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Invasão de prédios de luxo no Rio: ladras ‘teen’ presas pela Polícia Civil têm extensa ficha criminal na capital paulista

Aparência: adolescente usa a imagem de inofensiva e investe até no figurino para driblar a segurança dos prédios Foto: Reprodução

No começo da tarde de 6 de novembro, uma empresária de 76 anos dormia em seu quarto, no 12º andar de um prédio na Rua Hilário de Gouveia, em Copacabana, na Zona Sul do Rio. Acordou com um barulho na porta da sala. Em poucos segundos, três adolescentes se aproximaram e avisaram: “Não vamos te fazer mal, só queremos dinheiro e joias. Fique calma”. Ela entregou R$ 700 que tinha na carteira, além de dois cartões de crédito. Antes de sair, um dos jovens, com uma faca na mão, amarrou as pernas da idosa usando um fio de telefone e a trancou.
Ao conseguir pedir socorro e procurar a 12ª DP (Copacabana), a vítima descobriu ter sido roubada por uma organização criminosa de São Paulo que já invadiu pelo menos 45 apartamentos de luxo em bairros como Leblon, Ipanema, Lagoa e Gávea nos últimos dois meses. Sete integrantes já foram presos ou apreendidos, entre eles as duas menores de idade tidas como fundamentais para a atuação do grupo: adolescentes de 15 e 16 anos responsáveis por se valer de suas fisionomias infantis e inofensivas para enganar porteiros, driblar seguranças e entrar nos imóveis.
Investimento na imagem
Nas imagens de câmeras dos condomínios analisadas pela delegada Natacha Alves de Oliveira, titular da 12ª DP, uma das garotas aparece com um vestido branco de mangas compridas e bufantes. Aos agentes, ela confessou o investimento que fez no figurino, comprado com o objetivo de reforçar a imagem de “patricinha”: cerca de R$ 500.
— Elas eram as grandes responsáveis por entrar nos apartamentos justamente pela aparência. Não levantavam suspeita. Além disso, utilizavam uma grande chave de fenda para arrombar as portas, apresentando extrema habilidade para violar até mesmo fechaduras sofisticadas — explica a delegada.
As duas, que foram presas pela Polícia Civil do Rio na Praia da Boa Viagem, em Recife, Pernambuco, na última segunda-feira, também têm extensa ficha criminal na capital paulista, onde nasceram. Lá, costumam vestir até o uniforme de um colégio que cobra mensalidades acima de R$ 1.500 para não chamar atenção. Os inquéritos apontam que elas estudam os alvos antes dos furtos e roubos e passam pela portaria dizendo que são parentes de algum morador. Em nenhum dos casos há registros de entradas forçadas ou com uso de violência.
— A prática nos mostra que a atividade dos funcionários de portaria é rotineira e, com o passar do tempo, eles acabam relaxando. É necessário que se cobre e se exija uma postura profissional condizente com a responsabilidade do cargo, reforçando as orientações para que não seja facilitado o acesso de pessoas estranhas ao condomínio e, assim, se evitem novos crimes — afirma o advogado Horário Magalhães, há 23 anos à frente da Sociedade Amigos de Copacabana.
Susto: câmera flagrou o momento em que o porteiro suspeita das jovens. As adolescentes ainda foram reconhecidas pelo morador de um apartamento no 9º andar de um edifício na Avenida Atlântica, também em Copacabana. Ele chegou em casa por volta de 15h30 do mesmo dia 6 de novembro e estranhou as luzes acesas. Ao percorrer os corredores, notou que a porta de serviço havia sido arrombada e o escritório e os quartos, revirados. Imagens gravadas em um dos elevadores mostram que elas ficaram pelo menos duas horas no local e levaram uma caixa de joias.
Em 23 de outubro, usando vestidos brancos e máscaras de proteção, as meninas entraram em um apartamento no 9º andar de um prédio na Rua Fonte da Saudade, na Lagoa, por volta de 16h. Na portaria, informaram que iriam ao imóvel, cujos proprietários haviam saído há menos de meia hora. Depois de vasculhar a sala e os quartos, elas saíram carregando uma mala com joias e relógios, quando o funcionário desconfiou e as interpelou.
Nas imagens das câmeras de segurança, o porteiro aparece fechando a porta de vidro com a chave e conversando com as adolescentes. Nesse instante, dois homens chegam, pelo lado de fora, quebram a vidraça com um chute e auxiliam na fuga das comparsas. Com a proximidade de uma viatura da Polícia Militar estacionada na esquina, o grupo acabou deixando para trás a mala com os pertences das vítimas.
Sete dias depois, as jovens de 15 e 16 anos participaram de furtos em pelo menos três apartamentos em Icaraí, na Zona Sul de Niterói, Região Metropolitana do Rio. Em um dos casos, elas ficaram entre 11h19 e 12h05 em dois imóveis de um prédio na Rua Comendador Queiroz. No 1.601, onde moram dois idosos com mais de 75 anos, elas entraram sem arrombar a porta quando as vítimas não estavam em casa.
De acordo com o depoimento prestado pelo porteiro na 77ª DP (Icaraí), as adolescentes chegaram balançando no portão as chaves que seriam do apartamento e dizendo que precisavam subir. O funcionário admitiu ter descumprido o protocolo que determina que seja feita uma ligação para os telefones fixos ou celulares dos moradores no caso de chegada de visitantes, já que não há interfones.
Simpatia e intimidade
Em seguida, as meninas teriam entrado no apartamento 1.101, após o arrombamento da porta da cozinha. Elas reviraram dois dos quartos e levaram as joias da família. Câmeras de monitoramento da rua mostram as duas caminhando tranquilamente com um rapaz.
— As investigações apontam que os criminosos demonstram simpatia e intimidade, disfarçam e acabam conseguindo acesso aos prédios sem permissão do morador. Reiteramos para que fiquem em alerta e desconfiem de qualquer estranho, só autorizando o ingresso após a autorização expressa dos moradores e ainda solicitando que levantem momentaneamente as máscaras de proteção para o registro pelas câmeras — orienta a delegada Natacha de Oliveira.

Fonte O Extra.
Redação Gdsnews.