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Zema sugere ‘vista grossa’ de governo Lula com ato golpista em Brasília

Governador de Minas Gerais enfatizou suposição sem provas de que atual gestão federal buscou que o "pior acontecesse" para posteriormente "se fazer de vítima"; ministro da Secom critica uso de 'teoria da conspiração'

Marlen Couto
O Globo
Rio de Janeiro – Aliado do presidente Jair Bolsonaro (PL), o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), sugeriu nesta segunda-feira, sem apresentar provas, que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez “vista grossa” para o risco de depredação de prédios públicos, em Brasília, com o objetivo de que “o pior acontecesse e ele se fizesse posteriormente de vítima”. Zema, que chegou a se reunir com Lula e outros governadores após o ato golpista, admitiu se tratar de uma “mera suposição” e defendeu uma investigação. Como argumento, o governador mineiro citou a atuação do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que foi, na sua avaliação, “previamente comunicado e não se mobilizou”.

– Me parece que houve um erro de uma direita radical, que, lembrando, é uma minoria. E houve um erro também, talvez até proposital, do governo federal, que fez vista grossa para que o pior acontecesse e ele se fizessem posteriormente de vítima. É uma mera suposição. Mas as investigações é que vão apontar se foi isso mesmo que aconteceu ou não, porque o que se demostrou naquele domingo foi uma lerdeza gigantesca de quem está ali para poder defender as instituições — afirmou Zema em entrevista à Rádio Gaúcha.

A declaração de Zema gerou reação do governo Lula. Pelas redes sociais, o ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta (PT), afirmou que o governador lança mão de uma “teoria da conspiração”.

“Não contribui o governador de um estado importante como MG fazer insinuações sem base, tentando culpar a vítima, com teoria da conspiração que levou muitos golpistas a ventilar fake news sobre “infiltrados” e coisas desse tipo. Queremos diálogo sério pela reconstrução do Brasil”, postou.

O GSI é alvo de desconfiança do entorno de Lula. Como mostrou O GLOBO, dos 80 integrantes de cargos de confiança que compõem o órgão, apenas sete foram exonerados desde a posse do petista — menos de 10% do total. A avaliação de ministros do governo é que os militares responsáveis por zelar pela sede do Poder Executivo foram ineficientes durante os atos terroristas sem precedentes na história do país.

Críticas a Moraes

Na entrevista, Zema também criticou a atuação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e citou como exemplos o afastamento do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), e o recente bloqueio de contas de políticos e influenciadores nas redes sociais, no âmbito das investigações sobre os ato golpista. O governador declarou que o afastamento de Ibaneis “foi prematuro, desnecessário e injusto”. Na decisão, tomada no âmbito do inquérito dos atos antidemocráticos, Moraes afirmou que Ibaneis teve uma “conduta dolosamente omissiva”.

— Eu julgo que, em várias ações que ele (Moraes) tem feito, realmente ele tem excedido. Uma delas, na minha opinião, é o afastamento do governador do Distrito Federal, que pode até ter tido algum erro, mas não é motivo para você simplesmente afastá-lo do cargo. Quem de nós que não tem erro? E se teve erro com certeza teve erro também do Gabinete de Segurança Institucional, que é do governo federal — declarou Zema.

Ao ser questionado sobre o bloqueio do perfil do deputado federal eleito Nikolas Ferreira (PL-MG), Zema saiu em defesa do parlamentar:

— O direito de se manifestar, de não concordar sempre é legítimo numa democracia. Estamos assistindo a uma arbitrariedade gigante na minha opinião. Uma coisa é desinformação, invasão, quebra-quebra. Os culpados precisam ser punidos. E outra coisa é você ter uma posição diferente.

O governador citou a necessidade de uma separação entre quem participou dos atos golpistas em Brasília de manifestações “ordeiras” e que “não afetam o direito de ir e vir”:

— Confundir um cidadão de bem com um depredador é um erro gravíssimo. Que se prenda, que se puna, exemplarmente, aquelas pessoas que fizeram essa depredação, o vandalismo que condeno totalmente. Agora, você estender isso para aqueles que estão se manifestando de forma ordeira, de forma que não afeta o direito de ir e vir de ninguém é uma situação muito distinta. Estão confundindo alho com bugalhos.

Zema também foi questionado sobre a reunião com Lula e outros governadores em Brasília após o ato. Ele argumentou que a defesa da democracia une o governo federal e os estados, apesar de ter discordâncias com o governo do petista.

— Essa reunião foi simbólica. Não foi para decidir nada. Não foi deliberativa. Teve o único e exclusivo objetivo de repudiar aquilo que aconteceu. Isso deixa claro que, no momento de defendermos a democracia, tanto governo federal quando governadores estamos unidos. A democracia é um grande patrimônio e, apesar da minha discordância com vários pontos desse atual governo federal, eu defendo a democracia. Estive lá para condenar esses atos, que são deploráveis, e não para apoiar o governo federal ou as medidas que o Supremo tem adotado — enfatizou.

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