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Golpe da venda de vacina: prefeito de Caxias diz que ‘chance de cair era zero’; e o de Piraí declara ‘ter achado estranho’

A ação tem apoio da Polícia Civil de Pernambuco e da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Já o prefeito de Piraí, Mário Reis Esteves (Republicanos), disse ter desconfiado da oferta e procurado a Polícia Federal, o que deu início à investigação do caso.

O prefeito de Duque de Caxias, Washington Reis (MDB), afirmou nesta quinta-feira que a chance de o município da Baixada Fluminense cair no golpe da venda da vacina “era zero”, logo após ser deflagrada operação da Delegacia de Combate à Corrupção e Lavagem de Dinheiro (DCC-LD), da Polícia Civil do Rio, para cumprir oito mandados de busca e apreensão no escritório da empresa Montserrat Consultoria e de seus representantes, em Recife, Pernambuco. O alvo, informou a corporação, estaria envolvido com um esquema de oferta fraudulenta de lotes da vacina AstraZeneca/Oxford para imunização da Covid-19 a pelo menos 20 municípios brasileiros, incluindo Duque de Caxias e Barra do Piraí, no estado do Rio de Janeiro. A ação tem apoio da Polícia Civil de Pernambuco e da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Já o prefeito de Piraí, Mário Reis Esteves (Republicanos), disse ter desconfiado da oferta e procurado a Polícia Federal, o que deu início à investigação do caso.

– Nessa corrida atrás da vacina, falamos com todo mundo. Falamos com vários laboratórios e vários representantes. Foram vários e-mails para essas empresas. Eu pedi a (Secretaria municipal de) Saúde para entrar em contato com todo o mundo. A Moderna foi procurada. A farmacêutica da Janssen, também e essa empresa (Montserrat Consultoria). Mas, eu decidi cancelar a compra – afirmou Reis nesta manhã. O prefeito completou:

– Identificamos que não tinha vacina no mundo e encerramos o contrato. Eles não chegaram de pedir a transferência e eu encerrei a conversa. Eu disse que era vacina no chão e dinheiro na mão. Eu jamais iria pagar sem receber o produto. Chance zero de cairmos nesse golpe. Eu só iria pagar quando eu recebesse. Espero que a polícia meta eles na cadeia. Pois é lá que é lugar de bandido.

Em 22 de março, o prefeito de Caxias anunciou a assinatura de contrato para a compra de um milhão de doses da vacina de Oxford/AstraZeneca. No entanto, o laboratório inglês desmentiu o acordo e reiterou que não pretende negociar com municípios, estados e iniciativa privada. “No momento, todas as doses da vacina estão disponíveis por meio de acordos firmados com governos e organizações multilaterais ao redor do mundo, incluindo da Covax Facility, não sendo possível disponibilizar vacinas para o mercado privado ou para governos municipais e estaduais no Brasil”, informou, em nota, o laboratório naquele mês.

Nas redes sociais, Reis divulgou o suposto contrato com o laboratório, que na verdade era uma manifestação de intenção de compra de um milhão de doses da vacina. Na minuta, cada dose supostamente custaria US$ 7,90 (cerca de R$ 44), que daria um total de US$ 7,9 milhões (R$ 44 milhões), valor que o prefeito garantiu ter em caixa.

— Temos saldo no cofre da prefeitura de Caxias para isso. Minha meta é agora para abril. Vou vacinar todo mundo acima de 16 anos e, se os cientistas liberarem, vacinamos até crianças de berço — disse Reis à época, antes de ter a compra desmentida pela AstraZeneca.

Nesta quinta-feira, Reis afirmou que foi a própria cidade que procurou o laboratório. Assim como tantos outros, “em busca de vacina”. No entanto, ele afirma que decidiu não fechar o acordo.

‘A gente é do interior, mas não é bobo’

O prefeito de Barra do Piraí disse ter sido procurado há pouco mais de dois meses por indicação da prefeitura de Porto Velho (RO). No entanto, Esteves garante que ficou receoso quando recebeu um documento da empresa que prometia as doses e o encaminhou à Polícia Federal. Barra do Piraí tinha intenção de adquirir 45 mil doses da vacina.

