AgronegóciosFixoMato Grosso do Sul

“A atividade industrial da celulose será a mais importante, superando a soja”

Mato Grosso do Sul se prepara para um novo desafio no setor florestal, que é chegar a 2 milhões de hectares de florestas plantadas antes de 2030; a meta foi anunciada pelo presidente da Reflore

Mato Grosso do Sul deve atingir 2 milhões de hectares de florestas plantadas antes de 2030. Essa é a estimativa do presidente da Associação Sul-Mato-Grossense de Produtores e Consumidores de Florestas Plantadas (Reflore-MS), Luiz Calvo Ramires Júnior, mais conhecido como Júnior Ramires.

Ao todo, são R$ 50 bilhões em investimentos na área da celulose com a instalação de duas unidades industriais: uma da Suzano, em Ribas do Rio Pardo, e outra da Arauco, em Inocência. De acordo com Júnior Ramires, em um futuro não muito distante, Mato Grosso do Sul terá mais fábricas de celulose.

O raciocínio do empresário leva em conta dois fatores: o aumento do consumo mundial em uma média de 1,5 a 2 milhões de toneladas de celulose por ano e a disponibilidade de terras para matéria-prima, que é o eucalipto. Júnior Ramires explicou que, em Três Lagoas, o número de fábricas – que eram duas – já aumentou para três e poderá chegar a quatro. Nos casos de Ribas do Rio Pardo e Inocência, essas unidades serão duplicadas, como aconteceu com a Suzano em Três Lagoas.

O que Júnior Ramires mais espera mesmo é a diversificação da produção florestal, principalmente na parte madeireira, de geração de energia, além do carvão vegetal para a indústria de ferro-gusa e, mais à frente, na indústria moveleira. Com isso, o setor florestal que gera mais de 27 mil empregos deve ter esses números elevados.

Luiz Calvo Ramires Júnior – PERFIL

Com 52 anos, Júnior Ramires é sócio-diretor das Empresas Ramires e CEO da Ramires Reflortec. Além de atual presidente da Reflore-MS e da Câmara Setorial de Florestas Plantadas do Ministério da Agricultura.

Foi coordenador da Câmara Setorial de Florestas Plantadas em MS e vice-presidente da Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ).

O Estado continua sendo a bola da vez quando se trata de investimentos florestais. São R$ 50 bilhões em investimentos privados, além do plano estadual. Há ainda espaço para crescer em MS?

Os planos que temos feito têm sido superados. Em 2010, fizemos um plano para atingir um plantio de um milhão de hectares em 2030, mas chegamos em 2018. Já estamos em um segundo plano estadual, e agora o maior objetivo é conseguir diversificar as atividades florestais e, até o fim desta década, devemos chegar uma área plantada de florestas de 2 milhões de hectares. Esse volume de floresta é necessário que seja atingido para atender à demanda que está sendo criada.

Hoje, estamos passando por um momento diferente que tivemos no passado. O plano estimulou a oferta de madeira e a demanda era menor que a oferta. A demanda está aumentando e deve crescer ainda mais. Já a oferta talvez não consiga acompanhar no ritmo que o mercado vai precisar. Algumas atividades tendem a ter uma dificuldade no acesso à matéria-prima. Há uma indústria madeireira, outra de geração de biomassa.

Esses investimentos de R$ 50 bilhões divulgados são para celulose.

Na década passada, dizia-se que o crescimento no consumo de produtos oriundos da celulose era tão grande que seria necessário construir uma fábrica de celulose a cada três anos. Essa lógica prevalece?

A demanda de celulose no mundo cresce anualmente a um ritmo que varia entre 1,5 milhão de toneladas e 2 milhões. O mercado de celulose não é muito a especialidade da Reflore-MS, mas a celulose tem sido, sim, a maior consumidora de madeira. Dentro desta lógica, torna-se necessário a construção de uma fábrica a cada dois anos. As empresas que produzem celulose fazem parte da Reflore-MS e acompanhamos tudo o que acontece no mercado florestal.

Mato Grosso do Sul tem recebido muitos nomes relacionados à indústria de base florestal. Capital Mundial da Celulose, para Três Lagoas, e, mais recentemente, a região do Bolsão recebeu o nome de Vale da Celulose. Como vem a diversificação da produção, que produtos são esses e novos apelidos poderão vir?

Seria melhor chamar de Vale da Floresta ou Vale da Madeira. A ideia visada dentro do projeto lançado pelo Estado é justamente voltado para a diversificação do uso da madeira. A celulose é o carro-chefe do consumo.

O amadurecimento do mercado florestal é o que a gente pretende para os próximos anos em termos de desenvolvimento. Mas quais produtos são esses? Madeira para energia, carvão vegetal para a indústria de ferro-gusa, a indústria de chapas de MDF com uma unidade em Água Clara, a indústria moveleira, madeira sólida serrada. Vamos suprir todos esses mercados. O pé da árvore vai para um mercado, o meio dela para outro e a ponta para mais outro. Quando tivermos um mercado para cada seção de madeira, poderemos dizer que temos um amadurecimento para o mercado.

