Leandro Firmino ficou internacionalmente conhecido pela frase “Dadinho é o c… Meu nome é Zé Pequeno”, em “Cidade de Deus”. Sua mulher, Leticia Firmino da Hora, não é atriz tampouco vive uma personagem, mas também usa uma frase de efeito para chamar atenção para o problema das famílias da comunidade Parada São Jorge, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, no meio da pandemia do coronavírus. “Não tem vacina para a fome”, dispara ela, que está vendo de perto os efeitos do vírus na periferia: “Além de haver muitos casos da doença, as pessoas não têm o que e como comer”. Preocupada, ela criou o projeto Mulheres da Parada e acaba de abrir um mercado solidáRIO na própria garagem.
“A gente disponibiliza os alimentos em prateleiras, caixotes, do jeito que dá. As famílias cadastradas podem ir até o mercadinho e pegar, sem custo, o alimento que estão precisando”, explica ela.
Tudo começou com um projeto inscrito por Letícia num fundo social. Selecionada, ela recebeu R$ 2,5 mil. “Compramos cestas básicas e distribuímos para famílias cadastradas no projeto. Só que a cesta é básica mesmo: arroz, feijão, açúcar e óleo. Daí pensamos em diversificar mais os produtos para que todos pudessem ter mais ítens que forneçam nutrientes necessários à alimentação diária”, explica.
O mercadinho funciona em dois horários. E existem regras para levar os alimentos para casa. “Tem que fazer o cadastro, ser da comunidade, nós marcamos a hora em que a pessoa pode chegar, é obrigatório o uso de máscara e a limpeza das mãos com álcool gel. Até temos máscaras doadas também caso alguém chegue sem”, enumera.
Aberto há dois dias, no entanto, o local já não tem mais muitos alimentos em estoque. O que preocupa Letícia. “Eu e minhas vizinhas encabeçamos tudo ao ver a maioria das mulheres da Parada sem emprego e sem renda, já que grande parte é diarista. Nenhuma empresa ou governo está ajudando. Estamos fazendo na raça mesmo”, diz ela, que sempre trabalhou em ONGs na parte cultural: “Nunca fiz nada assistencialista. Mas senti que precisava ajudar de alguma forma. Eu e Leandro também estamos parados, mas temos nossas reservas. E estas pessoas? Falta água nas casas para lavar a mão, falta saúde, hospital, atendimento, comida. Entre um álcool gel e um saco de feijão para botar em casa, qual eles vão preferir?”, lamenta. Quem quiser colaborar com o mercadinho solidário, Letícia criou uma vaquinha no endereço vaka.me/1067097.