intensidade das ondas de calor. Um estudo publicado no ano passado pela revista Nature Climate Change concluiu que o El Niño foi responsável pelo aumento de 50% da ocorrência de ondas de calor na América do Sul.

A equipe técnica da Aprosoja-MS aponta que há 100% de probabilidade de o fenômeno El Niño atuar no Estado no trimestre entre dezembro e fevereiro. “Este cenário de variabilidade natural do clima pode potencializar a formação e a intensidade das tempestades no Estado. Outro impacto do fenômeno é que ele pode amplificar as altas temperaturas já registradas na primavera e pode gerar novas ondas de calor, podendo apresentar interferência na atividade agrícola novamente”.

 

Fonte CE.

Redação Gdsnews.

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