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Marieta Severo: ‘Posso estar toda enrugada, mas quero meus neurônios funcionando’

Marieta é dura na queda. Ao mesmo tempo, sabe se levantar como poucos. Aos 75 anos, depois de um tsunami de dor e incertezas que foram 2020 e 2021 – em sua vida íntima, no Brasil e no mundo –, uma das maiores atrizes do país diz que o que a mantém firme é a certeza de que pode contar com si mesma

Os dois últimos anos foram um mergulho no abismo para Marieta Severo. Há, no entanto, quem diga que ela nunca esteve por lá. Apesar dos pesares – e eles são muitos: a pátria amada desgovernada, o companheiro de vida acamado por causa de um AVC, a cultura e os artistas jogados às traças –, Marieta exala um ânimo apaixonado por todos os poros. “Tenho uma força natural que me foi doa­da pela vida. Uma capacidade de ir em frente. Esse é um terreno interno muito bom, e conto com ele”, diz a atriz em uma videochamada de sua casa na Gávea, Zona Sul do Rio de Janeiro, cidade onde nasceu, cresceu, construiu família e uma intensa carreira, aplaudida com furor.

Além dessa força natural, ela conta que o trabalho funciona como um motor de desejo e ação. Vó Noca, da atual novela das 9, Um Lugar ao Sol, foi uma dessas personagens que resgataram Marieta. “Falo e repito: a ficção não só revela a gente e o país, como salva. Ter a vó Noca para fazer durante esse período duro da minha vida foi um presente.”

Para 2022, o trabalho continua sendo sua bússola. Há pouco, Marieta terminou as filmagens de Domingo à Noite. Com direção de André Bushatsky, o filme conta a história de um casal de artistas – interpretados por ela e Zécarlos Machado – que precisa lidar com o Alzheimer.

Marieta ri “para não chorar”. “Essa coisa de a vida imitar a arte e a arte imitar a vida”, tenta justificar. Agora que sua casa abriga “quase uma unidade de terapia intensiva”, viver uma atriz que corre contra o tempo para não perder a lucidez, ao mesmo tempo que cuida do marido acamado, beira o cômico. Explica-se: em junho de 2020, o diretor de teatro Aderbal Freire-Filho, seu companheiro há quase 20 anos, sofreu um acidente vascular cerebral quando o casal estava em Petrópolis passando uns dias com as netas de Marieta. Até o acontecido, os dois viviam um casamento em lares separados. “Estamos pela primeira vez morando juntos, mas nessa condição difícil e dolorosa. Rezo para que consiga recuperar algo da vida dele e da nossa.”

Entrevista do mês Marieta Severo (Foto: ARQUIVO PESSOAL)

Com o atual marido, o diretor de teatro Aderbal Freire-Filho (Foto: ARQUIVO PESSOAL)

Aderbal chegou à vida de Marieta depois do casamento de mais de 30 anos dela com o cantor e compositor Chico Buarque, com quem teve as três filhas, SílviaHelena e Luísa. Ela conta que na primeira união, que durou dos 20 aos 50 anos, ela e Chico cresceram e aprenderam a olhar para o mundo juntos. “Tudo que a gente é tem um pouco do outro.” A outra relação é “a da maturidade”, continua. “O amor maduro, em que cada um já teve sua história.”

Outro assunto que tem rondado a vida de Marieta é o etarismo. Em novembro, ela completou 75 anos. Para a nova idade, e por causa de uma soma de pandemia mais vó Noca, deixou os cabelos embranquecerem. O país, de um dia para o outro, a percebeu velha. Marieta sabe disso e responde que pouco se importa de ficar “toda enrugada”; o que lhe interessa são os neurônios “todos funcionando”.

Aqui, Marieta fala ainda da importância do Teatro Poeira (parceria entre ela, Aderbal e a atriz Andréa Beltrão) em sua trajetória artística e dos ataques que sofre desde a eleição de Jair Bolsonaro. Compara a angústia de agora com a que viveu na ditadura; sugere que a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos sossegue e declara seu voto nas eleições presidenciais de 2022 em Lula. “Sempre votei e continuarei votando.”

