Indígenas acusam policiais de ferir idosa de 74 anos durante operação em Dourados

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Conforme Valdelice Veron, porta-voz dos guarani-kaiowá, a idosa já foi ferida na perna em outros ataques e agora que estava se recuperando levou tiros na mão – Foto Reprodução/Whatsapp

Uma idosa de 74 anos ficou ferida, durante a Operação Py’aguapy, deflagrada na manhã de ontem (6), segundo os indígenas da Terra Avaete em Dourados. Cerca de 60 policiais federais cumpriam mandado de busca e apreensão na comunidade.

Apesar do nome da Operação fazer menção à “pacificação” ou “paz” em Guarani, os habitantes da Terra Indígena Avaete alegam que a polícia agiu de forma inesperada e violenta.

“Vários feridos. Uma vózinha de 70 anos foi agredida e machucada dentro de sua casa. A gente tem fotos e vídeos. Ainda assim, a polícia disse que foi porque tinha arma dentro da comunidade. Tudo isso é muito revoltante”, relata Natanael Vilharva, porta-voz guarani-kaiowá.

Conforme o representante indígena, a comunidade Avaete tinha uma relação de confiança com a Polícia Federal, que inclusive os ajudava em conflitos com jagunços, pistoleiros e em ações de outras polícias.

“A gente já tinha discutido sobre essa questão de violência nas comunidades por parte da Polícia, tanto Militar quanto Civil. Até então, a gente sempre contava com o apoio da Polícia Federal para poder resguardar a vida da população indígena. Mas, após o acontecimento de hoje fica difícil de voltar a confiar na Polícia Federal”, afirma.

A comunidade relata que a polícia invadiu as terras procurando por armas. E que vivem em condições de extrema pobreza e desnutrição, não havendo condições ou interesse de adquirir armamento.

“A Polícia Federal, segundo a informação que nos foi repassado, foi lá para averiguar a suposta denúncia de armamento de fogo na comunidade. O que contradiz a realidade com que a gente vive. Nas áreas de retomada, a comunidade não tem nem o que comer, água para beber e as crianças sofrem de desnutrição por falta de alimento. Onde a gente vai ter dinheiro para comprar esses armamentos? É absurdo”, conta Natanael.

Em nota, na tarde desta sexta-feira (6), a Polícia Federal, reafirma que cumpria um mandado de prisão contra um dono de sítio e sete mandados de busca e apreensão, representados pelo Ministério Público Federal e deferidos pelo Juízo Federal em Dourados/MS.

De acordo com a PF, as investigações apontavam indícios de autoria e materialidade de um crime de tentativa de homicídio contra dois indígenas daquela comunidade, por parte de um sitiante, ocorrido no dia 13 de setembro deste ano.

“A ação foi acompanhada por representante da FUNAI. Durante o cumprimento dos mandados, os policiais federais foram atingidos por paus, pedras, facões e porretes por supostos membros da comunidade e reagiram com medidas menos legais e de baixo impacto para garantir a retirada das equipes do local em segurança. Todo o ocorrido foi filmado e será utilizado na investigação que ora se inicia. Não há registros de feridos, tão somente danos às viaturas policiais”, diz a nota.

No entanto, para a comunidade Avaete, a Polícia Federal está tentando, de alguma uma forma, justificar a violência que cometeram.

“Essa é a palavra que eu queria achar, justificar, essa ação violenta e truculenta contra uma comunidade desarmada, uma comunidade pacífica. A polícia estava ali atirando com bala de borracha nas crianças, nas idosas e é normal que a comunidade tenta se defender de alguma forma, com pedra e pau”, reitera o guarani-kaiowá.

Por fim, Valdelice Veron, porta-voz dos guarani-kaiowá, diz que todos os povos indígenas estão traumatizados com essa situação e relembra o pedido que havia feito às autoridades.

“Solicitei na reunião de Gabinete de Crise que quando a polícia fosse para área de retomada, avisasse os líderes indígenas da Aty Guasu e a Funai”, finalizou.

 

Fonte CE.

Redação Gdsnews.