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Pantanal: ‘É São Pedro que vai apagar esse fogo’, diz responsável pela gestão de incêndios no MT

Com 25% dos focos de incêndios registrados no Brasil este ano pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Mato Grosso arde em fogo nos biomas Amazônia, Pantanal e Cerrado. Só neste mês foram 18 mil focos espalhados por 105 de seus 141 municípios. É a destruição no Pantanal, porém, que mais chama atenção – 85% das queimadas no bioma estão em terras mato-grossenses.

Incêndios no Pantanal já queimaram área equivalente a quatro cidades do Rio Foto: Amanda Perobelli/Reuters

Queimadas: Símbolo do Pantanal, onça-pintada luta para sobreviver num território arrasado com suas presas queimadas

Na avaliação do coronel da reserva do Corpo de Bombeiros do estado, atual secretário do Comitê Estadual de Gestão do Fogo, Paulo André da Silva Barroso, o fogo no Pantanal, a essa altura, já não pode ser mais controlado. Para ele, as chamas só serão apagadas pelas chuvas – e isso pode demorar mais de um mês.

Quais as razões de tantas queimadas este ano no estado?

O estado do Mato Grosso está passando pela maior seca dos últimos 45 anos. E o Pantanal não tinha grandes incêndios há 14 anos. Isso significa que tem muita biomassa acumulada e, com o ambiente muito seco, é sugestiva a ocorrência de incêndios florestais. E quando isso ocorre é muito difícil de combater.

Quais são as dificuldades?

O Pantanal é o bioma mais preservado do Brasil e isso significa que tem pouco acesso, pouca gente morando. É uma área praticamente selvagem e, quando começa o incêndio em algum local, fica muito difícil acessá-lo. O primeiro incêndio ocorreu em uma área que não tinha estrada. O camarada foi até lá coletar mel silvestre. E como isso é feito? Ele vai no tronco de uma árvore que tem colméia e ateia fogo no pé.

A fumaça espanta as abelhas e ele vai lá e pega o mel. A gente já sabe que o primeiro incêndio começou assim, no meio do nada. E foi se propagando. Não tinha casa, não tinha nada. E para o bombeiro chegar lá demorou mais de cinco dias. Quebraram dois tratores no caminho, que foram abrir acesso na linha do fogo. E tem outro agravante: no Pantanal o incêndio ocorre em três dimensões.

Como assim?

Tem quele que ocorre na superfície, sobre o solo, queimando tudo até um metro e meio, dois metros de altura. Temos o incêndio de copa, que pega a copa das árvores e as chamas atingem 20, 30 metros de altura. E temos o subterrâneo, que é o pior para combater. Você extingue o fogo na copa, na superfície e no subterrâneo ele vai queimando. Ele é mais lento, queima devagar. Vai queimando por baixo e, quando a gente acha que a área já foi queimada e está protegida, ele recomeça mais à frente, na área verde. Geralmente a vigilância é feita por dois dias, mas no terceiro ou quarto o fogo retorna mais à frente e vai pipocando em outros lugares. Então é uma coisa interminável.

O que é esse incêndio subterrâneo?

O Pantanal tem um solo alagável. O subsolo é formado por raízes de plantas e árvores que ficam alagadas durante boa parte do ano e, em outra parte, secam. Como este ano secou muito, o espaço que a água ocupava foi ocupado pelo oxigênio. Ficou tudo muito seco. O fogo que queima lá em cima se propaga para baixo, porque a raiz também está seca. Não tem água e entra oxigênio. Então o fogo propaga devagarzinho por debaixo da terra e ressurge lá na frente, quando você menos espera.

E como fazer para conter as queimadas?

Nessa condição atual é praticamente impossível controlar e extinguir. O que vai apagar o fogo aqui é a chuva. E não é qualquer chuva. È chuva forte, de quatro a dez dias. Esse período de chuvas geralmente só começa no final do mês de outubro, começo de novembro. Então é São Pedro que vai apagar esse fogo. O índice pluviométrico do Mato Grosso está abaixo da média dos últimos 30 anos. Então, todo o estado está passando por um período significativo de seca em razão da baixa pluviosidade, ou seja, pouca chuva.

Isso tudo, aí sim, pode ser — veja bem, pode ser — decorrente do desmatamento da Amazônia. Se você desmata a Amazônia não tem uma consistência significativa daqueles rios aéreos, que são formados pela evapotranspiração das árvores. É um cenário que a gente ainda tem que entender. E é isso que a gente está vivendo aqui.

 

Fontw G1.

Redação Gdsnews.