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“Campo Grande deve ser a 1ª capital a passar dos 90% de rede de esgoto”.

Presidente da Águas Guariroba diz que a capital de Mato Grosso do Sul deve antecipar meta contratual, fechar o ano com 94% de alcance e atingir critério de universalização da rede de esgoto

Campo Grande começou este ano com 89,6% de cobertura da rede de esgoto e, se tudo ocorrer conforme as projeções do diretor-presidente da Águas Guariroba, Themis de Oliveira, a concessionária deve encerrar 2024 com 94% de cobertura, muito perto da meta contratual, que é de 98% de alcance até 2029.

Segundo os critérios do marco legal do saneamento, a universalização da rede de esgoto deve ser atingida neste ano, já que é preciso 90% de cobertura para que um município tenha esse status.

Se tudo ocorrer conforme o planejado, Campo Grande deve ser a primeira cidade do Brasil com alcance universal da rede de esgotamento sanitário.

“Devemos atingir este índice neste ano. Provavelmente será a primeira capital do Brasil a chegar neste nível”.

– Como está a cobertura de saneamento básico em Campo Grande?

Em Campo Grande, quando nossa concessão começou, no ano 2000, a cidade tinha 50% de acesso ininterrupto à água tratada e 29% de acesso à rede de esgoto.

É bom destacar que a distribuição de água, lá atrás, era intermitente em alguns bairros, por isso o índice tão baixo naquela época, uma vez que ela não chegava em todos os bairros, a cobertura não atingia toda a cidade.

Hoje, depois de muito trabalho e investimento, o cenário é bem diferente. Há muitos anos que o serviço de distribuição de água é universalizado, o que significa que fornecemos água para toda a cidade 24 horas por dia.

É claro que, ocasionalmente, seja por manutenção, seja por algum problema na rede, pode haver um interrompimento pontual no fornecimento por algumas horas, mas a cidade tem serviço de abastecimento de água tratada universalizado.

Já o serviço de esgoto, que é mais caro do que produzir e distribuir água, vem avançando. Se começamos a concessão com pouco menos de 30% de alcance, hoje, nosso serviço alcança 89,6% de cobertura no município.

E toda essa área da cidade é atendida por esgoto coletado, transportado e tratado.

“A economia de recursos públicos em saúde é na veia com a ampliação da rede de esgoto. Para cada real investido em saneamento básico, reduz-se em R$ 4 os gastos em saúde pública. Temos estudos que comprovam isso”.

– Como funciona o tratamento de esgoto, só para explicar melhor para as pessoas?

Pois bem, aquela “mágica” de dar uma descarga na sua casa e tudo sumir, na verdade, tem um percurso feito em uma rede. Essa rede transporta o material para um lugar, e o transporte é feito por gravidade.

Depois, é bombeado até um ponto mais alto, e o transporte continua por gravidade até chegar em uma estação de tratamento e ser devolvido para os córregos e rios. E, claro, tudo limpo, porque a gente não compromete o meio ambiente.

– Você poderia falar mais sobre os números de 2023?

Olha, no ano passado, tínhamos um plano de fazer em torno de 150 quilômetros de nova rede, mas terminamos o ano incorporando mais 230 km.

Atendemos 22 mil novas famílias, e elas tiveram acesso ao sistema de esgoto.

– Quais serão os investimentos futuros?

Queremos deixar isso tudo resolvido, até porque o marco legal do saneamento determina que 90% da cidade deve ter esgoto coletado, transportado e tratado para o serviço ser considerado universal.

Devemos atingir este índice neste ano de 2024. Provavelmente será a primeira capital do Brasil a chegar neste nível. Em nosso orçamento, neste ano temos mais 180 km de rede previstos, mas eu quero que passe de 200 km.

Portanto, acredito que chegaremos a 94% de cobertura neste ano, antecipando o marco legal em nove anos. E ainda estamos com uma forte tendência de cumprir a nossa meta contratual, que é de 98% de esgoto tratado, antes do prazo estipulado, que é até 2029.

– Além dos benefícios sanitários, existem outros benefícios da expansão da rede de esgoto?

Sim, no geral, são muitos benefícios que proporcionamos. Uma coisa que poucos sabem é que isso mexe até mesmo com o mercado imobiliário.

Em algumas regiões, a simples conexão da casa na rede coletora de esgoto valoriza o imóvel entre 20% e 30%. Mas vai muito além disso, nós também levamos dignidade para as famílias.

– Esgoto também reduz gasto público em saúde?

A economia de recursos públicos em saúde é na veia. Para cada real investido em saneamento básico, reduz-se em R$ 4 os gastos em saúde pública.

Temos estudos que comprovam isso. A queda de doenças de veiculação hídrica, como algumas infecções, é automática quando se investe em saneamento, isso é matematicamente comprovado.

– Quais foram os investimentos em capacidade de fornecimento de água, uma vez que, no início da década, a cidade passou por problemas de abastecimento em função da estiagem e, agora, enfrenta a questão das mudanças climáticas?

