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Ministério Público diz que procurador agrediu chefe em SP com vontade de matá-la: ‘sempre buscou a cabeça’

Promotores falaram, na sede do Ministério Público, em São Paulo, sobre o caso. Demétrius Oliveira de Macedo terá 10 dias para apresentar sua defesa prévia.

Os promotores Daniel Godinho e Ronaldo Muniz falaram, no fim da manhã desta quinta-feira (30), sobre o caso da procuradora Gabriela Samadello, que foi agredida pelo colega de trabalho Demetrius de Macedo, que está preso. A denúncia partiu do Ministério Público (MP) e foi aceita na última terça-feira (28) pela Justiça de São Paulo. Segundo os promotores, o agressor desferiu socos na mulher com a intenção de matá-la.

Os promotores falaram, na sede do Ministério Público, em São Paulo, sobre os indícios que embasaram a denuncia e sobre o tempo de pena que o réu está sujeito em caso de condenação pelo Tribunal do Júri. Para eles, a tentativa de homicídio está bem demonstrada.

“O vídeo não retrata o episódio integral. O vídeo é um registro do ataque violento a partir de um momento em que ele já estava em curso. Já havia violência antes do vídeo começar. A intensidade dos golpes, a recorrência dos golpes, o local do golpes, a região vital do corpo, demonstram, ao nosso ver, a vontade de matar”, afirmou o promotor Daniel Godinho.

“O vídeo é uma fração das agressões sofridas pela vítima. O relato dos colegas que viram é de que se inicia com uma gravidade ainda maior, sempre buscando a cabeça, uma região vital, como é claro, e ele não consegue”, diz o promotor Ronaldo.

Segundo ele, as testemunhas tiveram uma dificuldade extrema para conter o agressor. “Uma delas inclusive foi agredida, no âmbito dele continuar na sua intenção de matar a vítima. Só depois de muito esforço é que essas servidoras, essas testemunhas, conseguem salvar a vida da vítima, trancando ela em uma sala para que ele não tivesse acesso”, conta.

Prisão

Segundo Muniz, o poder judiciário reanalisará a cada 90 dias cada pedido que a defesa realizar. “Primeiro, o Ministério Público se manifesta, depois o juiz realmente reanalisa a prisão. Teria que ter alguma alteração de ordem dos fatos que nós narramos”.

O promotor enfatiza que, para o Ministério Público, a alternativa de soltura do réu não se mostra presente. “Enquanto há esse cenário de uma vítima que corre risco, de testemunhas que correm risco, na visão do Ministério Público, não há a mínima possibilidade de que ele seja solto”.

Os promotores também falaram que o curso natural do processo é o julgamento perante o Tribunal do Júri. “Existe uma fase preliminar dentro do poder judiciário mesmo, essa fase preliminar contará com uma audiência em que as pessoas serão ouvidas. A própria vítima também será ouvida e depois dessa fase preliminar é que haverá a remessa do caso ao Tribunal de Júri. Essa é a nossa expectativa”, disse Godinho.

Demétrius foi preso em hospital psiquiátrico em São Paulo — Foto: Arquivo Pessoal; Polícia Civil

Demétrius foi preso em hospital psiquiátrico em São Paulo — Foto: Arquivo Pessoal; Polícia Civil

Casos de violência contra a mulher

Muniz ressalta que casos de tentativa de feminicídio e agressões violentas contra a mulher ocorrem diariamente e todos eles são tratados com a mesma seriedade pelo Ministério Público. No caso da procuradora, o vídeo trouxe ainda mais evidências das agressões.

“A vontade do agente é caracterizada no vídeo plenamente. Vai em direção à cabeça da vítima, joga uma testemunha contra uma porta, mostra ali toda a sua agressividade, mostra que se não tivesse ninguém naquele local, ele iria encerrar aquilo que começou. O vídeo é importante, mas nós temos a total clareza e conhecimento de que isso acontece todos os dias e não é filmado”, explica Muniz.

Tentativa de feminicídio

A decisão é do juiz Raphael Ernane Neves, da 1ª Vara de Registro. O acusado recebeu o prazo de 10 dias para apresentar sua defesa prévia.

No documento da denúncia, obtido pelo g1, o MP retratou a ocorrência como “evidente intento homicida”, ou seja, Demétrius tentou matar a procuradora-geral do município, Gabriela Samadello Monteiro de Barros. O ato, ainda segundo o órgão, apenas não foi concretizado por “circunstâncias alheias à vontade do agente”.

Em um trecho da decisão, a Justiça de São Paulo, por sua vez, considerou que o “Ministério Público apresentou descrição suficiente dos fatos criminosos relacionados à ofensa à integridade corporal”.

  1. Quem é a vítima?

A mulher agredida é Gabriela Samadello Monteiro de Barros, de 39 anos. Ela é procuradora-geral de Registro, no interior de São Paulo, e a procuradora chefe do agressor. Gabriela estava no local de trabalho quando sofreu a agressão.