Entrevista do mês Marieta Severo (Foto: ARQUIVO PESSOAL E JOÃO COTTA/TV GLOBO)
Marietinha, como era chamada, aos 3 e 5 anos (Foto: ARQUIVO PESSOAL)

Entrevista do mês Marieta Severo (Foto: ARQUIVO PESSOAL E JOÃO COTTA/TV GLOBO)
Com o então marido Chico Buarque e as filhas Sílvia e Helena (Foto: ARQUIVO PESSOAL)

MARIE CLAIRE Quero relembrar uma entrevista sua para o jornal O Globo em agosto de 2021 em que disse “nunca senti uma angústia cívica tão profunda”. Essa entrevista viralizou. Por que seu sentimento refletiu tanto nas pessoas?
MARIETA SEVERO
 Aí a gente vai ter que ver todos os lados. Não sou frequentadora da internet, não tenho rede social. Nunca quis entrar e não sinto falta. Mas sei o suficiente para entender que essa frase pode ter viralizado com sentidos opostos e sinais trocados, porque tudo está assim. Pessoas devem ter se identificado comigo, com a minha dor. E pessoas podem ter dito coisas horrorosas e usado isso para me atacar. Então, nunca quero me aprofundar na repercussão da internet porque os ataques que já me chegaram são cruéis. E sempre me dão trabalho, a ponto de eu contratar advogado. Aliás, quando atacaram a minha família foi que falei: “Parou, preciso de um advogado”.

MC Conseguiu processar os agressores?
MS
 Não só processar como ganhar. É claro que tem todos os recursos, em todas as instâncias. E se trata de um dinheiro que, para mim, não é legal porque é fruto de uma dor. Aquilo me feriu profundamente, fiquei mal. Sei que tenho uma família muitíssimo correta. Tenho o maior orgulho de ter criado seres humanos voltados para os melhores valores morais.

MC Chegou a receber ameaças ou foram injúrias?
MS
 Injúrias. Foi há mais tempo isso, talvez uns dois anos. Ainda não estávamos nesse período das ameaças como agora fizeram com a Anvisa, por exemplo. A verdade é que estamos galgando patamares cada vez piores, terríveis e violentos, nos quais as pessoas estão indo para territórios que, para mim, são proibidos, que são violência física e ameaça. É assustador. E o pior é que está ficando normal. Porque amanhã virá outra barbaridade que fará a gente esquecer a de hoje. A maior parte da nossa população passa por um massacre diário. Estou falando principalmente da fome, da carência total que as pessoas estão passando. A gente está vivendo debaixo dessa incompetência generalizada. Nada funciona, é um país parado. Porque os cargos são distribuídos por critérios que não são os da eficiência.

“Falar que a esquerda brasileira é radical? Não tem radicalismo de esquerda aqui. Tem é de direita”

Marieta Severo

MC Esses ataques, se você disse que faz uns dois anos, foram ali perto da eleição do Bolsonaro. Estou certa?
MS
 Sou ruim à beça para data, mas talvez sim. Foi bem quando começou a polarização. Ou a manipulação da polarização. Porque acho que isso é colocado de uma maneira não só equivocada, como usada de propósito. Falar que a esquerda brasileira é radical? Não tem radicalismo de esquerda aqui. Tem é de direita.

MC A sua vida e carreira colocaram você nesse lugar de musa da esquerda. Isso direcionou os ataques que recebeu?
MS
 Mas com toda a certeza. Porque nunca existiu – não existe, nem existirá – nada na minha vida passível de ataque. Mas interessa à extrema direita tachar e diminuir as pessoas. Essa extrema direita fascista que está no poder deixou claros os seus planos, o que pretende e pensa. Antes, era mais nebuloso esse sistema apoiado por parte da elite econômica brasileira. Agora, as pes­soas sabem exatamente com quem estão lidando e o que estão apoiando. Elas não podem mais dizer: “Oh, mas eu não sabia que ele era assim”. Como não? Tudo estava sendo dito, colocado, demonstrado. A pessoa fala o que ela é, a palavra nos define. Então, quando você está fechando com essa extrema direita, com o que está fechando, o que está apoiando? O que mais me corrói não é lidar com uma ideologia econômica, mas com um atraso violento, com posições retrógradas em todos os sentidos. Posições racistas, homofóbicas, contra os direitos das mulheres. Um presidente é um cidadão no mundo. Quando ele estimula a violência, o racismo, o preconceito, ele abre portas para o que de pior existe dentro das pessoas.