Há a possibilidade de outras espécies de madeira fora o eucalipto? Alguma madeira nobre?

Por enquanto, não. Há, sim, experiências, mas são muito pontuais. Não acho que teremos expansão nessas outras áreas madeireiras. Contudo, a seringueira é, sim, uma atividade que pode crescer, sobretudo porque falta pneu no mundo. O Estado tem potencial para isso. Então, além da silvicultura do eucalipto, vejo um espaço a ser explorado pelo cultivo de seringueiras.

Os 7 milhões de hectares de terras degradadas pelo antigo sistema de pecuária extensiva podem ser utilizados pelo setor florestal?

Em 2010, falava-se que o Estado teria de 9 a 10 milhões de hectares de terras degradadas, pastagens degradadas ou subaproveitadas. Isso era o que a gente tinha com informação. Foi, sim, uma grande oportunidade para o setor florestal.

Uma parte dessa área foi ocupada por florestas. Em outra parte dessas terras, as áreas foram consorciadas, proporcionando ao produtor rural mais possibilidades de se obter ganhos com as terras. O Estado tem vocação para o agronegócio e tem possibilidade de avançar nesta questão, por exemplo, a integração lavoura, pecuária e floresta [ILPF].

Por este raciocínio, isso significa que a produção de eucalipto para a celulose vai aumentar?

Não só para a celulose. Em Três Lagoas, tínhamos duas unidades industriais, agora temos três. Há espaço para mais uma. Em Ribas do Rio Pardo, uma nova fábrica está sendo construída e, mais à frente, também poderá ser duplicada.

Da mesma forma, mais à frente ainda, pode acontecer com a fábrica anunciada em Inocência. Serão oito fábricas.

Este é o cenário já configurado só para o setor de celulose. Daí, serão 2 milhões de hectares. A grande vantagem é que agregamos valor à produção e atividade rural melhora. A atividade industrial da celulose será a mais importante, superando até a soja.

O Estado tem hoje 16 milhões de hectares utilizados para o agronegócio. A soja ocupa 7 milhões, o setor florestal, 1,2 milhão. Esses números vão mudar. O mais importante será a geração de riquezas para o Estado em um ambiente de sustentabilidade.

O setor florestal tem números grandiosos. Neste aspecto, há espaço para pequenos e médios negócios? Qual recado você daria para estes produtores? Dá para montar serrarias e viveiros florestais, por exemplo?

Vivemos um momento diferente na economia do Estado e nacional. O setor florestal tem uma prestação de serviço muito bem demandada. A muda, por exemplo, é um insumo muito requisitado e que poderá ter uma necessidade ainda maior. Talvez não estejamos plantando tanto como deveríamos.

A muda não é tão fácil de ser produzida. É uma manipulação um pouco demorada. Essa atividade vai crescer muito, mas não há espaço para aventureiros. Neste mercado, é preciso ter bastante dinheiro para entrar. É necessário ter representatividade.

Por isso, quem estiver disposto a entrar é preciso avaliar bem este negócio, porque não é para amadores e não se pode fazer de qualquer jeito. Informação é tudo e o setor florestal brasileiro é forte. Esses investimentos em mudas de qualidade farão diferença, assim como as consultorias especializadas.

A celulose tem ocupado a região do Bolsão. Há outras regiões do Estado com essa vocação?

A concentração do setor florestal se manterá no leste, no Bolsão. As áreas degradadas que precisamos para transformá-las em áreas produtivas estão nessa região.

Hoje, o mais importante é que setor tem a dispensa do licenciamento ambiental, no caso, no bioma Cerrado. Já no Pantanal, nós não atuaremos.

O crescimento se dará nas regiões onde já estamos, porque há a ampla possibilidade de expansão. O Estado de Mato Grosso do Sul está divinamente bem servido.

Há espaço para a agricultura, para a pecuária, para a silvicultura, para a agroindústria e até para o ecoturismo. Tem área para tudo. O Estado é bem resolvido.

O Estado levantou a bandeira da sustentabilidade, mas há quem afirme que o setor florestal é poluidor. Isso procede?

Para começar é bom ressaltar que o setor planta árvores. Como um setor assim pode ser considerado poluidor? Isso é uma briga jurídica e no Congresso Nacional já há um movimento para retirar o setor de potencialmente poluidor e colocá-lo como colaborador do meio ambiente.

Nós plantamos árvores e recuperamos áreas degradadas. É bom verificar que o setor está dispensado do licenciamento ambiental. Essa lei já tem 15 anos.

Desafio alguém apresentar uma multa ambiental de alguma empresa do setor florestal. As empresas florestais são todas certificadas por organismos nacionais e internacionais. Todas as empresas que plantam também têm reservas legais e protegem as florestas nativas.

 

Fonte CE.

Redação Gdsnews.

 

 

 

Mostrar Mais
Botão Voltar ao topo