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Dobrou o número de mulheres que ocupam cargos no agronegócio

Inovação exigida no campo abriu espaço no mercado e 34% das fazendas possuem uma mulher na gestão

Responsável por 30% do Produto Interno Bruto (PIB) de Mato Grosso do Sul, o agronegócio é um dos pilares da economia estadual. Nesse setor, que tem o estigma de ter homens à frente dos negócios, a presença de mulheres tem crescido ao longo dos últimos dez anos e atingiu a marca de 109% de crescimento.

O Sistema Famasul fez um levantamento no qual cruzou os dados do Ministério do Trabalho para identificar como está o papel da mulher no campo atualmente.

Na pesquisa, foi identificado que, em 2010, havia 1,1 mil mulheres participando de atividades agrícolas no Estado. Em 2020, esse número passou para 2,4 mil. Em termos de ocupação das mulheres na agropecuária sul-mato-grossense, em 2010, elas eram 13,73% dos empregados no campo. Dez anos depois, esse número aumentou para 14,26%.

Em particular, a criação de bovinos é uma área econômica que as mulheres passaram a ocupar com grande representação. O abate de gado tem posição importante na economia sul-mato-grossense.

No ranking do agronegócio, MS aparece em 3º lugar no abate de gado, e nesse ramo de pecuária as mulheres cresceram 53,44% na gestão de negócios. As fazendas onde elas estão ficam espalhadas, mas estão principalmente localizadas no Pantanal e na região norte de Mato Grosso do Sul.

“O crescimento da atuação das mulheres nas atividades agrícolas acompanha o aumento da produção e de tecnologias presentes no agronegócio, gerando oportunidades para todos. A atuação das mulheres no campo será cada vez maior, considerando que elas apresentam um nível de escolaridade proporcionalmente superior aos homens em razão da contínua capacitação profissional”, explica a analista técnica do Sistema Famasul, Eliamar Oliveira.

O papel da mulher no campo é um tema que vem sendo trabalhado por diferentes instituições e órgãos como forma de inclusão e abertura de mercado. Uma das iniciativas pioneiras nesse quesito, por exemplo, é a Organização das Nações Unidas (ONU), que em 1995 ressaltou a necessidade de se ter um olhar nessa realidade, não só na agricultura familiar, mas também em propriedades com alta tecnologia e produção mais ampliada. Desde 1995, a ONU passou propagar esse contexto, depois que instituiu o Dia Internacional das Mulheres Rurais, que é celebrado em 15 de outubro.

ATUAÇÃO

Ainda para posicionar essa realidade de mercado e condição das mulheres no ramo do agronegócio, setor que recebe holofotes das autoridades brasileiras, no fim de outubro, o Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio chegou à sua oitava edição.

A diretora-executiva da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Gislaine Balbinot, comenta que o trabalho de pesquisas para verificar a atuação feminina no agronegócio passa até pela barreira em que a própria mulher não se considera gestora de um negócio agrícola.

“A primeira vez em que fizemos essa pesquisa tivemos de tirar vários cadastros porque a própria mulher não se enxergava como gestora, porém, ela fazia todo o processo”, relata.

Ela finaliza dizendo que a mulher está em todos os setores na produção. “A mulher estava fazendo tudo e não se via como gestora, atribuía a marido, pai ou qualquer homem da família o papel de gestor, mesmo ela estando presente e até responsável por esse trabalho todo”.

O congresso também serviu de palco para a divulgação de um estudo complementar a pesquisa do Sistema Famasul. Este ainda acrescenta que um dos desafios que persiste é a questão da remuneração.

Levantamento identificou, a partir da base de dados do Ministério do Trabalho, que as mulheres recebem remuneração 17% inferior à dos homens no agronegócio. Naquela altura, o salário médio do emprego formal no setor agropecuário era de R$ 1.950 para os homens, ante R$ 1.606 para as mulheres.

E com relação à escolaridade, mencionada pela analista técnica da Famasul, o levantamento apresentado no Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio referendou essa condição. Apesar disso, ainda existe questionamento intelectual no caso de mulheres funcionárias em empresas do agro.

“Apesar do aumento gradativo de mulheres atuando no agro, a diferença entre a remuneração média mensal de homens e mulheres ainda é significativa no Brasil”, ponderou a sócia de consultoria tributária da Deloitte, Carolina Verginelli.

Segundo a pesquisa da consultoria, o agronegócio é uma das indústrias com a menor participação feminina na pesquisa da empresa. São 16% dos trabalhadores totais no setor. Apenas a indústria extrativista e a construção civil têm menor índice de mulheres, 12,8% e 10,2%, respectivamente.

Conforme dados do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged), o setor agropecuário de Mato Grosso do Sul contratou 1.001 mulheres em 2022. Dos 7.966 trabalhadores empregados no ano pelo setor, apenas 12,56% são mulheres.

LIDERANÇA

A ocupação de cargos de liderança também é uma tendência que está sendo consolidada, principalmente quando se trata de fazendas. A Fundação Getúlio Vargas (FGV) indicou que as mulheres ocupam a gestão em 34% das fazendas do País, atualmente.

Dentro do contexto desses dois levantamentos complementares, um exemplo dessa condição é o da pecuarista Cristiane Paschoaletto, responsável pela administração financeira de duas fazendas no Pantanal e outra na região norte.

A empreendedora trabalha com fazendas de cria e recria no Pantanal de Rio Negro. Cristiane também planeja atuar com uma parte de sua produção no sistema de confinamento em outra propriedade, que fica na região de Camapuã.

“Meu pai já mexia com fazenda. Ele só criava gado. Ele só teve filha mulher e foi mostrar para a gente o que precisávamos entender para cuidar do que poderia ser nosso. Quando ele faleceu [em 2017], eu decidi assumir de vez. Minha mãe chegou a tocar sozinha uma fazenda. Mas ela veio a falecer também”.

“Os dois me ensinaram muito, e foi com eles que aprendi a gostar. Hoje tenho apoio do meu marido, trabalhamos juntos. A gente faz planejamento e não dá um passo maior do que a perna”, detalha Cristiane, ao ressaltar o que aprendeu com o pai, Geraldo Ângelo Paschoaletto, e com a mãe, Shirley Veneranda D. Paschoaletto, para assumir a direção de três fazendas.

Cristiane implementou tecnologia nas propriedades que administra e tem gestão de inseminação artificial para poder controlar melhor a qualidade do gado. Além disso, a questão de obter a certificação de gado sustentável foi outra iniciativa tomada em torno da inovação.

Para garantir essa certificação, ela conta com apoio do Sebrae-MS, por meio do programa Pró-Pantanal, e da Associação Brasileira de Pecuária Orgânica (ABPO).

“Antigamente, a criação de gado no Pantanal era só no campo. Veio à concorrência e a tecnologia passou a ser importante para auxiliar essa produção. Agora, temos a certificação. A gente precisa se atualizar para não ficar para trás”, opinou a pecuarista.

 

Fonte CE.

Redação Gdsnews.

 

 

 

 

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