As mudanças climáticas impactam o País inteiro, o continente todo. Elas afetam todo o planeta. Quem acompanha o noticiário sabe, por exemplo, o que ocorreu na Amazônia no ano passado, quando alguns rios praticamente secaram.

Então, não há como não dizer que as mudanças climáticas são uma realidade. Acredito que as mudanças climáticas devem ser trabalhadas pela sociedade como uma questão de emergência ambiental, uma questão de sobrevivência da espécie humana, e na perspectiva regional, não é diferente.

Essas mudanças também afetam o abastecimento. Há quatro anos, tivemos a estiagem mais longa da história de Campo Grande. Tivemos alguma dificuldade [no abastecimento], mas conseguimos superá-la rapidamente. E fizemos 11 novos poços, um projeto vigoroso de investimento, com R$ 50 milhões investidos.

Campo Grande tem uma riqueza hídrica gigante. Além dos mananciais, onde a captação é superficial, que são os córregos Lajeado e Guariroba, nós temos ainda o subsolo, o Aquífero Guarani, o segundo maior aquífero do mundo.

Ele passa aqui em Campo Grande, em Mato Grosso do Sul. Particularmente, ele passa muito fundo, a partir de uns 500 metros de profundidade, e por isso as obras de engenharia para os poços são difíceis de serem feitas.

Perfil

Themis de Oliveira

Themis de Oliveira é geólogo, formado pela Universidade de Brasília. Tem 30 anos de experiência nos setores de saneamento e infraestrutura.

Foi diretor de Expansão da Companhia de Saneamento do Estado de Mato Grosso (Sanemat), diretor-geral da Sanear/Rondonópolis (MT) e assessor técnico principal (ATP) do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) em Mato Grosso. Também foi chefe do Departamento de Monitoria do Programa de Desenvolvimento Agroambiental (Prodeagro-MT), financiado pelo Banco Mundial. Está na Aegea Saneamento desde 2017.

Nós tivemos várias dessas obras e conseguimos aumentar substancialmente a capacidade de produção. Criamos um colchão de tranquilidade em termos de produção para a cidade, e isso nos fez passar tranquilamente pela onda de calor do ano passado.

Vou dar um dado: o recorde de produção de água em nossa concessão foi na onda de calor do ano passado, 306 mil metros cúbicos.

No pico daquela seca de quatro anos atrás, nosso pico era de 280 mil m³. E mais: se na onda de calor do ano passado precisássemos aumentar a produção para 315 mil m³ ou 325 mil m³, por exemplo, atenderíamos tranquilamente.

– E já que falamos de estoque de água e de mudanças climáticas, como é a atuação ambiental da Águas Guariroba?

Trata-se de um conjunto de ações, porque o que nós produzimos é água tratada, e o resíduo, que é o esgoto, a gente também trata e devolve para a natureza. São bens essenciais que precisam ser tratados.

Em nossas duas bacias de captação, Lajeado e Guariroba, temos a do Lajeado como a mais difícil de ser protegida, por causa da expansão urbana.

É uma bacia que a cidade alcançou, sofre a influência de novos loteamentos e tem uma presença humana muito próxima. Mas, ainda assim, trabalhamos constantemente reflorestando nascentes, limpando córregos e ajudando os proprietários das áreas dessa bacia a protegerem suas nascentes.

No caso da Guariroba, como ela está mais longe da cidade, cerca de 35 km de distância, ainda não sofre a pressão da ocupação humana.

Um trabalho da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul [UEMS] na Bacia do Guariroba detectou um aumento de 4% de guariroba nos últimos anos, a partir de ações de recuperação de mata ciliar.

Para fazer isso, há muitos anos criamos uma iniciativa muito importante, que é um grande viveiro de mudas, o maior de Mato Grosso do Sul.

No ano passado, nós fornecemos mais de 60 mil mudas para fazer reflorestamento nas nascentes de áreas degradadas, que são de interesse da cidade para a produção de água. Este ano, estamos ampliando o viveiro para produzir 100 mil mudas.

– Conte-nos como é o projeto para levar saneamento a todas as escolas públicas?

É um projeto que começou no ano passado, depois que constatamos que 111 escolas públicas estaduais e municipais não tinham acesso à rede de esgoto [todas têm acesso à rede de água].

Fizemos uma programação para privilegiar essas escolas, para colocar a interligação dessas escolas na frente. Emblematicamente, começamos pela do Quilombo Tia Eva. Lá existem duas escolas, uma estadual e uma municipal, uma ao lado da outra.

E temos um dado interessante: nessa lista de escolas, incluímos até mesmo escolas rurais. Começamos pela escola do Aguão.

Para ela, compramos um sistema modular e, hoje, é a primeira escola do Estado que tem seu sistema de esgoto completamente tratado.

Com um detalhe: é um processo que não gera resíduo, porque o esgoto tratado é injetado no solo e irriga uma horta da própria escola.

“No ano passado, nós fornecemos mais de 60 mil mudas para fazer reflorestamento nas nascentes de áreas degradadas, que são de interesse da cidade para a produção de água. Este ano, estamos ampliando o viveiro para produzir 100 mil mudas”.

 

Fonte CE.

Redação Gdsnews.

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