Pedidos de PMs à milícia de Rio das Pedras vão de dinheiro para feijoada a ingressos para shows, revelam escutas telefônicas

Parte da favela da Zona Oeste, dominada por grupo paramilitar Foto: Custódio Coimbra

No início de 2019, duas oficiais da PM tiveram celulares roubados durante um assalto na Avenida Francisco Bicalho, no Centro do Rio. O sistema de localização de um dos aparelhos indicou seu uso dentro de Rio das Pedras, favela da Zona Oeste dominada por uma das milícias mais antigas da cidade. O batalhão responsável pelo patrulhamento da região, o 18º BPM (Jacarepaguá), foi avisado, mas, em vez de organizar uma operação para recuperar o telefone, acionou a quadrilha da comunidade para devolvê-lo à dona.
“O batalhão mandou isso pra gente, mas, quando mandou, chamaram a gente lá pra ver (…). A gente sabe que você conhece muita gente. De repente, chega até seus ouvidos que nego tá vendendo”, disse um sargento a Douglas Rodrigues Moreira, segurança de um dos chefes do grupo paramilitar. O miliciano, então, respondeu que faria um “trabalho de inteligência”. O diálogo — interceptado pelo Ministério Público do Rio com autorização da Justiça — não mostra um caso isolado: trechos de interceptações telefônicas escancaram os laços de PMs com o bando de Rio das Pedras.

Fora o apelo para a devolução do celular roubado, as ligações — gravadas durante a investigação que culminou na realização da Operação Intocáveis 2, em janeiro de 2020 — mostram que PMs pediam a milicianos ingressos para shows numa casa noturna da favela e também solicitavam dinheiro para uma “feijoada de confraternização no batalhão”. Além disso, os grampos revelaram que policiais faziam escolta para um dos chefes da quadrilha e sua família.

Em um diálogo interceptado no dia 8 de abril de 2019, um comerciante contou a Douglas Rodrigues Moreira — apontado pelo Ministério Público como segurança de Paulo Eduardo da Silva Azevedo, o Paulo Barraco — que um policial lotado no 18º BPM lhe pediu “uma moral todo mês”.

O miliciano respondeu que o responsável pelo pagamento de propina era seu chefe, Paulo Barraco. O comerciante, então, afirmou que os PMs haviam dito que “o tenente-coronel foi promovido a coronel e iria precisar de dinheiro para a festa”.
Num segundo contato entre os dois, dez dias depois, o comerciante insistiu: um PM havia lhe perguntado se poderia “mandar o dinheiro do dia 20”, porque seria feita “uma feijoada para o patente alta”. Moreira novamente afirmou que “o negócio do dinheiro é com o zero-um”. Ao final da investigação do caso, o miliciano e o policial que cobrava a propina — o cabo Rodrigo Vassali Dutra — foram denunciados e presos. O oficial citado na conversa não foi identificado.
Vários outros policiais militares que não chegaram a ser denunciados à Justiça tiveram conversas com a milícia interceptadas. Um deles, um sargento lotado no Batalhão de Rondas Especiais e Controle de Multidões (Recom), entrou em contato com Moreira no dia 14 de abril para pedir entradas para um show do cantor Wesley Safadão.
As escutas também revelam que um outro chefe da milícia, o capitão reformado da PM Epaminondas de Queiroz Medeiros Júnior, era escoltado por policiais. Numa ligação, um agente contou que combinou receber R$ 2.500 mensais para fazer um turno da segurança do paramilitar.
Procurada para comentar as gravações, a PM informou que um inquérito relacionado às descobertas da Operação Intocáveis 2 foi instaurado por sua corregedoria.

Fonte O Extra.
Redação Gdsnews.

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