  1. Quem é o agressor?

Demétrius Oliveira Macedo, de 34 anos, também é procurador de Registro. O autor das agressões já havia apresentado comportamento suspeito e sido grosseiro com outra funcionária do setor, conforme relatado por Gabriela à polícia civil.

  1. O que motivou a agressão?

A procuradora havia cobrado providências sobre o episódio de grosseria contra uma funcionária, pois ela estava com medo de trabalhar no mesmo ambiente que Macedo e enviou um memorando à Secretaria Administrativa com uma proposta de procedimento administrativo.

Na segunda-feira (20), foi publicada no Diário Oficial do município a criação de uma comissão para apurar os fatos. Provavelmente, segundo Gabriela, foi isso que desencadeou as agressões.

  1. Quais os detalhes da agressão?

O caso aconteceu na tarde de segunda-feira (20), por volta das 16h50, na sala da procuradoria geral do município, dentro da prefeitura. A ação filmada por outra funcionária mostra que Macedo desferiu socos e chutou a colega, que estava trabalhando quando foi surpreendida pelo ataque.

Segundo consta no Boletim de Ocorrência (BO), ele a agrediu primeiro com uma cotovelada na cabeça e continuou com socos no rosto. A procuradora informou ter tentado se defender e, inclusive, recebeu ajuda de uma funcionária, que foi empurrada contra a porta e bateu as costas na maçaneta.

Livre para continuar as agressões, Macedo continuou dando socos e chutes, mesmo com outras duas funcionárias tentando contê-lo. Em determinado momento, Gabriela conseguiu ser retirada da frente do agressor.

Também é possível ouvir no vídeo que ele ofende a procuradora várias vezes. Assim que ouviram os gritos, dois funcionários do setor jurídico foram até o local e conseguiram controlar o procurador.

  1. Quais as declarações da vítima?

Gabriela afirmou que temia uma revolta de Macedo contra ela. “Eu tinha medo, sim. Tinha medo de que fosse acontecer isso, mas não imaginava que fosse ser uma violência física, achava que fosse um ‘bate boca’, uma discussão”.

A procuradora também afirmou que se sentiu desrespeitada diante das agressões. “Foi exposta a minha dignidade. Como mulher, fui desrespeitada, assim como servidora pública. Enfim, foi um desrespeito global da minha personalidade como mulher”, desabafou.

Agora, Gabriela quer que Macedo seja processado em decorrência das agressões e ofensas contra ela.

  1. O que o agressor disse à polícia?

Demétrius Oliveira Macedo disse à polícia civil que sofria assédio moral no local de trabalho. “Ele admitiu que agrediu a vítima e alegou que assim o fez por sofrer assédio moral”, afirmou Fernando Carvalho Gregório, delegado do 1º Distrito Policial do município, em entrevista à TV Tribuna, afiliada à Rede Globo.

  1. O agressor será exonerado?

Como medida imediata para punir a agressão, a prefeitura de Registro publicou no Diário Oficial Nº 1076, a portaria Nº 525/2022, determinando a suspensão preventiva de Macedo.

Conforme descrito nos atos oficiais, o procurador ficará suspenso por 30 dias, sem receber salário, a contar desde o dia 21 de junho, data da agressão.

De acordo com a explicação da prefeitura, essa medida faz parte do processo administrativo que deve cominar na exoneração de Macedo. “É necessário seguir essa etapa e os tramites legais para que a decisão seja tomada de maneira consistente”, esclareceu.

  1. O que diz a prefeitura? A administração municipal, por meio de nota, manifestou “mais absoluto e profundo repúdio aos brutais atos de violência”.”Reafirmamos nosso compromisso com a prevenção e enfrentamento a todas as formas de violência, principalmente aquelas que vitimizam mulheres. Os servidores da Procuradoria Geral Municipal e da Secretaria de Negócios Jurídicos receberão todo apoio necessário, inclusive acompanhamento psicológico”, escreveu.

    A administração municipal disse ainda aos demais servidores: “recebam nosso amparo e saibam que a prática de violência é veementemente repudiada e será severamente punida”.

    1. O que diz a Associação Nacional dos Procuradores Municipais?

    A Associação Nacional dos Procuradores Municipais (ANPM) afirmou em nota que se solidariza com a Procuradora Municipal e repudia a conduta violenta de Macedo.

    “A vítima foi agredida por razões ligadas ao exercício do cargo enquanto o agressor, ao que tudo indica, agiu motivado por um intuito criminoso. A ANPM reafirma seu compromisso de conscientização, prevenção e enfrentamento ao assédio no âmbito da advocacia e a todas as formas de violência praticadas contra a mulher”.

     

    Fonte G1.

    Redação Gdsnews.

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