Somente em agosto, 23 órgãos destinados a transplantes foram “perdidos”

Santa Casa de Campo Grande – Foto CE.

No início de agosto, o contrato da Prefeitura de Campo Grande com o laboratório de histocompatibilidade Bio Molecular – único habilitado em Mato Grosso do Sul para exames de rejeição e compatibilidade de transplante de órgãos – chegou ao fim, sem previsão de renovação por parte da Prefeitura.

A Prefeitura alega que a responsabilidade de contratar o laboratório é do Estado, então, desde o início da discussão, Mato Grosso do Sul está sem laboratórios que realizem os exames para possibilitar que pacientes que aguardam na fila de órgãos sejam transplantados.

Em nota, a Santa Casa de Campo Grande explicou que, devido à ausência de exames de compatibilidade, a Organização de Procura de Órgãos (OPO) do hospital está impossibilitada de captar e disponibilizar órgãos para transplantes em todo o país.

Os dados levantados pela OPO mostram que, no mês de agosto, as doações precisaram ser zeradas, já que, sem o sistema, nenhum novo órgão pode ser doado. Além disso, 23 órgãos deixaram de ser ofertados.

“Em agosto 23 órgãos foram deixados de ser ofertados, foram dez rins, cinco fígados, quatro pâncreas e quatro corações que estavam aptos e poderiam salvar inúmeras vidas aqui e fora do Estado. É uma situação alarmante e extremamente séria”, destacou Patrícia Berg Leal, coordenadora médica da OPO Santa Casa.

De acordo com a Dra. Rafaella Campanholo, médica nefrologista responsável técnica pelos transplantes renais, a rotina de atendimentos no ambulatório do Serviço de Diálise da Santa Casa tem sido angustiante.

“Nós estamos sofrendo com toda essa situação tanto quanto os pacientes. É um descaso com aqueles que são portadores de doenças crônicas. E desses rins que estavam aptos, poderíamos ter aproveitado todos, principalmente dos doadores mais jovens”, enfatizou.

Ainda em nota, a Santa Casa explicou que a alternativa oferecida pela Secretaria de Estado de Saúde (SES) deve tornar o processo de doação e transplante de órgãos mais lento, já que a ideia é realizar os exames em outros estados, sendo que o laboratório com menor tempo de entrega do resultado demora até dois dias.

A Dra. Patrícia Berg Leal, explica ainda que o impacto no serviço é grande, tendo em vista que das 10 famílias entrevistadas sobre a possibilidade de doação de órgãos, seis delas não autorizaram pelo receio na demora da liberação do corpo, isso por falta desses exames de histocompatibilidade em Mato Grosso do Sul.

A situação também prejudica os 79 pacientes que estão em tratamento de diálise crônica, sendo que, destes, 36 estão listados ou em estudo para entrarem na fila por um rim.

“Não haverão doações assim, e com isso os pacientes que aguardam por um órgão continuarão à espera, porém sem uma devolutiva sobre o desfecho. Se não tiver doação, não terá transplante. É difícil para as famílias esperarem tanto tempo pela liberação desses exames fora. ”, concluiu.

Entenda a paralisação

A paralisação se deve a um impasse entre a Secretaria de Estado de Saúde (SES) e a Secretaria Municipal de Saúde (SESAU).

No dia 16 de agosto, o secretário municipal, Dr. José Mauro Pinto de Castro, transferiu a responsabilidade do contrato para a SES, reforçando que o transplante é de obrigação do Estado.

“Por isso que existe a Central Estadual de Transplante, e que tem a obrigação de fazer o contrato com as equipes de captação; com as que vão fazer o transplante; captar órgãos em outras cidades. E inclusive contratar laboratórios”, afirmou.

Em resposta, a Secretaria de Estado de Saúde salientou que os valores repassados para Campo Grande, “são tudo o que o município usa na remuneração do contrato com o laboratório, sem precisar gerar despesas adicionais para isso”.

Além disso, a SES afirmou que quem contrata e, portanto, deve se responsabilizar pela execução do contrato, é o município, enquanto a secretaria estadual faz apenas a gestão do serviço.

Vale ressaltar que na data da declaração, os implantes no estado já estavam paralisados há 10 dias. Hoje, 15 dias após a declaração, 25 sem transplantes, a situação ainda não apresentou avanço.

Números

Como apurado pelo Correio do Estado, desde abril de 2022, Campo Grande já recebeu do Governo do Estado à soma de R$ 2.623.004,05, valor igual ao que o município recebeu do Ministério da Saúde no mesmo período.

Mato Grosso do Sul tem, aproximadamente, 150 pessoas na lista para doações, à espera por um transplante.

Além dessas, outros 1.800 pacientes são renais crônicos e, destes, de 30 a 40% são elegíveis para um transplante.

 

Fonte CE.

Redação Gdsnews.

 

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