Chefe do Exército foi comunicado previamente de participação de Pazuello em ato com Bolsonaro, mostra processo que tinha sigilo de 100 anos

Daniel Gullino e Patrik Camporez
O Globo
Brasília – O então comandante do Exército, Paulo Sérgio Nogueira, foi comunicado previamente sobre a participação ex-ministro Eduardo Pazuello em um ato político ao lado do então presidente Jair Bolsonaro, em maio de 2021. A presença no evento de Pazuello, na época general da ativa, originou um procedimento administrativo contra o militar, que foi arquivado sem qualquer punição. O documento, porém, ganhou sigilo de até 100 anos na administração Bolsonaro, mas foi liberado nesta sexta-feira pelo Exército, por determinação da Controladoria-Geral da União (CGU).

Em sua defesa no processo, só agora revelado, Pazuello afirma que informou “por telefone no sábado que iria ao passeio no domingo, a convite do presidente”. O general disse ainda ter aceitado o convite devido aos “laços de respeito e camaradagem” que tem com Bolsonaro.

No documento, Nogueira confirma ter recebido a comunicação prévia, embora não cite se houve ou não uma autorização formal para a participação do ex-ministro no ato. “Insta saliente, inicialmente, que o oficial-general em tela efetivamente comunicou a este comandante que se deslocaria à cidade do Rio de Janeiro, a fim de participar do passeio motociclístico, a convite do senhor Presidente da República”, escreveu.

Trecho do procedimento aberto contra o ex-ministro Eduardo Pazuello em que o então comandante do Exército admite ter sido comunicado previamente — Foto: Reprodução

Trecho do procedimento aberto contra o ex-ministro Eduardo Pazuello em que o então comandante do Exército admite ter sido comunicado previamente — Foto: Reprodução

Ao justificar o arquivamento do processo, Nogueira afirmou ainda considerar que a participação de Pazuello no ato de Bolsonaro não teve “viés político-partidário” porque ele falou de “forma improvisada” e apenas “cumprimentou os presentes e enalteceu o passeio” realizado. No ano passado, Nogueira deixou o comando do Exército para ser ministro da Defesa de Bolsonaro.

O ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, e o presidente Jair Bolsonaro — Foto: Cristiano Mariz/ Agência O Globo

Em maio de 2021, quando já havia deixado do Ministério da Saúde, Pazuello participou de uma motociata ao lado de Bolsonaro no Rio de Janeiro. Depois, os dois discursaram em cima de um carro de som. Na época, Pazuello era general da ativa do Exército. O processo disciplinar foi aberto porque militares da ativa não podem se manifestar politicamente.

“Da análise acurada dos fatos, bem como das alegações do referido oficial-general, depreende-se, de forma peremptória, não haver viés político-partidiário nas palavras proferidas, repisa-se, de improviso, pelo arrolado, naquele momento”, afirmou Paulo Sérgio, na manifestação que arquivou o processo.

General diz que foi ‘surpreendido’ por Bolsonaro

Na defesa apresentada, Pazuello afirmou que não tinha conhecimento de que haveria um carro de som no local, e que também foi “surpreendido” pelo pedido de Bolsonaro para que ele discursasse.

“Cabe ressaltar que não tinha conhecimento prévio que haveria carro de som para os agradecimentos do presidente da República, tampouco tinha a intenção de me pronunciar no evento. Acrescento que fui surpreendido quando o presidente me chamou para ficar ao seu lado na lateral do caminhão. Fiquei mais surpreso, ainda, quando o presidente passou as minhas mãos o microfone para que me dirigisse ao público”, escreveu.

O ex-ministro fez um relato da sua presença no passeio de moto. Inicialmente, ele tenta minimizar sua participação e afirma que optou por não ficar ao lado da comitiva de Bolsonaro e que, no final do trajeto, estacionou sua moto “afastada da multidão”.

O ex-ministro conta, no entanto, que “em questão de minutos” foi reconhecido pelos presentes, apesar de estar utilizando máscara. “Fui assediado por dezenas de pessoas, o que causou alvoroço e empurra-empurra”. Por isso, segundo ele, “o melhor lugar para ficar”, com o “menor risco” para ele e as pessoas, “seria a área reservada onde estava a comitiva”.

De novo, segundo ele, foi reconhecido “por um grande número de pessoas que também estavam na área reservada”. Neste momento, ele foi convidado pelo ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, “por orientação do presidente”, para subir no caminhão.

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