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Ao assumir Planejamento, Simone Tebet conta ter ressaltado a Lula discordâncias na economia e diz que divergências somam na democracia

Ministra afirma que este é um "governo do PT e da frente ampla"

_ Quando abri minha boca para agradecer (ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo convite para virar ministra) e dizer para o presidente que havia algum equívoco porque disse a ele: “mas presidente, nessa pauta, ministro Haddad e ministro Alckmin e ministra Esther, nós temos divergências econômicas”. Ele simplesmente me ignorou como quem diz: “é isso que eu quero, porque eu sou um presidente de democrata e um presidente democrata não quer apenas os iguais, quer os diferentes para se somar”. Porque é assim que se constrói uma nação soberana, justa e igual para todos.

Ela iniciou seu discurso dizendo que este é o governo “do PT e da frente ampla”:

— Gratidão é a palavra que gostaria que ficasse registrada como a primeira que sai da minha boca, mas especialmente do meu coração e da minha alma nesse momento. Gratidão a deus por viver esse momento, ao presidente Lula pela confiança absoluta por entregar a mim uma das pastas mais importantes e relevantes do seu governo, do nosso governo, do governo do PT e da frente ampla.

Terceira colocada na corrida presidencial em 2022 representando a terceira via, foi aliada importante para a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno e coordenou os trabalhos na área social durante a transição. Apesar de ter sido cotada para a pasta do Desenvolvimento Social, acabou na área econômica para ser um contraponto mais liberal em relação a outros nomes como o de Fernando Haddad (Fazenda) e Esther Dweck (Gestão).

Em seu discurso de posse, ao lado de diversos colegas, Tebet reforçou que tem pensamento “discordante” do PT nos temas econômicos, mas ela disse que Lula a convidou para o ministério justamente para isso, pois governo democrático tem que ter pessoas que pensam diferente. Tebet disse que foi surpreendida com o convite para o ministério do Planejamento, porque esta é uma área em que ela tem divergências em relação ao PT:

― A minha surpresa foi dupla. Primeiro porque fui escolhida para ser ministra, um pedido do presidente. Segundo que parei em uma pauta que tenho algumas divergências. Tenho total sinergia na pauta social e de costumes. Fui parar na área econômica.

Como chefe do Planejamento, Tebet vai comandar as decisões em torno do Orçamento do governo federal e também a gestão de importantes empresas públicas, como o IBGE e o Ipea. Tebet disse que está guardando a ‘sete chaves’ os nomes de seus secretários, mas que já definiu cerca de 70% da equipe. Entre os principais cargos estão as presidências do IBGE e Ipea e as secretarias de Orçamento, Planejamento e uma nova para avaliação de políticas públicas. Ela publicamente convocou o Tribunal de Contas da União (TCU) a indicar um nome de seus quadros, com experiência em contas “spending review” para fazer parte do time.

Ela defendeu, em seu discurso, uma atuação conjunta com outros ministérios:

— Seremos alicerce, como base de suporte para todos os ministérios, o que significa diagnósticos bem elaborados, objetivos bem definidos, metas factíveis, estratégias condizentes com fontes garantidas de financiamento, seja no orçamento público ou por meio de parcerias com a iniciativa privada, bem como avaliações periódicas que retroalimentem todas as outras fases.

Tebet defendeu a responsabilidade fiscal em seu discurso:

— Nós vamos cuidar dos gastos públicos. Aí se verá o nosso lado firme, austero, mas conciliador. Conciliaremos as necessidades e prioridades estabelecidas por cada ministério, estabelecidas dentro das ordens de Lula, com os recursos disponíveis. Recursos públicos e parcerias, que serão construídas dentro do Programa de Parcerias de Investimento (PPI).

A nova ministra do Planejamento afirma que não há espaço para erros:

— O cobertor é curto. Não temos margem para desperdícios ou erros. Definidas as prioridades por cada ministério, caberá ao Ministério do Planejamento, em decisão técnica e política com as demais pastas econômicas e com o presidente Lula, o papel de enquadrá-las dentro das possibilidades orçamentárias — disse Tebet. — Comungamos com a visão do ministro da fazenda, Fernando Haddad, da necessidade premente de cuidar dos gastos públicos e da aprovação urgente de uma reforma tributária, para garantirmos menos tributos sobre o consumo, um sistema tributário menos regressivo, com simplificação e justiça tributária. Somente assim teremos o crescimento necessário para garantir emprego e renda de que o Brasil necessita.

Tebet desceu para a cerimônia acompanhada do vice, Geraldo Alckmin. Atrás, caminhava o ministor da Fazenda, Fernando Haddad. A economista Elena Landau, que coordenou a parte econômica da campanha à presidência da emedebista, também acompanhava. Estão presentes na cerimônia o ex-presidente José Sarney, as ministras Sônia Guajajara (Povos Indígenas) e Marina Silva (Meio Ambiente).

Da equipe econômica de Haddad, o secretário especial de reforma tributária, Bernard Appy, está no local. Entre os parlamentares, o senador Paulo Rocha (PT-PA), os deputados Isnaldo Bulhões (líder do MDB) e Reginaldo Lopes (PT-MG).

Para isso, trabalhará com muita proximidade com Haddad, em um quadro peculiar: se as divergências entre os chefes da Fazenda e Planejamento são comuns, nesta gestão ganham mais relevância porque ambos são presidenciáveis e farão o possível para ganhar projeção em suas atividades, de olho nas eleições de 2026.

Perfil

Simone Tebet ganhou ainda mais projeção nacional após o bom desempenho na disputa presidencial de 2022. Senadora, ela teve destaque durante a CPI da Covid, em que contestou com veemência medidas do governo federal, entre elas o atraso na compra das vacinas contra Covid-19.

Primeira líder da bancada feminina no Senado, que foi criada em março de 2021, também foi a primeira mulher a disputar a Presidência do Senado, em fevereiro do ano passado. Ela perdeu a disputa para o atual presidente da Casa, Rodrigo Pacheco.

Tebet é descendente de libaneses e filha do ex-ministro Ramez Tebet, morto em 2006. Seu pai foi governador de Mato Grosso do Sul, senador e presidente do Senado, além de ter comandado a pasta da Integração Nacional na Esplanada.

Ligada ao agronegócio em seu estado, foi deputada estadual, prefeita de Três Lagoas por dois mandatos e vice-governadora. Ela votou a favor do impeachment de Dilma Rousseff, em 2016.

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