Novo secretário do Ministério da Saúde tenta tornar mortos por Covid-19 invisíveis, dizem secretários estaduais

Cemitério de Vila Formosa, em São Paulo Foto: Victor Moriyama / The New York Times

Amanda Almeida

O Globo

BRASÍLIA – O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) divulgou nota, neste sábado, em repúdio às declarações de Carlos Wizard, que assumirá a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. À coluna da jornalista Bela Megale, no GLOBO, ele disse que o Ministério da Saúde vai recontar o número de mortos no Brasil por Covid-19. Segundo ele, os dados atuais seriam “fantasiosos ou manipulados”.

“Ao afirmar que secretários de Saúde falseiam dados sobre óbitos decorrentes da Covid-19 em busca de mais ‘orçamento’, o secretário, além de revelar sua profunda ignorância sobre o tema, insulta a memória de todas aquelas vítimas indefesas desta terrível pandemia e suas famílias”, diz nota assinada pelo presidente do Conass, Alberto Betrame.

À coluna, Wizard disse que o número de mortos, que ontem chegou a 35.026 pessoas, conforme dados oficiais, estaria inflado, apesar de pesquisas já terem demonstrado e de o próprio Ministério da Saúde ter admitido, em outras gestões, que há um grande número de subnotificações.

– Tinha muita gente morrendo por outras causas e os gestores públicos, puramente por interesse de ter um orçamento maior nos seus municípios, nos seus estados, colocavam todo mundo como covid. Estamos revendo esses óbitos. – afirmou Wizard.

Para o Conass, “a tentativa autoritária, insensível, desumana e anti-ética de dar invisibilidade aos mortos pela Covid-19, não prosperará”.

“Nós e a sociedade brasileira não os esqueceremos (os mortos) e tampouco a tragédia que se abate sobre a nação. Ofende secretários, médicos e todos os profissionais da saúde que têm se dedicado incansavelmente a salvar vidas. Wizard menospreza  a inteligência de todos os brasileiros, que num momento de tanto sofrimento e dor, veem seus entes queridos mortos tratados como ‘mercadoria’. Sua declaração grosseira, falaciosa, desprovida de qualquer senso ético, de humanidade e de respeito, merece nosso profundo desprezo, repúdio e asco. Não somos mercadores da morte”, completa a nota do Conass.

DEMORA NA DIVULGAÇÃO DE DADOS – Os divulgação dos dados sobre a pandemia já havia entrado no centro do debate político no meio da semana, após o governo alterar os horários de publicação da contagem diárias de vítimas. Com recordes em número de casos e mortes registradas diariamente, o Ministério da Saúde vem atrasando essa divulgação, que só foi feita depois de 21h30, desde quarta-feira, após os principais telejornais do país finalizarem suas edições. A disponibilização dessas informaçoes já havia sido transferida das 17h para as 19h, anteriormente.

O presidente Jair Bolsonaro comentou, na manhã deste sábado, essas alterações. “Para evitar subnotificação e inconsistências, o Ministério da Saúde optou pela divulgação às 22h, o que permite passar por esse processo completo. A divulgação entre 17h e 19h, ainda havia risco subnotificação. Os fluxos estão sendo padronizados e adequados para a melhor precisão”, escreveu ele no Twitter, citando nota do Ministério da Saúde.

Na noite desta sexta-feira, porém, o presidente Jair Bolsonaro foi questionado sobre o porquê da demora da divulgação dos dados e, sem que ninguém tivesse feito alguma menção a qualquer órgão específico, ele afirmou:

— Acabou matéria do Jornal Nacional.

Em nota, a emissora afirmou que: “O público saberá julgar se o governo agia certo antes ou se age certo agora. Saberá se age por motivação técnica, como alega, ou se age movido por propósitos que não pode confessar mais claramente. Os espectadores da Globo podem ter certeza que serão informados sobre os números tão logo sejam anunciados pq o jornalismo da Globo corre sempre para atender o seu público”.

Após o término do Jornal Nacional, durante a exibição da novela Fina Estampa, a tramissão foi interrompida para a entrada de um plantão do telejornal em que o apresentador William Bonner anunciou os números oficias do Ministério da Saúde quando o órgão os divulgou.

O número de mortes decorrentes do novo coronavírus chegou a 35.026 nesta  sexta-feira, com 1.005 novos óbitos registrados nas últimas 24 horas. O número de casos confirmados subiu para 645.771, segundo boletim diário do Ministério da Saúde.

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