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Ação inédita leva mulheres em situação de vulnerabilidade financeira ao cinema

Iniciativa da Associação Brasileira de Mulheres de Carreira Jurídica fortalece a discussão sobre racismo e empodera mulheres da região norte de Campo Grande

Uma iniciativa da Associação Brasileira de Mulheres de Carreira Jurídica (ABMCJ/MS) promove o acesso de centenas de mulheres em situação de vulnerabilidade financeira de Campo Grande para uma sessão de cinema exclusiva com a finalidade de incentivar a cultura, estimular a autoestima das mulheres e promover o empoderamento.
A iniciativa teve parceria da Prefeitura de Campo Grande, que ofereceu o transporte para as mulheres assistidas pelo CRAS Vida Nova, que oferece atendimento à população dos bairros Nova Lima, Oscar Salazar, Jardim Anache e Aldeia Água Bonita, na região norte de Campo Grande. A prefeita Adriana Lopes parabenizou a ação da ABMCJ/MS e destacou que a Prefeitura será parceira das próximas ações: “Essas iniciativas são promissoras e destacam a participação das mulheres nos espaços de poder. Estamos firmes neste propósito”, destacou.
O filme escolhido foi “A Mulher Rei” que conta a história baseada em fatos reais de uma tribo de mulheres guerreiras (o exército Agojie) lideradas por Nanisca, personagem interpretado pela atriz de Viola Davis. Elas são a força militar do reino de Daomé. A trama se passa em 1800, no continente africano África, no atual Benin, durante o período de tráfico humano e escravidão.
Visualização da imagemA presidente da ABMCJ/MS, Rachel Magrini, comenta que “‘A Mulher Rei’, dirigido e protagonizado por mulheres pretas, e todo o elenco do filme mostram a força e o poder da representatividade, fazendo com que conheçamos e reconheçamos as guerreiras que escreveram história, reconstruindo narrativas e trazendo novas protagonistas. Precisamos ir além da exibição, mas refletir sobre todas as abordagens do filme que é muito rico, fomentando o debate sobre racismo, trazer o assunto para o dia a dia”.

A advogada Elba Cardoso foi quem teve a ideia de realizar a sessão após assistir a uma entrevista com a atriz Viola Davis. “Ouvindo as palavras dela, que traziam, inclusive, detalhes de sua infância difícil, pensei em levar o filme para mulheres que estivessem em situação de fragilidade e vulnerabilidade, pois o tema é de superação e luta e baseado em uma história real. Na entrevista, ela refletia sobre sua própria jornada de orgulho e autoaceitação, como a que muitas mulheres vivenciam. Eu imaginei o quão importante seria levar essa mensagem e fazer com que ela chegasse a um número expressivo de mulheres”, destaca Elba Cardoso salientando o fato também de que a produção, direção e roteiro são feitos por mulheres.
Visualização da imagemPara a advogada Silmara Amarilla, o contexto trazido pelo filme pode ser explorado, sob a vertente do gênero, a partir de inúmeras perspectivas. “A ideia um grupo de mulheres fortes e guerreiras, que lutam contra a opressão e se rebelam em face do sistema que lhes foi imposto (de violência, escravidão, submissão) move significativamente o imaginário feminino, tornando mais robusta a percepção de resistência, emancipação e revolução. Também reforça um olhar mais igualitário entre homens e mulheres na estrutura sociocultural, contribuindo para uma revisão dos estereótipos femininos – normalmente conjugados à docilidade, sensibilidade e ao cenário doméstico e privado –, servindo como inspiração para jovens e mulheres, que passam a questionar sua própria posição no seu universo particular e social”, detalha Silmara Amarilla.
MULHERES E AS REVOLUÇÕES PARA O DIA-A-DIA
“As mulheres guerreiras Agojie do filme não apenas são retratadas como instrumento de força para a superação do inimigo interno e externo. Elas também são importantes agentes políticos, tendo espaço de fala junto ao conselho da comunidade e grande influência nas tomadas de decisão”, analisa Silmara Amarilla que destaca a importância do filme para a vida das mulheres. “O senso de unidade e honra é atravessado no filme pela temática feminista e crítica ao racismo, permitindo, no meu modo de ver, que os espectadores, principalmente as espectadoras, se apropriem de sua “centelha heroica” para deflagrar “pequenas grandes” revoluções em sua própria história e na histórica daquelas que as cercam”, afirma Silmara Amarilla.
Visualização da imagemE a centelha foi acesa na vida das mulheres atendidas pelo CRAS Vida Nova que participaram da sessão. A coordenadora Adriana Nascimento explica que o filme fortalece o processo de conscientização e empoderamento das mulheres e trouxe resultados imediatos. “Duas mulheres após o filme procurara, a equipe de apoio para denunciar a violência que estão vivenciando. A maioria das mulheres, ao final do filme, vieram emocionadas agradecer. Entre elas, algumas brincavam. Uma pessoa me deixou feliz ao relatar “Me identifiquei com o filme, sou guerreira e vou lutar até ser vitoriosa”. É gratificante ter contribuído de alguma maneira para mudar a vida dessas mulheres que sofrem em silêncio”, relata.
Adriana Nascimento ainda destaca a importância do projeto para as mulheres atendidas pelo CRAS Vida Nova. “Levando em conta o alto índice de feminicídio, o projeto provoca na mulher uma forma de levar conhecimento para ela defender seus direitos, buscar apoio dentro de programas para sanar as dificuldades que as mesmas vivem na sua vida real. A “Mulher Rei” traz uma mensagem com o intuito de desenvolver e fortalecer o empoderamento feminino às mulheres que vivem em vulnerabilidade e aparecem em grandes estatísticas expostas a todos os tipos violências e discriminação”, diz a coordenadora do CRAS.
E a iniciativa da ABMCJ/MS com a sessão de cinema cumpre o seu papel de promover a cidadania das mulheres ao levar ao público o acesso ao conhecimento e à cultura por meio da sessão de cinema. O resultado dessa atividade para mais de cem mulheres é resumido pela coordenadora do CRAS em meio a sensações que aumentam a esperança de dias melhores para as mulheres. “Você não tem ideia do sentimento que emana do nosso interior. É gratificante ter contribuído de alguma maneira para mudar a vida dessas mulheres que sofrem em silêncio”, conclui Adriana Nascimento.

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