Selminha Sorriso fala sobre a expectativa de viver Chica da Silva no cinema: ‘A história é muito bonita’

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Se o objetivo do cineasta Lula de Oliveira é misturar ficção e realidade contando uma mesma história no filme “Zumbi – Quilombo dos Palmares” em épocas diferentes, ele fez a escolha ideal. Selminha Sorriso, há 25 anos porta-bandeira da Escola de Samba Beija-flor de Nilópolis, é como se fosse a lendária e guerreira Chica da Silva, escrava alforriada no século 18 e retratada em filmes de época no século 21. Sargento do Corpo de Bombeiros, bacharel em direito cursando pós-graduação em Gestão na Uerj, viúva e mãe de um jovem de 19 anos, Selminha foi escolhida para interpretar Chica no longa.

Ao sorriso inigualável de Selminha poderão surgir outras expressões. E ela está preparada para o que vier. As gravações com a porta-bandeira, em duas grandes fazendas de Alagoas, começam no dia 6 de agosto, mesmo em meio à pandemia da Covid-19. Selminha vai interpretar Chica da Silva no século 21.

— Sou uma Chica da Silva da atualidade. Comecei a estudar em 2000, fiquei grávida e mesmo assim não parei de estudar. Minha mãe tinha acabado de falecer três meses antes da minha colação de grau. Sou a primeira da minha família a se formar. Isso em 2005. Fiquei viúva eprecisei me reinventar. Além de ser porta-bandeira da Beija-flor há 25 anos, hoje sou uma atleta fazendo crossfit há três anos — conta Selminha sobre sua história de vida mais recente.

O filme é composto de seis histórias contadas por personagens que surgem em suas respectivas histórias documentais e de ficção. Em cada história separada e ao mesmo tempo entrelaçada o filme apresenta temas de discussão sobre o preconceito racial no Brasil e no mundo. seus personagens atuam na época da escravidão e nos momentos atuais ao mesmo tempo.

— Selminha é show de bola! Ela vai dar um banho estrondoso! O que eu puder fazer para ela, até para que ela atue em uma novela das 9, eu vou fazer. As gravações já estão em ritmo acelerado e pretendemos finalizá-las até o dia 10 de agosto. Já retomamos as gravações, depois de pararmos por causa da pandemia em março, há 25 dias. Estamos em Alagoas gravando com todos os procedimentos que determina a OMS e outras instituições de saúde. Tem dado um resultado maravilhoso. Estamos realmente retomando a produção nacional de cinema — conta o diretor:

— A novidade do filme é a inovação da linguagem. Há 40 anos, Cacá Diegues dirigiu dois longas-metragens. Agora é a vez do encontro do documental com a ficção. Estou levando parte da história do século 21para os séculos passados do Brasil colonial, onde o espectador vai presenciar tudo o que aconteceu para fazer uma comparação com este século.

Selminha está empolgada com o filme e lembra que já atuou em peças de teatro e em filmes. Atualmente, ela produz lives sobre o trabalho de porta-bandeira às segundas, quartas e sextas-feiras, às 19h.

— A história é muito legal, muito bonita. No meio da pandemia, eu nunca poderia imaginar que iria receber a missão de interpretar a mulher brasileira e, não só isso, uma mulher negra, valente, forte, que conduz o lar, que educa a filha, cuida do marido, que trabalha, que ajuda no sustento da família, que está sempre bonita, sempre cheirosa e que ainda estuda, trabalha e dá conta de tudo. Ela ainda precisa estar linda para manter um casamento saudável — enumera.

A responsável pela presença de Selminha no longa é sua amiga e produtora do filme, Danielle Dias.

— Tanto eu quanto Selminha estamos num grupo de carnaval. Eu faço a live “Conversando com Dani”. Chamei-a no privado e a convidei. Falei com meu diretor e ele achou ótimo. Ela foi até a produtora, fez um teste de elenco e passou. Já a conheço e sou encantada por ela há muito tempo —comentou.

O elenco tem 32 profissionais. O lançamento está previsto para dezembro no Cine Odeon. O filme vai estrear simultaneamente em 13 Estados, segundo Danielle. Ela também comentou sobre os precauções adotadas contra a contaminação pelo novo coronavirus.

— As fazendas Serra da Barriga e Chão Preto são lugares extremamente enormes, totalmente abertos, sem risco de aglomerações.

O diretor do filme diz que este momento importante, de retomada da produção do cinema nacional.

— São seis histórias, uma interligada com a outra. Espiritualistas mesmo e misturamos a ficção com a realidade documental. O mais importante é verificar que o cinema nacional está parado. Em workshops, jovens não souberam me dizer nomes de dois cineastas brasileiros — lamentou o diretor Oliveira.