De volta às novelas, Taís Araújo fala sobre amadurecimento e maternidade

Era uma tarde de sábado incomum na primavera carioca. Chovia insistentemente e os termômetros marcavam não mais de 20º. O tempo fechado e o frio juntaram no sofá três gerações de mulheres diante de Alice no País das Maravilhas na TV. Avó, mãe e neta aninhavam-se num só cobertor quando entrei no cômodo, que numa parede abriga o televisor e noutra, 56 fotos de pessoas e momentos marcantes da história do clã, emolduradas e dispostas em três fileiras. Num mesmo ambiente, passado, presente e futuro; a conectá-los, a menininha de 5 anos incompletos, que convocou a sessão cinematográfica vespertina e escolheu o filme.

Assim a biografia de Taís se encontra com o afrofuturismo, conceito que extrapolou manifestações estéticas e culturais para resumir o compromisso ancestral do povo negro com a existência. Sequestrados de África e escravizados no Brasil num tempo; discriminados e excluídos no pós-abolição, mulheres e homens negros inspiraram-se nos antepassados para adotar estratégias de sobrevivência que vieram dar no país que, século 21 adentro, tem mais da metade da população autodeclarada de cor preta ou parda – afrodescendentes.
Não foi minha primeira vez na casa onde Taís vive com o também ator (e produtor e diretor e escritor) Lázaro Ramos e o casal de filhos. Estivera por lá como amiga, mas não como entrevistadora. Ela recebeu Marie Claire na véspera do ensaio fotográfico desta edição. Enquanto trançava os cabelos, sempre com Maia Boitrago (ela e o cabeleireiro Wilson Eliodorio são os únicos a mexer nas madeixas da atriz), tecemos a prosa sobre carreira, família, rotina, espiritualidade, ancestralidade.

Nesse encontro, o elo de Taís com as origens africanas pareceu muito nítido, convicto, bem resolvido. As fotos cuidadosamente instaladas na parede da sala de TV são evidência disso. Estão emolduradas, além do casal, das crianças, homens e mulheres da família, a bisavó, as avós e a sogra, que Taís também não conheceu. Maria Antônia, quando nasceu, foi apresentada a cada uma durante o período de amamentação, durante as madrugadas: “Fiz um ritual que era apresentar a Maria a todas as mulheres da família. Até minha avó paterna, de quem não fui próxima. Acho que teve a ver com a linhagem feminina. Maria Antônia me trouxe isso. Se alguém me visse, diria que eu era maluca. Apresentei uma criança de semanas a todas as mulheres da família”.

Horas antes da entrevista, que tentava conciliar com uma manhã de gravação da novela e uma festa infantil no meio da tarde, a sequência de mensagens de áudio lembrava a inquietação da velha Taís. Não era. A atriz que estreou na TV aos 16 anos em Tocaia Grande, chega aos 41 neste novembro: amadurecida e senhora de si. E vê com clareza a mudança. “O que não senti com 30, senti com 40. Não sei se foi salto de maturidade ou um entendimento de que agora, em vários sentidos, acabou o treino. Profissionalmente, como mãe, dona de casa, agora é à vera”, dispara. Em seguida, brinca: “Como se eu nunca tivesse feito isso a vida inteira”.

No ano passado, ficou de agosto a dezembro gravando a série Aruanas na Amazônia. Só voltava ao Rio para apresentar Pop Star. Este ano, acumula o programa com a volta às novelas, após um hiato de cinco anos – a última fora Geração Brasil. No intervalo, protagonizou com Lázaro a série Mister Brau, por quatro temporadas, até 2018. Sua Michelle, esposa, empresária e coreógrafa do personagem-título, que é estrela pop internacional, virou sinônimo de empoderamento feminino.

Vitória, a advogada madura que vive em Amor de Mãe, é o 12º papel de Taís em novelas. Ano que vem, ela volta aos palcos para apresentações mensais de O Topo da Montanha, em que encarna Camae, a camareira que está com Martin Luther King (Lázaro) na última noite de vida do líder do movimento pelos direitos civis dos negros nos EUA.

Fonte: Maire Claire

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