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Ítala Nandi, a Madeleine da primeira versão de ‘Pantanal’, fala da morte da personagem após pedir para sair da novela: ‘Benedito não me perdoou até hoje’

Ítala Nandi interpretou Madeleine na versão original de “Pantanal”<b> </b>e, de certa forma, contribuiu para o desfecho trágico da personagem num acidente aéreo, mantido na adaptação atual. A morte dela não estava prevista na sinopse, mas foi a alternativa encontrada pelo autor, Benedito Ruy Barbosa, após a atriz pedir para deixar o elenco da novela.

Ítala conta que sair de “Pantanal” foi uma das decisões mais difíceis de sua carreira. O motivo foi uma inesperada oferta de patrocínio do governo da Índia para o projeto de um documentário que ela havia desenvolvido: “Índia – o caminho dos deuses”.

– Eu dediquei 15 anos da minha vida no roteiro daquele documentário. Muito antes de a novela começar, eu enviei uma proposta para a Embaixada da Índia pedindo um patrocínio para fazê-lo. Aí o tempo passou, e eu nem estava mais pensando nisso. Durante as gravações da novela, eles toparam financiar o projeto, desde que ele fosse produzido até o final daquele ano. Eu fiquei numa situação muito complicada, mas não tinha como aceitar – explica.

Ela conta que enfrentou uma grande pressão para que não deixasse a novela:

– A minha família foi totalmente contra. Eles queriam que eu continuass. Eu também amava fazer “Pantanal”. Quando fui conversar com o Jayme Monjardim (diretor), fui aos prantos. O Benedito, por quem eu tenho um enorme respeito e admiração, não aceitou bem. Ele não me perdoou até hoje por isso. E eu entendo, porque na sinopse original a Madeleine teria uma história muito bonita. Ela seria resgatada com vida e desmemoriada do acidente pelo Velho do rio e passaria por uma grande transformação, para no fim reencontrar o José Leôncio. A minha saída impediu que ele desenvolvesse essa história. Até por isso fiquei muito surpresa por eles terem mantido o desfecho agora no remake.

Ela comenta que logo depois viajou para a índia e não acompanhou o restante da novela:

– Quando eu voltei para o Brasil, já tinha acabado. Eu só fiquei sabendo que tinha sido um sucesso avassalador. Só consegui assistir mesmo anos depois, quando ela foi reprisada no SBT.

A atriz completa 80 anos no próximo dia 4. Parte das comemorações será no palco. Por conta disso, ela confessa que não tem conseguido acompanhar a nova versão de “Pantanal”. Ítala estreou nesta quinta-feira (26), em Porto Alegre, o espetáculo “Paixão viva”, solo em que faz um resumo dos seus 65 anos de carreira. Entre os momentos marcantes, está o espetáculo “Na selva das cidades” (1969), do Teatro Oficina, em que protagonizou o primeiro nu frontal feminino do teatro brasileiro. Ela tinha 25 anos.

– Na época, eu não sabia que nunca tinha ocorrido um nu frontal feminino nos palcos brasileiros. Essa cena não existe no texto original do Bertolt Brecht. Foi uma sugestão minha e acho que foi muito pertinente para a personagem. Eu acredito que amor e nudez têm uma entidade em comum e quis colocar isso na minha personagem. Antes da estreia, fizemos a apresentação para a censura da ditadura e aprovaram. Não imaginava que teria toda a repercussão que teve – diz.

Ela ressalta que sofreu muitas represálias por conta do ato, inclusive dentro da sua própria família.

– Alguns tios não deixavam meus primos falarem comigo. Era uma época em que havia uma mentalidade de que ser atriz era ser puta. E eu sempre fui muito libertária e lutei contra isso. Não aceitava o fato de uma mulher ser julgada pelas suas escolhas enquanto os homens não passavam por isso.

Fonte: Patricia Kogut

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