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Marcas abandonam uso de pele animal para agradar millennials, afirma pesquisadora

Entre os jovens, ativismo pelo direito dos animais e por tecnologia sustentável entraram na moda no lugar do luxo e ostentação de roupas que exigem a matança de bichos.

Os millennials são responsáveis pela redução do uso de pele animal na indústria da moda, afirma a professora do curso de moda da Faculdade Armando Álvares Penteado (Faap), Monayna Pinheiro. Segundo a especialista, os jovens estão mais conectados ao ativismo em relação ao sofrimento animal e buscam um consumo mais sustentável.

 

“A geração nascida entre 1980 e 2000 é muito mais ligada às questões de sustentabilidade e não faz sentido que usem peles animais se há boas opções sintéticas”, disse Pinheiro em entrevista.

A demanda por peles de animais é um dos motivos que levaram, por exemplo, à matança de cerca de 5 milhões de jacarés no Pantanal na década de 1980, um problema que levou à criação da Polícia Militar Ambiental e a mudanças na legislação brasileira para endurecer o combate à caça, como o G1 mostrou no Desafio Natureza.

 

Para a especialista em moda, o recuo de grandes marcas, como Hugo Boss, Michael Kors, Burberry, Gucci e, mais recentemente, a francesa Chanel, está relacionado à pressão dos movimentos de proteção animal, além do próprio mercado, que exige soluções mais ecológicas e éticas.

 

A americana Sophia Charchuk, porta-voz da ONG Peta, conta que a pressão da organização e do público fez com que grandes marcas de moda parassem de usar peles, e ressalta que mais de mil empresas em todo o mundo já aderiram ao uso da etiqueta “Vegan aprovado pela Peta” em seus produtos.

 

No Brasil, Pinheiro conta que, recentemente, uma grande marca foi bombardeada com críticas depois que a garota propaganda da grife, uma jovem influenciadora digital, divulgou em suas redes sociais fotos com um casaco feito integralmente com pele de coelho.

 

A ONG norte-americana concorda com a pesquisadora ao reforçar que uma clientela mais jovem e mais “socialmente consciente” esteja liderando uma mudança no setor da moda. Além de as empresas de vestuário estarem abandonando as peles de animais, muitas cidades e países ao redor do mundo proibiram completamente o uso de peles.

 

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Necessidade ancestral

A escolha da pele para se vestir é primeiramente uma questão histórica, comenta a especialista brasileira. A primeira forma que o homem encontrou para se aquecer foi através do uso de pele animal, resultado da caça. Entretanto, com a evolução de práticas e técnicas, essa escolha passou a ser associada ao luxo.

 

“Tem a questão da ostentação. Para confeccionar um casaco de pele de coelho tem que se abater quase 30 animais. Isso para um casaco médio”, conta Pinheiro.

 

A professora de moda comenta também que a maior pressão dos movimentos está voltada à redução do uso de peles de animais exóticos, como crocodilos, cobras, lagartos, arraias e coelhos. Mas ela explica que o couro, a lã e até mesmo a seda são “não-tecidos” de origem animal que seguem sendo bastante utilizados.

 

“A maior pressão está no que seriam os animais exóticos, mas em um segundo momento, movimentos como o Peta visariam extinguir o uso da pele ou de produtos de origem animal qualquer que seja”, explica.

 

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Moda insustentável

Além do sofrimento animal, os críticos ao uso de peles argumentam que todo o processo de tratamento do material é insustentável. Para a pele não apodrecer, é preciso prepará-la com produtos químicos danosos ao meio ambiente, e os processos de tingimento têm grande consumo de água.

 

A professora de moda questiona também as condições do abate que se relacionam a um baixo aproveitamento de material, cuja perda é muito grande — esta foi à justificativa dada pela Chanel para tirar de seu catálogo o uso de pele animal.

 

Entretanto, Pinheiro alerta que a escolha por peles sintéticas não é ideal, já que elas são feitas com derivados do petróleo. Para opções mais amigáveis ao meio ambiente, a professora recomenda fibras naturais, como o algodão e a ráfia.

 

Por sua parte, a porta-voz da Peta destaca que essa crescente demanda por roupas sem crueldade e ecologicamente corretas levou ao desenvolvimento de novos materiais, inovadores e “pet-friendly”, como a pele vegana, o couro vegano e alternativas ecológicas, como malhas sem lã.

 

“A produção de tecidos livres de animais tem uma pegada de carbono muito menor do que a produção de peles ou couro. Mais de 90% do impacto ambiental do couro é causado pelo uso da terra e pelas emissões de gases de efeito estufa associados à agricultura”, diz Charchuk.

A protetora dos direitos animais destaca ainda que produzir uma peça de pele animal é até dez vezes mais prejudicial ao meio ambiente que produzir uma feita de pele artificial.

 

Couro de abacaxi

Entre as tendências do mercado, a pesquisadora brasileira comenta que opções sintéticas substituem o uso de pele animal com grande qualidade, tanto em termos de acabamento quanto em conforto. Ela explica que as opções conseguem reproduzir pelos originais, longos e curtos, com o mesmo poder de aquecimento.

 

Pinheiro dá o exemplo da iniciativa responsável pelo material Piñatex, um “couro” feito com a fibra das folhas do abacaxi pela designer espanhola Carmen Hijosa. A alternativa ao couro pode ser usada em roupas, sapatos e acessórios, e já faz parte do catálogo de marcas famosas, como Hugo Boss.

 

 

A fibra da folha do abacaxi é um subproduto da indústria agrícola, o que não gera gastos extras, água ou defensivos agrícolas para sua produção e tem a mesma textura, isolamento e função que o couro animal ou sintético. A produção da marca está localizada nas Filipinas.

 

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Fonte G1 Natureza.

 

 

 

 

 

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