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Refugiados da guerra, casal sírio encontrou em Campo Grande a chance de recomeçar a vida

Casal de engenheiros por formação viu na comida árabe uma oportunidade de prosperar nas terras campo-grandenses

A Guerra da Síria, que teve início há 11 anos, com a Primavera Árabe, resultou em um intenso fluxo migratório.

Desde 2011, mais de 12 milhões de sírios tiveram de deixar suas casas em busca de uma vida mais segura. Esse é o caso do engenheiro elétrico Wasin Adoloy, 41 anos, que encontrou em Campo Grande refúgio e oportunidade de recomeçar.  Há sete anos na Capital, Wasin, que é da região de Sweida, na fronteira da Síria com a Jordânia, relata que decidiu sair do país após perder um irmão em um bombardeio.

Sem falar nenhuma palavra de português, Adoloy aprendeu o novo idioma conversando com os clientes do restaurante de comida árabe que abriu com o objetivo de trazer para o País sua então noiva, Ruba Al Naddaf, 30 anos, que havia permanecido na Síria.

“Demorou para trazer a Ruba por conta da dificuldade inicial em juntar dinheiro. Quando o trabalho e o salário melhoraram, a Polícia Federal me ajudou no processo de imigração dela, mas, primeiro, permaneci sozinho no Brasil por dois anos”, afirma.

De Damasco, Ruba relata que o período em que eles ficaram separados foi de muita tristeza e incertezas, pois a autorização para um sírio sair do país e ser aceito por outra nação não era fácil.

“Foi um período muito difícil, nenhum país queria os sírios, só o Brasil estava concedendo os vistos. O Wasin tentou o visto após o irmão dele morrer em um bombardeio na guerra, e a mãe dele o aconselhou a sair do país para qualquer lugar que o aceitasse, com medo de perder mais um filho”, pontua.

Ruba destaca ainda que sempre incentivou que Wasin buscasse um lugar mais seguro para viver, pois, se ele permanecesse na Síria, seria obrigado a entrar de forma direta no conflito armado.

“A situação já estava muito perigosa, se ele ficasse em nosso país, seria obrigado a ir para o exército e lutar na guerra. Ele, então, foi até o consulado do Brasil no Líbano pedir um visto”, explica.

Conforme Ruba, o contato com a família hoje é mantido pelas redes sociais. “Agora mantemos o contato com a família que ficou por meio do WhatsApp. Minha mãe todos os dias fala comigo, ela chora de saudade e pede para ver a minha filha, Joy, que tem 3 anos e 8 meses e já nasceu em Campo Grande”, relata.

Ruba comenta, ainda, que hoje é a filha que os ajuda com a língua portuguesa. “No começo, eu não sabia falar nenhuma palavra de português e tinha muito medo, por não conseguir me comunicar. O Wasin sempre me deixa aqui na frente do restaurante para conversar com os clientes, sempre me incentivando a aprender e me abrir mais para esse novo idioma. Eu hoje já entendo tudo, e a minha filha, que fala muito bem o português, fica às vezes nos corrigindo e nos ensinando”, salienta.

OPORTUNIDADE

O casal de engenheiros por formação viu na comida árabe uma oportunidade de prosperar nas terras campo-grandenses.

“Graças a Deus os brasileiros têm muito interesse em nossa comida, bem como na comida japonesa, italiana e de outros países. O Wasin gosta de comida, e quem gosta sabe fazer. Hoje, felizmente, já temos os nossos clientes fiéis. Nós fazemos a comida aqui da mesma forma que fazíamos na Síria”, explica Ruba.

A empresária destaca que a esfiha original, carro-chefe da casa, difere um pouco do tempero que os campo-grandenses estão acostumados.

“Eu comi a esfiha daqui e, em muitos lugares, eles colocam limão, salsa, essa não é a esfiha árabe tradicional, como nós fazemos. A nossa esfiha só leva pimenta, tomate e cebola. Até os clientes percebem e comentam que o sabor da comida aqui é diferente de tudo o que eles já provaram”, frisa Ruba.

ACOLHIMENTO

Desde o início do processo de imigração até a chegada a Capital de Mato Grosso do Sul, Ruba salienta que o acolhimento do povo brasileiro é o que mais conquista os sírios.

“Eu gostei muito do povo brasileiro, eu não encontrei ninguém que não tenha sido carinhoso conosco, que não tenha nos ajudado, isso você não encontra em outros países. Na Europa, os sírios sofrem muito com a forma como são tratados, ninguém gosta do nosso povo lá. E isso não acontece aqui, sempre fomos muito bem recebidos”, frisa.

SAIBA

O restaurante do casal fica na Rua Marechal Rondon, 2.230, no centro de Campo Grande.

 

Fonte CE.

Redação Gdsnews.

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