MC Você expõe os seus posicionamentos publicamente. Pensando nesses ataques direcionados à sua família, já se questionou se vale a pena falar o que pensa?
MS Olha, vivo de arte, a minha vida inteira foi dedicada à arte. A cultura é praticada por seres humanos. E nós somos seres humanos no mundo. Então, o que tenho que fazer? Tenho que cuidar do mundo. Não é que seja arte engajada, arte com mensagem, não é isso. Quero abrir as portas do engrandecimento do ser humano por meio da quebra de todos os preconceitos, do respeito à posição de cada um. Então, não consigo agir de outra forma. E tem outra coisa: em 1964 eu tinha 18 anos. Era impossível você não se posicionar quando sabia que o seu grande amigo que era líder estudantil tinha sido preso e torturado. Fui criada dentro desse sistema horroroso que é a ditadura. Todo mundo que eu conhecia era contra, e os militares a favor. Tanto que tenho um pé atrás com militar até hoje. Não eles nas funções deles, mas na vida política. Me desculpem todos, mas aprendi isso na carne e no coração, e pelo medo. Do medo de todo dia que Chico saía com minhas filhas. A gente recebia uma cartinha em casa no fim do ano: “No próximo ano, você é o primeiro”. As ameaças eram constantes. Mas nós fomos saudáveis, no sentido de não deixar isso entrar dentro da nossa casa.

MC Mas chegou uma hora em que vocês se exilaram.
MS
 Foi. A gente saiu do país em janeiro de 1969. Eu estava grávida de sete meses, primeira gestação. Meu médico disse: “Você pode ficar 20 dias fora e voltar, não pode ser mais do que isso”. O bebê era para abril. Enfim, não fui com enxoval nem nada. Mas aí a gente começou a receber recados de: “Não voltem”. Você desarmado e o que fala pra não voltar com canhão, metralhadora e tanque. Não teve jeito. Ficamos em Roma e Silvinha nasceu lá. Eu emagreci 6 quilos em 15 dias. Não conseguia comer. Imagine: primeiro filho, tudo arrumadinho, e eu precisando viver essa experiência num país estrangeiro.

Entrevista do mês Marieta Severo (Foto: ARQUIVO PESSOAL E JOÃO COTTA/TV GLOBO)
Recebendo o Prêmio Shell de Melhor Atriz, em 1990 (Foto: ARQUIVO PESSOAL E JOÃO COTTA/TV GLOBO)

Entrevista do mês Marieta Severo (Foto: ARQUIVO PESSOAL E JOÃO COTTA/TV GLOBO)
No camarim, preparando-se para encenar Torre de Babel (Foto: ARQUIVO PESSOAL E JOÃO COTTA/TV GLOBO)

MC Você engravidou aos 21. Sempre quis ser mãe?
MS
 Mas sempre! Fico lembrando que, quando eu e Leila [Diniz, atriz] ficamos amigas – eu tinha 18 e ela, 21 –, a gente ficava deitada ouvindo música e pensando que íamos ter muitos filhos, mas que não importavam os pais. Seria uma comunidade, bem típico da nossa geração.

MC Teatro, cinema, TV… você tem uma carreira intensa. Trabalhou e se mantém trabalhando muito. Ao mesmo tempo, teve três filhas. Quero ouvir sobre isso de conciliar a carreira com a maternidade. Abriu mão de alguma coisa?
MS
 A gente trabalhava em teatro de terça a domingo. Fazíamos duas sessões quinta, duas sábado e duas domingo. Quando penso hoje, vejo que isso roubou o tempo da minha família sim. É claro que eu procurava compensar de alguma maneira. Vejo que fui na vida muito mais formiguinha do que cigarra.

MC Me explica isso?
MS
 Não sou aquela que fica cantando até chorar. A minha geração é boêmia, e eu não ficava no bar. Ou estava trabalhando, ou estava com minhas filhas.

Entrevista do mês Marieta Severo (Foto: ARQUIVO PESSOAL E JOÃO COTTA/TV GLOBO)
(Foto: ARQUIVO PESSOAL)

MC E o Chico?
MS
 O Chico você pergunta para ele.

“Dela pode espernear, pode ver Jesus onde ela quiser. Não adianta, Damares, sossega. As mulheres vão adiante, queira você ou não”

Marieta Severo

MC Mas, digo, vocês tiveram um casamento de 30 anos. Como era a divisão dentro de casa com o cuidado das filhas?
MS
 A grande maravilha do feminismo é que deu para o homem um outro lugar dentro de casa. Eles ganharam, porque é exaustivo, mas delicioso, estar com o bebê. E agora eles participam disso. Fico comovida quando vejo a maneira como as novas gerações estão colocando na prática o que para nós eram teorias. Por outro lado, me desespera estarmos sob uma Damares  – vamos dar o nome –, que quer acabar com esses direitos todos e retroceder. Mas não adianta, ela pode espernear, pode ver Jesus onde ela quiser. Não adianta, Damares, sossega. As mulheres vão adiante, queira você ou não.

