No domingo, brasileiros fizeram uma manifestação em apoio ao presidente Bolsonaro, em frente à embaixada do Brasil, na Piazza Navona, em Roma Foto: Lucas Ferraz/Especial para O GLOBO
Os agentes agrediram repórteres com socos e empurrões, tomaram o celular de um deles e seguraram insistentemente as mochilas dos profissionais para tentar impedir que eles registrassem o passeio de Bolsonaro por uma das principais ruas do centro histórico da capital italiana.
Agentes italianos, cedidos pelo governo local, anfitrião do G-20, dão apoio à segurança de Jair Bolsonaro desde que ele desembarcou no país, na última sexta, dia 29.
Perguntas a Bolsonaro
A imagem não mostra o momento do soco, por causa da confusão. Antes, o presidente havia sido hostil com o trabalho do repórter, como mostra o diálogo a seguir:
Leonardo: “Presidente, presidente. O cara tá empurrando, gente. Presidente, por que o senhor não foi de manhã no encontro do G-20?”
Bolsonaro: “É a Globo? Você não tem vergonha na cara….”
Leonardo: “Oi, presidente, por que o senhor não foi de manhã nos eventos do G-20?”
Bolsonaro: “Vocês não têm vergonha na cara, rapaz.”
Leonardo foi empurrado.
Leonardo: “Ei, ei, ei… o que é isso, tá maluco?”
Um jornalista do UOL afirmou que foi tentar filmar a violência contra os colegas e tentar identificar o agressor, mas o segurança o empurrou, o agarrou pelo braço para torcê-lo, e levou o celular. Instantes depois, o segurança jogou o aparelho num canto da rua.
Jornalistas da Folha de S. Paulo e da BBC Brasil também foram empurrados e ameaçados.
No sábado, policiais italianos já tinham ameaçado jornalistas brasileiros que tentavam acompanhar o passeio de Bolsonaro pelas ruas próximas à embaixada, uma região sempre repleta de turistas. Um deles foi Lucas Ferraz, que está trabalhando na cobertura do G-20 para o jornal O GLOBO.
A ação contra os jornalistas no início da noite deste domingo (hora de Roma) também atingiu acidentalmente apoiadores do presidente. Uma senhora que usava adereços da bandeira brasileira e gritava palavras de apoio a Bolsonaro foi jogada no chão pelos seguranças.
Os jornalistas começaram a perguntar ao presidente por que os seguranças estavam agredindo os profissionais. Ele parou, conversou um minuto com um dos agentes e decidiu retornar para a embaixada. A caminhada não durou mais de dez minutos.
Boletim de ocorrência
Ao contrário dos demais líderes dos países presentes na cúpula do G-20, Jair Bolsonaro não deu declarações à imprensa sobre a participação brasileira na cúpula, a primeira presencial desde o início da pandemia.
A Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência não tinha informações sobre a agenda do presidente e sobre temas discutidos nas reuniões do evento. Procurada sobre as agressões, a Secom não se manifestou.
Os jornalistas agredidos vão registrar um boletim de ocorrência sobre o episódio.
Presidente brasileiro e sua comitiva andaram pelas ruas da capital italiana após a abertura do G-20
Globo repudia violência
A TV Globo divulgou comunicado em que repudia a violência cometida contra os jornalistas. Leia a íntegra:
“A Globo condena de forma veemente a agressão ao seu correspondente Leonardo Monteiro e a outros colegas em Roma e exige uma apuração completa de responsabilidades.
Quem contratou os seguranças? Quem deu a eles a orientação para afastar jornalistas com o uso da força? Os responsáveis serão punidos? A Globo está buscando informações sobre os procedimentos necessários para solicitar uma investigação às autoridades italianas.
No momento, ficam o repúdio enfático, a irrestrita solidariedade a Leonardo Monteiro e demais colegas jornalistas de outros veículos e uma constatação: é a retórica beligerante do presidente Jair Bolsonaro contra jornalistas que está na raiz desse tipo de ataque.
Essa retórica não impedirá o trabalho legítimo da imprensa. Perguntas continuarão a ser feitas, os atos do presidente continuarão a ser acompanhados e registrados. É o dever do jornalismo profissional. Mas essa retórica pode ter consequências ainda mais graves. E o responsável será o presidente”.