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Queda de 42% em empregos formais expõe apagão de mão obra na construção.

Cenário de escassez de trabalhadores pode refletir em aumento no custo de obras, afirmam representantes do setor.

O saldo de carteiras assinadas nos primeiros dois meses do ano em Mato Grosso do Sul divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego, por meio do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) evidencia o agravamento da carência de mão de obra na construção civil.

Até fevereiro deste ano o setor acumulou 1,9 mil empregos formais, enquanto no ano passado o saldo foi praticamente o dobro, com 3,3 mil (-42,59%) contratados.

Ainda de acordo com os últimos dados do Caged, no 1º bimestre de 2024 foram criados 10.709 vagas de trabalho no Estado, onde 1.903 correspondem a setor da construção, ou seja, o correspondeu à apenas 17,77%. Na mesma proporção, no ano anterior, ao total 11.296 pessoas foram formalmente admitidas, com uma participação de 29,34% da construção civil do Estado, queda de 11,57 pontos porcentuais entre um ano e outro.

Em janeiro foram 1.214 novas carteiras registradas no segmento da construção. Enquanto no mês seguinte, o segmento contratou 689 novos trabalhadores formais, redução de 43,25%. O resultado foi obtido a partir de 7.047 admitidos contra 5.144 contratos de trabalho encerrados em dois meses, gerando estoque de 35.517. Já no cenário geral do mercado de trabalho foram contabilizados 39.054 pessoas contratadas e outras 33.056 desligadas. O estoque atual de trabalhadores com carteira registrada chega a 668.674 pessoas em Mato Grosso do Sul no acumulado do ano.

Segundo economistas, mesmo diante da forte redução nas contratações, o setor tem alta demanda por trabalhadores devido à presença de grandes empreendimentos que estão se instalando no Estado.

A cidade de Ribas do Rio Pardo é um exemplo que se destaca, com saldo de 366 vagas na construção no mês de janeiro, como consequência da fase de edificação de fábricas. “Esse é efeito da vinda das grandes empresas como a Suzano e também grandes redes da construção civil”, avalia o doutor em Economia Michel Constantino.

O mestre em Economia Lucas Mikael também destaca outra grande obra que impacta amplamente o segmento. “Os investimentos na Rota Bioceânica e nas indústrias de celulose impulsionam a economia local, tornando o Estado uma opção atrativa tanto para investimentos industriais quanto para residência de trabalhadores futuros”, exemplifica.

Saldo de empregos na construção civil

SETOR

Diante do cenário, o risco de um apagão por falta de mão de obra se torna cada vez mais evidente. Conforme os representantes do setor, a falta de mão de obra começou em 2018, mas ganhou força durante pandemia, quando muitos profissionais decidiram se aposentar ou trocar o serviço pesado da construção por trabalhos informais, como o de motorista por aplicativo.

Os empresários do setor demonstram-se preocupados com o cenário atual. “A falta de pessoas para atender a demanda por mão de obra no setor da construção, atinge não somente as funções que exigem maior qualificação, mas também nas de menor exigência em qualificação, como as funções mais básicas de entrada no setor como servente e ajudante”, detalha o presidente do Sindicato da Indústria da Construção no Estado de Mato Grosso do Sul (Sinduscon-MS), Kleber Luís Recalde.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário de Campo Grande (Sintracom), José Abelha Neto, atribui a carência de profissionais ao momento de crescimento que o Estado vivencia.

“Hoje o problema de mão de obra está acontecendo devido a esse “boom” de novas construções, tanto na Capital quanto no interior”, afirma.

Abelha aponta ainda que diversas construtoras trabalham para realizar o lançamento de imóveis. “Incorporadoras estão contratando e encontram dificuldades de encontrar trabalhadores qualificados, pois a procura é muito grande”, explica.

O presidente da Associação dos Construtores de Mato Grosso do Sul (Acomasul), Diego Canzi Dalastra, afirma que a falta de qualificação no segmento é um problema recorrente que vem se agravando nos últimos anos.

“Trabalhadores de serviços específicos da construção civil como por exemplo, azulejista, eletricista, pintor, calheiro, marmoreiro, essas profissões que exigem um treinamento mais técnico sempre estão em falta”, lista.

Para Dalastra o principal impacto é o aumento do custo da mão de obra. “Lei da oferta e demanda e principalmente o tempo que acaba atrasando os cronogramas por falta de mão de obra”, conclui.

INTERIOR

Para o presidente do Sindicato da Habitação de Mato Grosso do Sul (Secovi-MS) a ausência de mão de obra também se agrava na Capital pelas obras no interior, e ainda construções de alto padrão em cidades do agronegócio. “A mão de obra de Campo Grande costuma ser mais qualificada e como estas cidades [do interior] estão a todo vapor acabam levando temporariamente a mão de obra da Capital”, salienta.

O presidente do Sinduscon acrescenta que as grandes plantas industriais implantadas no Estado contratam um número impressionante de operários durante a fase de construção. “De modo inexorável desequilibra ainda mais a relação entre a oferta e a demanda de mão de obra no setor”, reforça.

Para Neto, a expansão da construção ocorre em massa por todo Estado, porém, cidades do interior como Ribas do Rio Pardo, Sidrolândia e Paraíso das águas se destacam. “Hoje a gente sabe que a fábrica da Suzanno emprega 12 mil trabalhadores. Muitos desses vêm de outros estados para completar o quadro aqui, justamente pela ausência de mão de obra”, relata.

O titular da Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck, destaca que o mercado da construção civil em Mato Grosso do Sul está extremamente ativo não só por causa das indústrias, mas o mercado residencial também com a retomada do programa Minha Casa, Minha Vida.

“O problema não é oferta e sim o profissional estar disposto, pois o que acontece é que a pessoa que é servente não quer continuar nessa posição, ele quer melhorar. E outro grande problema é que não estamos conseguindo inserir o jovem nessa profissão”, analisa.

Verruk ainda afirma que o Estado continuará criando novas vagas para a área e por consequência gerará o encarecimento da mão de obra, exigindo uma melhor realização, devido à inexistência dessa mão de obra.

No âmbito da qualificação o secretário destaca que governo seguirá com as ações. “A gente vai continuar oferecendo esses cursos no ramo da construção, que é eletricista, azulejista entre outros”, finaliza.

 

Fonte CE.

Redação Gdsnews.

 

 

 

 

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