MC Mesmo quando falamos da descriminalização do aborto? É uma pauta que a gente não vê evoluir. A Argentina conseguiu legalizar em 2020, mas no Brasil o que se tem é projeto de lei para retroceder no que já foi garantido. Acredita que veremos a descriminalização do aborto no Brasil?
MS A sua geração sim. A minha não. Eu teria que viver 110 anos. O que me dá essa esperança lúcida é crer que as forças da liberdade e as do direito do ser humano são mais poderosas do que as retrógradas.

MC Você ficou mais de 30 anos com o Chico e com o Aderbal está há quase 20. É uma mulher de relações duradouras. Quais são as benesses de uma relação de tanto tempo?
MS
 Nenhum relacionamento dura 30 anos se não for com amor. Nem amizade. Ninguém constrói nada verdadeiro sem amor. Amor é o que justifica tudo, é o que amortece tudo. Desde o amor à pátria, esse cordão umbilical, até o amor à vida. Sobre os meus casamentos: um foi dos 20 aos 50. Então, fomos duas pessoas que se formaram juntas, cresceram juntas, olharam para o mundo juntas. Tudo que a gente é tem um pouco do outro. Isso é lindo e inestimável. A outra relação é a da maturidade, em que cada um já teve a sua história. Aderbal também foi casado por 30 anos, teve também uma relação superbonita. Sou grata a ele pela maneira como entrou na minha vida e respeitou a minha história, a minha construção. Ao fato de como a gente construiu uma relação próxima e unida morando separado.

MC Foi você quem sugeriu que morassem separados?
MS 
Foi meio natural isso. O Aderbal tinha essa vontade. Eu estava separada havia seis anos e tinha construído o meu espaço. Já tinha o meu armário só para mim, não dava mais para botar nenhum sapato de homem ali [ri].

MC Ele está contigo agora? Como está evoluindo?
MS
 Agora ele está morando comigo. A vida é muito doida, né? Tenho quase uma unidade hospitalar montada em casa. Eu que cuido dele, e tudo bem. É muito difícil, muito. Aderbal teve um AVC hemorrágico. É um touro, tem uma capacidade de lutar contra isso muito grande, mas as limitações também são muito grandes.

MC Qual o prognóstico? Há esperanças de que ele melhore?
MS
 Esperança eu tenho sempre. Mas vou dizer que já tive muito mais. O AVC já tem um ano e meio, foi em 2020, no dia 23 de junho, o dia da fundação do [Teatro] Poeira. Estávamos em Nogueira com as minhas netas. Ele estava ótimo, feliz, criando, escrevendo. Dizia que não precisava mais tomar Rivotril para dormir.

MC É por isso que disse para O Globo que os dois últimos anos foram os mais difíceis de sua vida?
MS
 Sim. Como cidadã desse país e do mundo, sofri diariamente. Perdemos pessoas queridas, todos nós. Tive covid. Não fui entubada, mas fui internada. E foi solitário, ninguém pode se aproximar de você. E, claro, teve o Aderbal, meu parceiro de vida. Ver a pessoa que você ama não podendo se comunicar é muito cruel.

“Tenho uma força natural que me foi doada pela vida. Uma capacidade de ir em frente. Nunca acordei de mau humor. Esse é um terreno interno muito bom, e conto com ele”

Marieta Severo

MC E o que você faz para se cuidar? Diante do estresse, da angústia e das dificuldades, como você escoa essas coisas?
MS
 Falo e repito: a ficção não só revela a gente e o país, como salva. Ter a vó Noca para fazer durante esse perío­do duro foi um presente, uma mão que me carregou. Porque ela é uma personagem cheia de positividade, que passou por coisas terríveis e conseguiu superar. No mais, o que me define é a resiliência. Tenho uma força natural que me foi doada pela vida. Uma capacidade de ir em frente. Nunca acordei de mau humor. Esse é um terreno interno muito bom, e conto com ele. Sempre trabalhei minhas questões, a vida inteira. Fiz 20 anos de análise junguiana. Depois, tem a ginástica, que recomendo para todo mundo. Faço de segunda a sexta, com a mesma professora, há 27 anos.

