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MS fecha o cerco contra a febre aftosa

Governo implanta medidas de fiscalização para ganhar status de livre da doença sem vacinação

Com o avanço no plano de se tornar área livre de febre aftosa sem vacinação, Mato Grosso do Sul se prepara para preencher os últimos pré-requisitos.

Para intensificar o controle sobre os animais transportados no Estado e mitigar os riscos de retorno da doença, a gestão estadual está implantando um aplicativo para controlar o trânsito de cargas vivas.

De acordo com a portaria da Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal (Iagro), a partir de 1º de julho, todo animal de produção que circular em Mato Grosso do Sul deverá ser monitorado pelo transportador da carga.

“Caminhoneiros e motoristas, quando iniciarem uma viagem, vão apontar o celular para o QR Code da GTA [Guia de Trânsito Animal] e a partir desse momento vão lançar a origem e o destino. No meio do caminho teremos pontos de intermédio para controle desse trânsito”, explica o diretor-presidente da Iagro, Daniel Ingold.

Segundo a agência, será obrigatório para todas as cargas vivas de animais de produção. Suínos, equídeos, peixes, abelhas, caprinos que tiverem circulação pelo Estado também precisam notificar o transporte pelo app.

O mandatário da Iagro afirma que esta medida é inédita no Brasil.

“MS será o primeiro estado a implementar controle de trânsito, é uma obrigatoriedade para atingirmos o selo de área livre de febre aftosa. É importante falarmos que não estamos retirando a obrigatoriedade da vacina, e sim elevando o status sanitário do Estado”.

Segundo ele, isso é um grande avanço para o mercado de exportação de carne. “Teremos acesso a mercados mais exigentes, talvez não seremos tão reféns de um mercado grande, como a China”, pondera.

MONITORAMENTO
O titular da Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro), Jaime Verruck, explica que outro ponto é a implementação do Projeto Loboguará.

“[O projeto] Faz monitoramento permanente na área de fronteira, junto do aplicativo esses são todos os pré-requisitos para retirarmos a obrigatoriedade da vacina”, comenta.

Daniel Ingold diz que os sistemas da agência ficam atentos a esses animais e ao fluxo deles dentro do Estado. “Quase 99% dos pecuaristas do Estado seguem as determinações. Temos 700 quilômetros de fronteira seca com o Paraguai, mais outros quase 700 km de fronteira separada por rio, esse controle de trânsito vem para fiscalizar quem está errado e proteger quem está certo”, declara.

Jaime Verruck ainda diz que a fiscalização é essencial para que mantenhamos os níveis sanitários do gado de corte depois de 1° de janeiro de 2023, quando deve cair a obrigatoriedade da vacinação.

“Então, o aplicativo vem para monitorar o trânsito do gado, para que a partir de janeiro possamos retirar a obrigatoriedade da vacina. Depois disso, faremos exames de sorologia para controle do vírus, todo o gado vacinado tá com o vírus, e posteriormente vamos verificando e controlando”, finaliza.

MUDANÇA DE STATUS
O Estado já teve o maior rebanho bovino do País e hoje figura como o quinto maior, principalmente, segundo os representantes do setor rural, por focar na qualidade da produção.

Inicialmente, MS lutou para conseguir o status de livre da doença com a vacinação. Em 1999, um foco de aftosa foi registrado em Naviraí, deixando pecuaristas do País em alerta.

Somente em 2001, Mato Grosso do Sul passou a ser considerado zona livre de aftosa com vacinação pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE).

No entanto, em outubro de 2005, foi confirmado um novo foco de febre aftosa no município de Eldorado, o primeiro registro da doença no Estado desde 1999. A certificação da OIE só foi recuperada em julho de 2008.

Desde 2011, o Estado começou a debater o fim da vacinação, para entrar em um outro patamar de qualidade da produção. O plano estraTégico foi traçado como meta entre 2017 e 2026 para tornar diversos estados livres da doença sem a vacinação.

Conforme publicado no Correio do Estado na edição do dia 2 de maio, a última etapa de imunização será realizada em novembro deste ano, sendo assim, a partir do ano que vem MS passa por 12 meses de “vigilância” para conquistar o reconhecimento.

O governador Reinaldo Azambuja (PSDB) acredita que a certificação é resultado de um trabalho que vem sendo realizado há anos.

“Isso aumenta muito a competitividade dos nossos produtos da agropecuária, vai trazer um novo perfil da agropecuária de Mato Grosso do Sul, nossos produtos serão mais valorizados lá fora, aquilo que é produzido aqui terá um valor agregado e toda a sociedade ganha com isso”, afirma.

A certificação deve trazer, além da abertura de novos mercados, a possibilidade de preços mais altos pagos ao produtor.

“Representa a abertura de importantes e exigentes mercados mundiais, impulsionando a economia de nosso Estado”, destaca o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de MS (Sistema Famasul), Marcelo Bertoni.

Como vai funcionar o aplicativo
O primeiro passo a ser feito pelo caminhoneiro é entrar no portal da Iagro na internet e cadastrar o motorista, o veículo e o número do chassi da carroceria. A partir daí, é preciso fazer o download do aplicativo na loja virtual do celular, Play Store ou Apple Store.

Quando iniciada a viagem, o motorista deve ler o QR Code gerado pela e-GTA com a câmera do celular para fazer um check-in do transporte. Ele insere a origem, o destino e a carga a ser transportada e está liberado para o trânsito.

Conforme Verruck, todos os veículos transportadores de gado de MS serão cadastrados. “Temos uma base que pegamos do Detran, mas toda pessoa precisa se cadastrar. Quando ele passar pela câmera ao longo da estrada, vamos identificar de onde ele tá vindo, para onde ele vai, se o caminhão está cadastrado, se é caminhão boiadeiro e qual tipo de gado está sendo transportado”, resume.

A partir de 1º de julho, todos os veículos deverão indicar as viagens. A Iagro informa que já é possível adequar-se à ferramenta ainda em maio. Viagens feitas após julho e que não forem avisadas podem acarretar em prejuízos para o produtor rural.

No caso de bovídeos, o comprador fica impedido de dar entrada na boiada nos sistemas da Iagro, pois o aplicativo é integrado com as bases de dados da agência.

Caso a carga seja inspecionada em trânsito e seja constatado que o aplicativo não está sendo utilizado, as propriedades envolvidas no transporte, tanto a de origem como a de destino, serão fiscalizadas por técnicos estaduais e, se constatadas irregularidades, serão aplicadas multas a serem estipuladas pela Iagro.

De acordo com o órgão, as apreensões de carga somente serão utilizadas como punição caso o transporte esteja sendo efetuado sem a emissão das guias, algo que já é praticado no Estado normalmente. (Colaborou Naiara Camargo).

REDAÇÃO

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