Um ano depois da morte de Erasmo Carlos, o apartamento no Leblon, Zona Sul do Rio de Janeiro, que o cantor comprou com a esposa, Fernanda Esteves, dois meses antes da sua internação segue intacto. O quadro que ela recebeu de presente, não foi desembrulhado e segue no chão, encostado na parede, esperando para ser pendurado. O jornal O Globo, que o cantor tanto gostava de ler diariamente, teve a assinatura mantida. Mas passou a ser empilhado diariamente no chão da sala. Foi o que Fernanda foi fazendo aos poucos, enquanto esperava o marido voltar do hospital, e mais tarde virou uma lembrança.
“Erasmo passou 36 dias internado e ler jornal era algo que não podia faltar na rotina dele. Era um hábito, iniciava o dia assim. Nesses 36 dias, em que ele não estava se sentindo bem, eu oferecia o jornal, e ele recusava. Na última semana de vida, a gente renovou a assinatura do jornal e Erasmo falou: ‘Guarde os exemplares da semana, porque eu vou ter alta na quarta-feira, aí vou ler quando chegar’. E guardei. Foi chegando, não conseguia não guardar mais, fui colocando todos eles numa pilha”, disse Fernanda, em entrevista à TV Aparecida, em um programa sobre o luto.
Deixar a casa intacta, foi a forma que a viúva encontrou de se localizar na vida e ir superando o luto aos poucos.
“A pilha de jornal representa a falta dele para mim. Cada jornal posto ali, é um dia sem ele aqui. E vai sendo assim. Já caiu a pilha, no dia do aniversário dele, inclusive. Eu olho para ela e me localizo. Consigo me situar no dia a dia quando chego aqui e o jornal está ali, o meu quadro fechado… Penso: ‘Ainda está faltando o Erasmo, mas alguma coisa dele está aqui'”, refletiu Fernanda.
Ajuda para superar o luto
Desde a partida do amado, Fernanda tem enfrentado várias fases do luto. Para ela, o que mais a irrita nesse período é quem procura consolá-la:
“Consolo raramente ajuda, ele irrita. A gente tem que ser reativo, sim. A vulnerabilidade atrai coisa que não é boa. A gente precisa encontrar um caminho. Eu sei que não é a intenção de alguém… Eu sei que eu preciso ‘superar’, ‘seguir em frente’, ‘continuar minha vida’, mas quais são os meios? A receita?”.
Ela, que já fazia terapia, manteve os encontros semanais com o psicólogo. Mas, no caso dela, precisou complementar a ajuda com algo a mais:
“O luto é a falta. Parar para pensar que a pessoa não estará mais na sua vida. É quase sintoma de ansiedade. Tenho futuro, preciso continuar vivendo e a pessoa não está mais na minha vida. Já fazia terapia, acho importante continuar, me ajudou muito, e chegou o ponto de achar que eu precisava de ajuda psiquiátrica, meu psicólogo concordou. Tem processo de luto que é mais fluido, mais tranquilo, mas pode ter processo de luto com obstáculos e vocÊ pode não aguentar, é você sozinha. É válido, essencial, procurar ajuda”.
Diferença de idade, mas não de amor
Fernanda e Erasmo se casaram em 2019. Os dois tiveram 12 anos de relacionamento. Pedagoga, ela era uma grande fã do roqueiro e já disse em entrevistas que foi ela quem deu o primeiro passo no relacionamento: “Fui eu que o conquistei. Tenho na minha cabeça que gosto dele desde que tenho 5 anos de idade. Quando eu o conheci, olhei pra ele e disse que precisava falar algo: ‘Eu te amo’. E ele respondeu: ‘Ah, comecei a te amar agora’”.
Em entrevista ao EXTRA em 2020, Erasmo Carlos falou das críticas com relação à diferença de 49 anos de idade entre eles. “Descarrego no meu Imposto de Renda. Sigo sem tornar pública minha vida particular e sorrio normalmente quando me perguntam. Jamais fico irritado com essas coisas. Somos vacinados contra isso”, disse ele, que teve três filhos.