MC E sua relação com a espiritualidade, no que acredita?
MS 
Um amigo dizia que tenho uma relação sagrada com a vida. Guardei isso pra mim, acho que ele tem razão. Fui criada e batizada na igreja presbiteriana, mas nunca segui. Meu pai era ateu, meu avô, espírita, e minha mãe, protestante. Acabei perdendo três amigas preciosas ainda muito jovens. Leila [Diniz, atriz], Nara [Leão, cantora] e Dina [Sfat, atriz]. Digo que são as minhas três santas. Qualquer coisa que aconteça, penso nelas.

Entrevista do mês Marieta Severo (Foto: ARQUIVO PESSOAL E JOÃO COTTA/TV GLOBO)
Com Andréa Beltrão, em A Dona da História (Foto: ARQUIVO PESSOAL E JOÃO COTTA/TV GLOBO)

MC Os seus cabelos, agora brancos, também viraram notícia. O que isso diz sobre ser mulher e envelhecer no Brasil?
MS 
Mas isso é mais uma conquista enorme, não? Porque se fala agora de etarismo, isso não existia anos atrás. Você ficava velha e dane-se.

MC Você falou de botox cerebral numa entrevista para a TV Cultura há alguns anos. Disse que é o botox que lhe interessa, que sua grande preocupação não são as rugas.
MS
 É verdade. Meu grande temor é perder as faculdades mentais, aí a vida acaba. Claro que me cuido, passo cremes. Faço laser para tirar as manchas porque sou uma pessoa do sol. Mas o que desejo é lucidez e inteligência. E olha que eu disse isso muito antes de acontecer o que aconteceu com Aderbal… Posso estar toda enrugada, mas quero os meus neurônios todos funcionando. Porque aí invento a minha vida. E vou dizer: eu, com 30, 40 anos, não me preocupava com velhice. As mulheres de agora, nessa idade, aplicam botox em ruga que talvez venha. Jovens, olhem-se menos no espelho, pelo amor de Deus. Tenho certa preocupação em como serão os egos. Fico vendo as crianças, os adolescentes, e penso: o que vai acontecer na vida dessas pessoas que ouvem o tempo todo que são maravilhosas e incríveis?! A vida é feita de aprovações e desaprovações. Lidar com frustrações é importante. Tenho a impressão de que não há mais espaço para frustração. Tem uma frase do Saramago que digo para jovens mães: as crianças crescem nas sombras. Hoje em dia, não existe mais sombra. É tudo iluminado, mostrado e insuflado. Como é que a vida vai continuar com esse tapete vermelho constante? Estou falando de uma classe social, tá? Porque a maioria não tem nem internet para estudar.

MC Qual é o grande orgulho da sua carreira, o projeto ou a personagem que mais estima?
MS 
O grande projeto da minha vida artística é o Tea­tro Poeira. É onde sinto que a minha vida artística teve um sentido. Me preocupo com a experiência que as pessoas vão ter indo ao Poeira, que alguma semente tenha ficado nelas. Saber que umas 300 mil pessoas estiveram lá, que 166 peças passaram por ali, que fizemos não sei quantas oficinas… Isso para mim é o maior sentido da minha vida artística.

MC Há algo na sua carreira de que se arrependa?
MS
 Nada. Eu tenho uma intuição, um critério de escolha que nem é muito consciente. Isso me guiou e me levou a escolher as coisas certas.

MC O que espera das eleições de 2022? Está otimista?
MS
 Acho que as pessoas estão com uma consciência maior. As pesquisas já estão dizendo que elas vão votar melhor.

MC Já tem o seu candidato?
MS
 Claro que tenho, sempre votei no Lula e continuarei votando. Nunca fui filiada a partido nenhum. Mas, quando foi criado o PT, intuí, lá mesmo na minha tenra idade, que era importante existir um partido que lutasse pelos direitos do trabalhador. Porque a força das oligarquias, desse sistema todo senhorial, no Brasil sempre existiu e é poderosa.

MC Qual é o seu desejo para 2022?
MS
 Fora Bolsonaro. E não é só fora Bolsonaro, é fora Bolsonaro e o bolsonarismo.

Entrevista do mês Marieta Severo (Foto: Elisa Mendes)

Marieta Severo (Foto: Elisa Mendes)

Fonte: Marie Claire

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