BrasilFixoPobreza

Auxílio Brasil: fila é mais que o dobro do anunciado pelo Ministério da Cidadania

Novos dados compilados pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM) apontam que a demanda reprimida pelo Auxílio Brasil em maio era mais que o dobro da fila oficial do governo. De acordo com informações da entidade, naquele mês havia 1,8 milhão de famílias esperando o benefício, enquanto o Ministério da Cidadania apontava que eram quase 765 mil.

Auxílio Brasil: Juro do consignado no mercado é quase três vezes o cobrado de aposentados do INSS

A diferença ocorre porque o levantamento da CNM leva em conta as inscrições de famílias no Cadastro Único (CadÚnico) que atendem ao critério para ingresso no programa — renda mensal per capita inferior a R$ 210 — e tiveram os dados atualizados há menos de 24 meses. Para entrar na fila oficial do Ministério da Cidadania, no entanto, é preciso passar por outros filtros.

Os invisíveis do Auxílio Brasil

O catador de recicláveis Luiz Araújo Lima, de 64 anos, passa os dias circulando pelas quadras do Plano Piloto, em Brasília, para conseguir as latinhas, garrafas plásticas e papelão que lhe rendem, até R$ 150 por semana — Foto: Cristiano Mariz

Sizaltina Lopes de Santos, 57 anos, foi morar em uma barraca no final da Asa Norte, também em Brasília. Sem emprego, já recebeu ajuda do governo, com o Bolsa Família, mas teve o benefício suspenso por falta de atualização no cadastro — Foto: Cristiano Mariz

O catador de recicláveis Luiz Araújo Lima, de 64 anos, passa os dias circulando pelas quadras do Plano Piloto, em Brasília, para conseguir as latinhas, garrafas plásticas e papelão que lhe rendem, até R$ 150 por semana — Foto: Cristiano Mariz

Judite Rodrigo dos Santos, de 76 anos, recebe uma aposentadoria, mas como já fez alguns empréstimos, sua renda mensal é de R$ 650 — Foto: Cristiano Mariz

Cresce número de brasileiros que teriam direito ao benefício

Em maio, 18,1 milhões de famílias recebiam o benefício de R$ 400, de acordo com os dados do governo. Mas o anúncio de que haverá uma ampliação no valor (para R$ 600) e no número de beneficiados pelo programa fez com que a procura por atendimento nos Centros de Referência de Assistência Social (Cras) crescesse.

A CNM se preocupa com a pressão na estrutura desses postos, o que vem sobrecarregando os municípios, conforme destaca o presidente da entidade, Paulo Ziulkoski.

— O programa Auxílio Brasil está passando por alterações preocupantes, como a elevação de R$ 400 para R$ 600 do benefício, que só dura até o final do ano. E depois? — questiona ele.

R$ 12,2 bi a mais por mês

Aliado a esse movimento, o período de atualização cadastral de quem já estava inscrito no CadÚnico também sobrecarrega os municípios. Ao longo da pandemia, a averiguação dos dados foi suspensa para não penalizar as famílias que não tinham condições de confirmar os dados pessoalmente e não colocar os servidores da assistência social em risco, pois havia uma série de restrições sanitárias.

Sizaltina Lopes de Santos, 57 anos, foi morar em uma barraca no final da Asa Norte, também em Brasília. Sem emprego, já recebeu ajuda do governo, com o Bolsa Família, mas teve o benefício suspenso por falta de atualização no cadastro — Foto: Cristiano Mariz

Consignado Auxílio Brasil: ‘O Bradesco não vai operar nessa carteira. São pessoas vulneráveis’, diz presidente do banco

— A pressão dessa averiguação cadastral recai sobre os municípios. Como os servidores da assistência social não estão dando conta da fila de quem está nessa atualização cadastral, como é que vão fazer busca ativa para identificar as famílias que estão em situação de pobreza, por exemplo? — pondera Ziulkoski.

Os retrocessos no Brasil em 2022

Em 2013, Mantega negava crise. em 2022, Guedes pede para não subirem preços/Cristiano Mariz/Agência O Globo

Não se tinha inflação tão alta quanto à de agora desde 2003. O índice em 12 meses supera 11% e corrói a renda.

A pobreza que se vê nas ruas e periferias de hoje está no mesmo nível da registrada entre 2009 e 2011.

Não se tinha inflação tão alta quanto a de agora desde 2003. O índice em 12 meses supera 11% e corrói a renda.

Pobreza, fome, educação são algumas das áreas que pioraram

Em seu relatório, a CNM pontua que os novos acessos ao programa estavam ocorrendo em ritmo mais lento que os cadastros. A entidade critica, no entanto, o pagamento linear, por não considerar a situação de vulnerabilidade das famílias.

Se houvesse uma focalização maior, seria possível atender mais famílias, distribuindo melhor os valores de acordo com as necessidades delas.

5G chegou na sua cidade? Veja em mapas interativos onde a tecnologia já funciona

A CNM ainda estima que seria necessário um gasto mensal de R$ 12,2 bilhões para o período entre agosto e dezembro de 2022 para zerar a demanda reprimida do programa. “O valor estimado é 66% superior à média mensal (R$ 7,4 bilhões) de gasto do programa até julho deste ano”, diz a entidade.

Para ampliar o programa este ano, o governo aprovou a proposta de emenda à Constituição (PEC) Eleitoral, que driblou as regras fiscais e eleitorais e permitiu o pagamento de um benefício maior a mais famílias. A partir de terça-feira, serão atendidas 20,2 milhões de famílias, que receberão um benefício de R$ 600.

O Orçamento de 2022 previa R$ 90 bilhões para o programa. Com a PEC, foi liberado um extra de R$ 26 bilhões para a ação.