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Em Mato Grosso do Sul, jornalista que fala verdade é calado com a morte

Momento em que familiares e amigos carregavam o caixão de Léo Veras _ Reprodução

Já é tradição em território brasileiro calar os jornalistas que denunciam políticos com a morte. A história mostra dezenas e mais dezenas de casos de execuções sumárias de profissionais da imprensa e que se tornaram nada mais do que simplesmente um número nas estatísticas sobre a violência que sempre marcou a profissão.

Em Mato Grosso do Sul não é diferente. Na verdade, se buscar os dados sobre os jornalistas assassinados no Estado desde a execução de Edgar Lopes de Farias, o Escaramuça, morto a tiros de calibre 12 em plena área central de Campo Grande, chegar-se-á à triste constatação de que é aqui o estado mais violento do Brasil quando se trata de calar a boca dos profissionais da imprensa na base da bala.

O assassinato do radialista e apresentador de TV, Edgar Lopes de Faria, o “Escaramuça”, completará 21 anos. Ele foi morto a tiros de escopeta no dia 29 de outubro de 1997, quando tinha 48 anos.

No dia do homicídio, o radialista seguiu sua rotina de ir até uma padaria localizada na Rua Amazonas, na Vila Célia, área central de Campo Grande, para tomar o café da manhã e ler os jornais, como fazia todos os dias.

Escaramuça estava na padaria há minutos quando teria sido chamado por alguém. Ao se virar, ele recebeu o primeiro tiro, que o atingiu próximo a axila. O assassino avançou e atirou cinco vezes com uma arma calibre 12. Os suspeitos, três homens, fugiram em um Chevrolet Corsa. Até hoje a execução não foi totalmente esclarecida.

Daquele fatídico 29 de outubro de 1997 para cá vários casos de homicídios de jornalistas e radialistas se sucederam e até hoje não foram esclarecidos pelas autoridades.

Em comum, o fato de que todos os mortos, de 1997 para cá, denunciavam políticos do Estado.

A triste realidade é que para ser jornalista em território sul-mato-grossense, principalmente se for independente e denunciar falcatruas de políticos, é preciso ter muita coragem e estar de espírito preparado para andar lado a lado com a figura assustadora da morte as 24 horas do dia.

Em terras guaicurus, 1uem fala verdade, merece castigo e, normalmente, o castigo é a morte, afinal, há informações de que até adversários políticos se unem quando se trata de calar boca de jornalistas que denunciam desmandos da classe dominante.

VERAS FOI O ÚLTIMO – Desde a morte violenta de Escaramuça, inúmeros outros jornalistas e radialistas foram executados e outro fato em comum nas execuções é que nenhum dos crimes foi elucidado.

Quem não se lembra de Flávio Godoy, o Ratinho, de Bela Vista; de Eduardo Carvalho; de Edgar Pereira, todos picotados de bala e cujos homicidas nunca foram descobertos?

Não foram só esses. Foram dezenas de outros profissionais assassinados nas várias regiões de MS sem que, contudo, as investigações avançassem. E, de morte em morte, recentemente o Brasil se chocou com a violência praticada contra o jornalista investigativo Lourenço Veras, o Leo, de 52 anos, foi assassinado na noite de 13 de fevereiro em Pedro Juan Caballero, na divisa com Ponta Porã. Ele foi morto com 12 tiros, quando jantava na sala de casa com a família.

Quatro meses após o assassinato, as investigações ainda não apontaram o mandante do crime.

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