Prefeito de Barra do Piraí, Mário Reis Esteves Prefeito de Barra do Piraí, Mário Reis Esteves Foto: Reprodução/TV Rio Sul(Giovanni Rossini)

– A gente é do interior, mais não é bobo, né? Há pouco mais de dois meses, fomos procurados por pessoas que estavam fazendo a negociação (para a venda da vacina) com a prefeitura de Rondônia. Como veio com indicação, eu fiquei tranqüilo. Ao longo das tratativas, eles mandaram um documento e eu achei estranho aquilo. Então decidi mandar para a Polícia Federal – afirmou Esteves.

Segundo o prefeito, toda a tratativa foi gravada. Após a conversa, ele diz que entrou em contato com a direção da Oxford/AstraZeneca que negou que fazia negociação com cidades.

– Na dúvida, não fiz o depósito. Falei com o consulado americano e eles disseram que a empresa era fraudulenta. Mas, o que me chamou a atenção foi à negativa para eu conhecer a empresa. Eu falei para o representante que era para ele vir aqui ou eu ir lá. Ele sempre inventava desculpas e disse que tinha comorbidades – recordou o prefeito.

À prefeitura de Barra do Piraí, de acordo com relato de Esteves, o representante da empresa Montserrat Consultoria afirmou que a cidade deveria retirar as doses no Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio.

– Eu não poderia colocar R$ 3 milhões nas mãos de uma pessoa que diz que tem vacina para todo mundo. O planeta em busca das doses e só ele tem? Não é estranho? Tudo isso nos deixa com pé atrás – completou o político.

Segundo a Polícia Civil, dezenas de cidades abriram negociação com a Montserrat Consultoria. Sócios da empresa estavam procurando prefeituras de vários estados para vender as vacinas na Oxford. Segundo os investigadores, eles afirmavam que representavam vendedores da Ecosafe Solutions, na Pensilvânia, nos Estados Unidos.

– A investigação verificou que essas doses nunca seriam entregues. O próprio laboratório (AstraZeneca) afirmou que não teria como entregar essas vacinas para estados, municípios ou entes privados. O consulado (americano) confirmou aos agentes que essa empresa (Ecosafe Solutions) tem sido utilizada para fraudes nos Estados Unidos. A ação deve ser imediata para evitar prejuízos e evitar que remessas sejam enviadas para o exterior, que fica mais difícil para a repatriação – disse o delegado Thales Nogueira Braga, ao ‘Bom dia Rio’, da TV Globo.

Os investigadores não sabem ainda quantas cidades exatamente caíram no golpe.

– Não temos informação de quantos municípios tenham assinado carta de intenção. Temos informações que o município de Caxias desistiu da intenção. Temos informações que o município de Barra do Piraí não fechou contrato. Mas, a gente não sabe a amplitude desse golpe. Não sabemos o prejuízo para a população brasileira. Não sabemos quantas pessoas vão ficar sem vacina, porque o dinheiro foi empregado para a compra de vacinas que não seriam entregues.

A Polícia Civil ainda não sabe se algum município chegou a pagar aos criminosos. A operação precisou ser antecipada para evitar que alguma negociação fosse finalizada e que provas fossem destruídas. Na decisão que culminou na operação desta quinta-feira, o juiz Bruno Monteiro Ruliere salientou que a Oxford/Astrazeneca não realizou qualquer transação de venda de imunizantes para o mercado privado e entes municipais ou estaduais.

O município de Porto Velho negociava havia mais de dois meses a compra de 400 mil doses com a Ecosafe Solutions. De acordo com a previsão, as doses seriam entregues no da 15 de maio. Por conta de suspeitas de irregularidades na aquisição, o contrato passa por uma inspeção do Tribunal de Contas do Estado de Rondônia. Ao todo, R$ 20 milhões foram investidos para a compra das vacinas. O dinheiro está bloqueado e só seria liberado com a remessa embarcada.

 

Fonte O Extra.

Redação Gdsnews.

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